Uma investigação internacional abrangente, liderada pela cientista biomédica Johanna Klughammer da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (LMU), em colaboração com investigadores do Instituto Dana-Farber e do Instituto Broad do MIT e Harvard, revelou novos conhecimentos cruciais sobre o cancro da mama metastático, a principal causa de morte relacionada com cancro em mulheres em todo o mundo.
O estudo, desenvolvido no âmbito da Rede do Atlas de Tumores Humanos (HTAN), analisou moléculas de RNA de 67 biópsias provenientes de 60 pacientes com metástases de cancro da mama. A investigação focou-se nos transcriptomas, que indicam quais os genes ativos num determinado momento, utilizando duas abordagens distintas: medição do transcriptoma celular completo ou apenas do núcleo celular.
Para complementar esta análise e compensar a perda de informação sobre a organização espacial das células, os investigadores criaram perfis de expressão espacial para 15 amostras, analisando secções de tecido em série através de quatro métodos diferentes com resolução espacial.
As metástases estudadas provinham de nove localizações diferentes no corpo, incluindo cérebro, fígado e ossos, representando diversos subtipos clinicamente relevantes. Uma descoberta surpreendente foi a estabilidade dos perfis de expressão das células malignas num mesmo paciente, mesmo quando as metástases se encontravam em diferentes partes do corpo ou quando as amostras foram recolhidas com intervalos de até 200 dias.
A equipa identificou também ligações entre características clínicas específicas e diferentes fenótipos de expressão maligna. Enquanto a maioria das células malignas apresentava características típicas de células epiteliais, algumas amostras revelaram expressão de genes associados a células estaminais, neurónios ou cartilagem. Significativamente, a amostra com comportamento semelhante ao de células estaminais pertencia ao paciente com menor tempo de sobrevivência no grupo, apesar do diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Uma descoberta particularmente relevante foi a diferença nos perfis de expressão das células tumorais dependendo da presença ou ausência de células imunitárias (células T ou NK) nas proximidades. As células tumorais que pareciam manter as células T/NK afastadas apresentavam maior probabilidade de expressar o gene SOX4, fornecendo evidências de que os processos de escape imunológico ocorrem tanto em microambientes localizados como em toda a extensão do tumor.
Esta investigação representa um avanço significativo na compreensão da biologia do cancro da mama metastático e demonstra o potencial do perfil de expressão espacial. Os resultados obtidos poderão contribuir para uma classificação mais precisa dos pacientes e para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais direcionadas no futuro.
O estudo, publicado na revista Nature Medicine, estabelece uma base valiosa para investigações futuras e oferece novas perspetivas sobre a complexidade e heterogeneidade das metástases do cancro da mama, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes e personalizados.
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