Um inquérito nacional sobre a satisfação no internato médico revelou importantes lacunas no apoio prestado aos médicos em formação, com destaque para a falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e insuficiente suporte à atividade científica.
O estudo, realizado pelo terceiro ano consecutivo, resulta de uma parceria entre o Conselho Nacional do Médico Interno da Ordem dos Médicos, o Conselho Nacional do Internato Médico e a Administração Central do Sistema de Saúde.
Os resultados mostram que a ausência de tempo protegido para estudo autónomo durante o horário laboral continua a ser o principal motivo de insatisfação, com uma pontuação de apenas 1,65 em 4. O apoio financeiro e logístico à realização de atividade científica (1,73/4) e à participação em atividades formativas (1,81/4) também registaram avaliações preocupantemente baixas.
A disponibilidade de recursos científicos, como biblioteca e acesso a literatura atualizada, obteve uma classificação de 2,13 em 4, enquanto o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal foi avaliado com 2,37 em 4, evidenciando um desequilíbrio significativo na gestão do tempo dos médicos internos.
No entanto, nem tudo são aspectos negativos. O inquérito revelou níveis positivos de satisfação em algumas áreas cruciais, nomeadamente com a especialidade escolhida (3,02/4) e com o orientador de formação (3,28/4). A satisfação com o serviço de formação, embora positiva, apresentou uma pontuação mais modesta de 2,82 em 4.
O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, sublinha a necessidade de ação urgente para melhorar as condições de formação, destacando o reconhecimento internacional da qualidade da formação médica em Portugal. Realça ainda o papel do Gabinete Nacional de Apoio ao Médico na prevenção e apoio a situações de pressão e problemas de saúde mental entre os internos.
José Durão, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno, expressa preocupação com os resultados, alertando para a necessidade de abordar os pontos críticos identificados em diversas especialidades e serviços de formação. Segundo o responsável, está em causa a própria sustentabilidade dos recursos humanos médicos em Portugal.
O inquérito surge num momento crucial para a medicina portuguesa, em que se debate intensamente a necessidade de melhorar as condições de trabalho e formação dos profissionais de saúde. Os resultados apontam para a urgência de implementar medidas concretas que garantam não só a qualidade da formação médica, mas também o bem-estar dos profissionais em formação.
A continuidade deste estudo ao longo de três anos consecutivos permite identificar tendências e avaliar a evolução das condições do internato médico em Portugal, fornecendo dados importantes para a definição de políticas e estratégias de melhoria no sector da saúde.
PR/HN/MMM
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