“Não se consegue tratar doentes sem medicamentos e não se consegue ter acesso aos medicamentos no hospital sem os serviços farmacêuticos, com os farmacêuticos no número adequado, com empenho adequado e a trabalhar com as condições adequadas”, afirma o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Helder Mota Filipe, citado num comunicado hoje divulgado.
As declarações de exclusão de responsabilidade apresentadas pelos farmacêuticos hospitalares da ULSVDL foram entregues na segunda-feira ao conselho de administração demissionário, “denunciando o desinvestimento nos serviços farmacêuticos e a falta de recursos humanos, de manutenção de equipamentos e infraestruturas”, que, de acordo com os signatários, “comprometem seriamente a qualidade e a segurança das atividades que desenvolvem”.
Na quinta-feira, o conselho de administração da ULSVDL pediu a demissão por “manifesta quebra de confiança política” da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, na “atual equipa do órgão de gestão” da unidade, na sequência das declarações da governante em sede de audição parlamentar, em que afirmou que as lideranças em saúde são “fracas”.
Em resposta à demissão do conselho de administração da ULSVDL, na terça-feira, a ministra da Saúde disse que foi mal-interpretada na declaração que fez sobre lideranças fracas na saúde, explicando que as suas palavras não se referiam aos administradores hospitalares, mas a toda a cadeia de liderança.
Segundo a OF, nos últimos dois anos, quase um terço dos farmacêuticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) entregaram declarações de exclusão de responsabilidade.
No caso dos farmacêuticos hospitalares da ULSVDL, os profissionais de saúde descrevem “várias limitações materiais e de recursos humanos, que se verificam há vários anos nos serviços farmacêuticos” da unidade e que são do conhecimento do conselho de administração, sem que tenham sido tomadas quaisquer ações para resolver ou mitigar a situação.
“Os farmacêuticos não aceitam esta ‘inércia’ dos responsáveis do hospital, que se tem vindo a desresponsabilizar pela omissão de atos que lhe incumbe praticar”, salienta a OF, indicando que recebeu as declarações de exclusão de responsabilidade e solicitou esclarecimentos ao conselho de administração sobre as atividades desenvolvidas nos serviços farmacêuticos hospitalares.
No comunicado, o bastonário da OF manifesta “extrema preocupação” com as limitações descritas pelos farmacêuticos, que podem condicionar o bom exercício da profissão e o serviço prestados aos utentes da ULS de Viseu Dão-Lafões, referindo que a situação “é comum em várias outras unidades do SNS”.
Helder Mota Filipe sublinha ainda que a situação que se vive em muitos serviços farmacêuticos do SNS é “muito, muito complicada”.
Ao longo dos últimos dois anos, “mais de duas centenas de farmacêuticos de quase 20 unidades de saúde do SNS apresentaram declarações de exclusão de responsabilidade”, revela a OF, explicando que os profissionais de saúde alegam falta de condições materiais e de recursos humanos para desenvolver a atividade com a qualidade e a segurança que o acesso a uma tecnologia de saúde requer.
LUSA/HN
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