A juíza reformada Heather Hallett, que lidera a investigação em curso, disse que em 2019 o Governo britânico acreditava que era um dos países mais bem preparados do mundo para um surto e teria antecipado, erroneamente, que ocorreria uma pandemia da gripe (influenza).
“Esta crença estava perigosamente errada”, disse Hallett ao divulgar esse primeiro relatório.
“Na realidade, o Reino Unido estava mal preparado para lidar com a emergência civil de uma pandemia em todo o sistema e, ainda menos, com a pandemia do novo coronavírus que realmente atingiu” todo o mundo, declarou.
A pandemia da covid-19 foi responsável por mais de 235.000 mortes no Reino Unido até ao final de 2023 – um dos maiores números de mortes no mundo.
“O relatório de hoje confirma o que muitos sempre acreditaram, que o Reino Unido estava mal preparado para a covid-19 e que o processo, o planeamento e a política em todas as quatro nações falharam com os cidadãos do Reino Unido”, disse o primeiro-ministro Keir Starmer, referindo-se à Inglaterra, à Irlanda do Norte, à Escócia e ao País de Gales.
“A segurança do país deve ser sempre a primeira prioridade e esse Governo está empenhado em aprender as lições trazidas pela investigação e em implementar melhores medidas para nos proteger e nos preparar para o impacto de qualquer pandemia futura”, afirmou Starmer.
O primeiro relatório da investigação de três anos centrou-se apenas na preparação para a ocorrência de uma pandemia.
Uma segunda fase analisará a resposta do Governo – incluindo o escândalo do “partygate”, no qual o então primeiro-ministro Boris Johnson e a sua equipa quebraram as regras impostas ao organizarem festas – está prevista para mais tarde.
Uma terceira fase analisará as lições que podem ser retiradas da forma como o país lidou com a crise. A investigação deverá manter o seu trabalho até 2026.
Heather Hallett descobriu que a ultrapassada estratégia de 2011 para uma pandemia de gripe não foi flexível o suficiente para se adaptar a uma crise de saúde que estava a acontecer cerca de uma década depois, tendo sido abandonada quase imediatamente.
“Houve falhas estratégicas fatais que sustentaram a avaliação dos riscos enfrentados pelo Reino Unido (…)”, disse Hallett.
Também houve falta de foco no que era necessário para lidar com uma doença de transmissão rápida e não foi feito o suficiente para criar um sistema para testar, rastrear e isolar pacientes infetados.
Hallett disse, no seu relatório de 217 páginas, que o Reino Unido precisa de estar melhor preparado para a próxima pandemia – que poderá ser ainda mais mortal.
“O Reino Unido enfrentará novamente uma pandemia que, a menos que estejamos melhor preparados, trará consigo imenso sofrimento e enormes custos financeiros e os mais vulneráveis da sociedade serão aqueles que mais sofrerão”, avisou.
Hallett recomendou que uma nova estratégia para pandemias fosse desenvolvida e testada a cada três anos, e que o Governo e os líderes políticos fossem responsáveis pela implementação de sistemas de preparação e resiliência. A responsável também afirmou que especialistas externos deveriam ser utilizados para prevenir “o conhecido problema do pensamento de grupo”.
“A menos que as lições sejam aprendidas e que mudanças fundamentais sejam implementadas, esse esforço e custo terão sido em vão quando se trata da próxima pandemia”, sublinhou Hallett.
“Nunca mais se poderá permitir que uma doença cause tantas mortes e tanto sofrimento”, acrescentou.
LUSA/HN
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