O “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” surgiu como resposta a uma necessidade premente identificada tanto pela comunidade educativa como pelos profissionais de saúde da região do Baixo Vouga. A iniciativa, desenvolvida no âmbito de um estágio de intervenção, decorreu durante o ano de 2023, estendendo-se até 2025, e tem como objetivo principal promover a inclusão de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar.
A diabetes tipo 1 é uma condição crónica resultante de uma disfunção no metabolismo, caracterizada por níveis alterados de glicose no sangue. Esta condição pode levar a complicações metabólicas agudas e crónicas, exigindo um acompanhamento contínuo e cuidadoso, especialmente em crianças e jovens em idade escolar.
De acordo com dados apresentados pela Dra. Ilka Rosa, em 2021, a nível global, existiam cerca de 1,2 milhões de crianças e jovens com menos de 20 anos diagnosticados com diabetes tipo 1. Além disso, foram registados 530.000 novos casos, dos quais 201.000 eram crianças e jovens com menos de 15 anos. As projeções indicam um aumento significativo no número de casos até 2045, com uma estimativa de crescimento entre 15,5% a 17,4%.
No contexto português, o Programa Nacional para a Diabetes lançou um documento em 2023 que revelava a existência de 3.608 pessoas com diabetes tipo 1 até aos 19 anos de idade. Na região do Baixo Vouga, foco do Projeto IDE, foram identificadas 2.442 pessoas com diabetes tipo 1, das quais 2.028 eram adultos com mais de 40 anos e 112 eram crianças e jovens até aos 19 anos.
O acompanhamento destas crianças e jovens é realizado principalmente em hospitais da região, como o Hospital Santo António, o Hospital São João e o Hospital de Aveiro. Em 2023, 56 crianças eram acompanhadas em consultas no Hospital de Aveiro, das quais 40 tinham menos de 14 anos. Durante esse ano, 16 crianças foram internadas, 11 das quais devido a descompensação da diabetes.
O Projeto IDE estabeleceu vários objetivos específicos para abordar esta problemática:
Promover a inclusão das crianças e jovens com diabetes tipo 1 na escola;
Melhorar o bem-estar e a autoestima destes alunos;
Otimizar a gestão da diabetes no contexto escolar;
Atualizar e integrar os conhecimentos dos profissionais de saúde;
Capacitar os funcionários de saúde e a comunidade escolar para lidar com a diabetes tipo 1.
Para alcançar estes objetivos, o projeto envolveu diversos parceiros e interlocutores, incluindo a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, as equipas de saúde escolar, o hospital de referência da região, os centros de formação para professores e os agrupamentos escolares.
O objetivo principal de saúde definido pelo projeto é ambicioso: reduzir em 20% o número de internamentos por descompensação da diabetes tipo 1 na região do Baixo Vouga ao final do terceiro ano de implementação. Para atingir esta meta, foram estabelecidos objetivos operacionais específicos:
Realizar um levantamento e quantificação dos casos de diabetes tipo 1 na região;
Promover formação intensiva para profissionais de saúde e comunidade educativa;
Abordar temas como contagem de hidratos de carbono, insulinoterapia, cálculo de bólus de insulina, hipoglicemia e hiperglicemia;
Avaliar a variação de conhecimentos pré e pós-formação, bem como o grau de satisfação dos participantes;
Promover a autonomia das equipas locais de saúde escolar na preparação de planos de saúde individuais e na formação contínua da comunidade educativa.
O projeto foi estruturado em três eixos principais: gestão, comunicação e formação de profissionais e da comunidade educativa. A implementação do Projeto IDE inicia-se quando uma criança é diagnosticada com diabetes tipo 1, um momento que altera significativamente a vida da família. O processo começa no hospital, onde uma equipa multidisciplinar é mobilizada para dar apoio à criança e à família.
A articulação entre os serviços hospitalares e a comunidade é fundamental. A equipa hospitalar sinaliza o caso à equipa de saúde escolar da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga. O serviço social envia um e-mail à coordenadora da equipa de saúde, que por sua vez informa a coordenadora de saúde escolar. Esta última entra em contacto com a equipa local de saúde escolar, que inicia as ações necessárias no estabelecimento de ensino.
Um aspeto importante do projeto foi a realização de um levantamento inicial dos casos de diabetes tipo 1 na região. Este exercício resultou numa correção significativa dos dados, com uma redução de 8,2% no número de casos registados, demonstrando a importância de uma quantificação precisa para o planeamento adequado das intervenções.
As formações realizadas no âmbito do Projeto IDE tiveram um alcance significativo. Participaram 17 profissionais de saúde, incluindo médicos e enfermeiros, e 364 membros da comunidade educativa. Os resultados destas formações foram muito positivos, com uma melhoria significativa no grau de conhecimento dos participantes, tanto em termos de respostas corretas como na segurança ao responder às questões.
A avaliação da satisfação dos participantes nas formações também foi muito positiva, com uma pontuação média de 4,80 numa escala de 1 a 5. Este feedback positivo é um indicador importante do sucesso e da relevância das formações oferecidas pelo projeto.
Um dos objetivos operacionais do Projeto IDE era a elaboração de pelo menos um plano de saúde individual para crianças com diabetes tipo 1 em cada agrupamento escolar da região do Baixo Vouga. Este objetivo foi alcançado, demonstrando o compromisso do projeto em fornecer um acompanhamento personalizado e adequado a cada criança.
O Projeto IDE destaca-se pela sua abordagem abrangente e multidisciplinar. Promove a articulação e convergência de esforços em todos os níveis – hospitalar, cuidados de saúde primários, comunidade e família – para melhorar a saúde e a qualidade de vida das crianças e jovens com diabetes tipo 1. A formação e a capacitação da comunidade educativa são elementos centrais do projeto, contribuindo para mudanças de atitude e redução do estigma associado à doença.
Um aspeto particularmente relevante do Projeto IDE é a sua sustentabilidade. Ao utilizar os recursos humanos já existentes nas unidades de saúde, o projeto consegue manter-se operacional sem necessidade de contratações adicionais. Se fosse necessário contratar pessoal externo, o custo estimado do projeto seria de cerca de 18.000 euros. Esta abordagem não só torna o projeto economicamente viável, mas também promove o desenvolvimento de competências dentro das próprias equipas de saúde.
A implementação do Projeto IDE trouxe benefícios significativos para a comunidade do Baixo Vouga. As formações realizadas para a comunidade educativa não só aumentaram o conhecimento sobre a diabetes tipo 1, mas também promoveram uma maior sensibilização e compreensão das necessidades específicas das crianças e jovens com esta condição.
O feedback dos participantes nas formações foi extremamente positivo, destacando a importância e a relevância do projeto para a sociedade em geral e, em particular, para as crianças e jovens com diabetes tipo 1. Este reconhecimento por parte da comunidade é um indicador importante do impacto positivo do Projeto IDE.
A abordagem holística do Projeto IDE, que envolve não apenas o tratamento médico, mas também a integração social e educacional das crianças e jovens com diabetes tipo 1, representa um avanço significativo na forma como esta condição é gerida no contexto escolar. Ao capacitar professores, funcionários escolares e colegas, o projeto cria um ambiente mais inclusivo e seguro para os alunos com diabetes.
Um dos aspetos mais inovadores do Projeto IDE é a sua ênfase na autonomia das equipas locais de saúde escolar. Ao fornecer formação e ferramentas para que estas equipas possam preparar planos de saúde individuais e continuar a formar a comunidade educativa, o projeto garante que o seu impacto se estenda muito além do seu período de implementação inicial.
A redução do número de internamentos por descompensação da diabetes é um objetivo ambicioso, mas crucial. Se alcançado, não só melhorará significativamente a qualidade de vida das crianças e jovens com diabetes tipo 1, mas também reduzirá a pressão sobre os serviços de saúde, resultando em benefícios tanto individuais como para o sistema de saúde como um todo.
O Projeto IDE também aborda questões importantes de saúde mental e bem-estar emocional. Ao promover a inclusão e reduzir o estigma associado à diabetes tipo 1, o projeto contribui para melhorar a autoestima e o bem-estar geral das crianças e jovens afetados. Este aspeto é particularmente importante, considerando os desafios psicológicos que muitas vezes acompanham a gestão de uma doença crónica na infância e adolescência.
A colaboração entre diferentes setores – saúde, educação e serviço social – é um dos pontos fortes do Projeto IDE. Esta abordagem multissetorial não só garante uma resposta mais completa às necessidades das crianças e jovens com diabetes tipo 1, mas também serve como um modelo para a gestão de outras condições crónicas no contexto escolar.
O envolvimento ativo das famílias no projeto é outro aspeto crucial. Ao fornecer informação e apoio não só às crianças, mas também aos seus cuidadores, o Projeto IDE reconhece o papel fundamental da família na gestão bem-sucedida da diabetes tipo 1. Esta abordagem centrada na família contribui para melhores resultados de saúde e uma melhor qualidade de vida para toda a unidade familiar.
A implementação do Projeto IDE na região do Baixo Vouga pode servir como um modelo para outras regiões de Portugal e, potencialmente, para outros países. A sua abordagem abrangente, sustentável e centrada na comunidade oferece lições valiosas para a gestão de doenças crónicas em crianças e jovens no contexto escolar.
À medida que o projeto avança, será importante continuar a monitorizar e avaliar o seu impacto. A recolha de dados sobre o número de internamentos, a qualidade de vida dos alunos com diabetes tipo 1, e o nível de conhecimento e confiança da comunidade educativa em lidar com esta condição, serão indicadores cruciais do sucesso a longo prazo do projeto.
O Projeto IDE representa um passo significativo na direção de uma sociedade mais inclusiva e informada sobre a diabetes tipo 1. Ao capacitar escolas, profissionais de saúde e famílias para melhor apoiar crianças e jovens com esta condição, o projeto não só melhora a saúde física destes indivíduos, mas também contribui para o seu desenvolvimento social e emocional.
Em conclusão, o Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola, apresentado pela Dra. Ilka Rosa na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destaca-se como uma iniciativa inovadora e abrangente. Ao abordar os múltiplos aspetos da vida de uma criança ou jovem com diabetes tipo 1 – desde o tratamento médico até à integração escolar e ao bem-estar emocional – o projeto oferece uma solução holística para um desafio complexo de saúde pública.
A sua abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde, educadores, famílias e a comunidade em geral, cria uma rede de apoio robusta e eficaz. A ênfase na formação e capacitação não só melhora o conhecimento e as competências dos envolvidos, mas também promove uma mudança cultural na forma como a diabetes tipo 1 é percebida e gerida no contexto escolar.
O potencial impacto do Projeto IDE vai além da melhoria imediata na saúde e qualidade de vida das crianças e jovens com diabetes tipo 1. Ao promover uma maior compreensão e aceitação desta condição, o projeto contribui para uma sociedade mais inclusiva e informada. Além disso, a sua abordagem sustentável e replicável oferece um modelo valioso para a gestão de outras doenças crónicas em contextos educativos.
À medida que o projeto continua a ser implementado e avaliado, espera-se que os seus benefícios se tornem cada vez mais evidentes, não só na região do Baixo Vouga, mas potencialmente em todo o país. O Projeto IDE representa um exemplo inspirador de como a colaboração entre diferentes setores da sociedade pode resultar em soluções inovadoras e eficazes para desafios complexos de saúde pública
HealthNews
0 Comments