Transformação digital e gestão integrada: O futuro dos sistemas nacionais de saúde

25 de Setembro 2024

Está a decorrer hoje, em Lisboa, O Portugal Healthcare Summit, um evento organizado pela Fundação Bamberg (Espanha) e pela Fundação Luso-Espanhola, este ano dedicado ao tema: “Efficiency and Effectiveness of Integrated Health Systems. The key for success”. O evento, que reúne especialistas de Portugal e Espanha para debater os desafios comuns e potenciais soluções para melhorar a prestação de cuidados de saúde nos dois países ibéricos.

Destaca-se a comunicação de Alberto de Rosa, Presidente do Grupo Sanitário Ribera, um grupo espanhol com mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de modelos de parceria público-privada (PPP) na área da saúde, que atualmente gere a única PPP existente em Portugal: o Hospital de Cascais. Na sua comunicação, De Rosa compartilhou insights valiosos sobre os desafios enfrentados pelos sistemas de saúde em Portugal, Espanha e Reino Unido, destacando a necessidade urgente de transformação e adaptação às necessidades da sociedade moderna.

De Rosa iniciou sua apresentação enfatizando que os problemas enfrentados pelo sistema de saúde português são muito semelhantes aos observados na Espanha e no Reino Unido. O especialista citou um recente relatório elaborado por uma comissão independente nomeada pelo Parlamento britânico, liderada por Patricia Hewitt, que fez um diagnóstico do NHS (National Health Service) do Reino Unido. O orador ressaltou as muitas coincidências e desafios comuns entre os três países, que compartilham um modelo similar de Sistema Nacional de Saúde (modelo de Beveridge).

“Estamos enfrentando desafios globais”, afirmou De Rosa, “embora cada país tenha suas particularidades, há problemas fundamentais que são compartilhados”. De Rosa, destacou que a pandemia de COVID-19 agravou muitas questões que já existiam anteriormente, criando uma situação crítica que demanda ação imediata.

Entre os principais desafios mencionados pelo especialista estão:

  • Cuidados de Saúde Primários sobrecarregados e com problemas de resolução;
  • Envelhecimento da população;
  • Aumento da cronicidade de certas doenças;
  • Escassez de profissionais de saúde;
  • Longas listas de espera para atendimento e procedimentos;

De Rosa enfatizou que o cerne do problema está no fato de que os atuais Sistemas Nacionais de Saúde foram projetados para uma sociedade e uma população que já não existem mais. “Temos um Sistema Nacional de Saúde burocratizado e pouco flexível, que tem dificuldades em responder às necessidades atuais da sociedade”, explicou.

O especialista argumentou que o sistema foi originalmente concebido para atender uma população mais jovem, com doenças predominantemente agudas. No entanto, a realidade atual é de uma sociedade mais envelhecida, com necessidades assistenciais diferentes e uma prevalência maior de doenças crónicas. Isso exige uma mudança fundamental na forma como o sistema de saúde é organizado e gerido.

 

Para enfrentar esses desafios, De Rosa propôs uma abordagem integrada focada em três áreas principais:

Gestão Clínica: Avançar para um modelo de gestão de saúde populacional (Population Health Management), adotando uma abordagem proativa, preventiva, preditiva, participativa e personalizada. Isso implica tratar o cidadão de forma holística, integrando cuidados primários, hospitalares e até mesmo serviços sociais.

Recursos Humanos: Desenvolver políticas modernas de recursos humanos capazes de atrair e reter talentos, reconhecendo que os profissionais de saúde de hoje têm necessidades e expectativas diferentes. De Rosa enfatizou a importância de alinhar os profissionais com os objetivos do sistema, evitando a “deceção” que muitos estão experenciando atualmente.

Tecnologia: Utilizar a tecnologia como base para unificar e potenciar todas as iniciativas de melhoria. Isso inclui a implementação de inteligência artificial, históricos clínicos eletrónicos unificados e integração de informações de saúde e sociais.

De Rosa compartilhou a experiência do Grupo Ribera na implementação dessas estratégias ao longo dos últimos 25 anos. O Gestor recordou que a empresa foi pioneira na introdução de prontuários eletrônicos na Espanha em 1999 e que desde então tem trabalhado no desenvolvimento de um portal de saúde para melhorar a comunicação entre profissionais de diferentes níveis de atendimento e entre profissionais e cidadãos.

Um dos aspetos mais inovadores da abordagem do Grupo Ribera, prosseguiu o orador, é a estratificação da população em grupos com base em variáveis diagnósticas, permitindo uma personalização mais eficaz dos cuidados de saúde. “Mais do que estabelecer grandes estratégias, é necessário personalizar. Isso é muito mais eficaz para o cidadão, melhor para a qualidade assistencial e mais eficiente para o sistema”, argumentou De Rosa.

O especialista apresentou um exemplo de um dos contratos de longo prazo do Grupo Ribera com o governo espanhol, cobrindo mais de meio milhão de habitantes. Neste modelo, os cidadãos são divididos em grupos que vão desde o mais saudável até o mais complexo, permitindo que a organização concentre os seus esforços nos casos mais críticos e trabalhe para reduzir a complexidade dos cuidados necessários ao longo do tempo.

A conferência destacou a importância crescente das parcerias público-privadas no setor de saúde, com o modelo desenvolvido pelo Grupo Ribera na Espanha sendo apresentado como um caso de estudo potencialmente aplicável a outros contextos, incluindo Portugal. O Hospital de Cascais foi mencionado como um exemplo de implementação bem-sucedida deste modelo em território português.

Enquanto os sistemas de saúde de ambos os países continuam a enfrentar pressões significativas, especialmente no período pós-pandemia, as ideias e estratégias discutidas nesta conferência oferecem um roteiro potencial para a transformação necessária. O desafio agora é traduzir essas ideias em ações concretas que possam melhorar a saúde e o bem-estar das populações ibéricas nas próximas décadas.

HealthNews

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