Sudão rejeita relatório utilizado pela ONU sobre a propagação da fome

29 de Dezembro 2024

O Governo sudanês rejeitou hoje um relatório apoiado pelas Nações Unidas, segundo o qual a fome se tinha propagado a cinco novas regiões daquele país, devastado pela guerra

No seu último relatório, publicado na terça-feira, o sistema de Classificação das Fases da Segurança Alimentar (IPC) utilizado pelas agências das Nações Unidas, afirma que 638.000 pessoas enfrentam atualmente níveis catastróficos de fome, com mais 8,1 milhões à beira da inanição.

O IPC determinou que a fome era generalizada em três campos no Darfur do Norte, incluindo Zamzam, onde a fome foi oficialmente declarada em agosto, e entre os habitantes e comunidades deslocadas das montanhas de Nuba, na região do Cordofão do Sul.

Entre dezembro e maio, o IPC declarou que 24,6 milhões de pessoas, cerca de metade da população do Sudão, deveriam enfrentar “níveis elevados de insegurança alimentar aguda”.

O Sudão foi dilacerado por 20 meses de combates entre o exército sudanês e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF, na sigla em inglês), o que conduziu a uma terrível crise humanitária.

O Governo, que está alinhado com o exército, “rejeita categoricamente a descrição do IPC, da situação no Sudão como de fome”, de acordo com um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que descreve o relatório como “essencialmente especulativo” e acusa o IPC de violações dos procedimentos e da transparência.

O Governo alegou ainda que o IPC não tinha tido acesso aos dados mais recentes no terreno e não tinha consultado a equipa técnica do executivo sobre a versão final antes da publicação.

A AFP contactou o IPC, mas não obteve resposta.

A guerra entre o exército e as RSF deve-se às fortes divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar – agora declarado como rebelde – nas forças armadas, uma situação que provocou o descarrilamento da transição iniciada após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir, em 2019.

O Governo sudanês foi acusado em várias ocasiões de obstruir os esforços internacionais para avaliar a situação da segurança alimentar no país.

As autoridades foram igualmente acusadas de criar obstáculos burocráticos ao trabalho humanitário e de bloquear a concessão de vistos às equipas estrangeiras.

Tanto o exército como as RSF foram acusados de utilizar a fome como arma de guerra.

Segundo a ONG International Rescue Committee (IRC), o exército está a “explorar o seu estatuto de Governo reconhecido internacionalmente (e a impedir) a ONU e outras agências de chegarem às áreas controladas pela RSF”.

O Sudão está a viver a “pior crise humanitária de que há registo”, afirmou o IRC no seu recente relatório sobre emergências em 2023.

NR/HN/Lusa

 

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