Clara Pérez: Docente do Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa (ISEC Lisboa)

Miopia nas crianças portuguesas. Diagnóstico e recomendações

01/21/2025

Um estudo recente realizado no ISEC Lisboa, em conjunto com a Universidad Complutense de Madrid, trouxe à tona dados importantes sobre a prevalência da miopia em crianças e adolescentes em Lisboa, bem como os fatores que influenciam o seu desenvolvimento. A investigação, publicada na revista Ophthalmic & Physiological Optics com o título “Factors associated with myopia in the Portuguese child population: An epidemiological study”, analisou quase 2.000 alunos entre os 5 e os 17 anos e revelou que 12,7% deles sofrem de miopia, ou seja, cerca de 1 em cada 8 crianças. Este problema vai além do uso de óculos, pois, no caso de miopias altas, pode evoluir para complicações graves, como descolamento de retina ou mesmo cegueira, se não for devidamente controlado.

Um dos resultados mais relevantes do estudo é a forte relação entre a história familiar e o risco de desenvolver miopia. Crianças com pais míopes têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver a condição, sendo que o risco triplica quando ambos os progenitores são míopes. Além disso, observou-se que a prevalência aumenta com a idade e é ligeiramente maior em meninas (14,2%) do que em meninos (11,2%). Estes dados reforçam a importância de intervenções precoces para retardar o surgimento da miopia e evitar que ela progrida para graus elevados.

O estudo também revelou um dado animador: o tempo passado ao ar livre tem um impacto protetor significativo contra a miopia. Crianças que passam mais de 2,7 horas por dia em atividades ao ar livre têm aproximadamente 50% menos probabilidade de desenvolver miopia em comparação com aquelas que passam menos tempo fora de casa. A exposição à luz natural parece ser a chave, ajudando a retardar o surgimento da miopia.

A análise também destacou diferenças marcantes nos hábitos diários de crianças míopes e não míopes. Cerca de 20% das crianças míopes dedicam mais de três horas diárias a atividades de visão próxima, como leitura ou uso de dispositivos eletrónicos, em comparação com apenas 12% das crianças sem miopia. Por outro lado, menos de 10% das crianças míopes passam mais de 2,7 horas ao ar livre diariamente, enquanto entre as crianças sem miopia esse número chega a 13%. Estes resultados sublinham a importância de promover atividades ao ar livre como forma de equilibrar o tempo de estudo e lazer.

Com base nestes resultados, os investigadores sugerem medidas práticas e de fácil implementação para reduzir o impacto da miopia. Recomenda-se incentivar brincadeiras ao ar livre, especialmente após a escola e nos fins de semana; fazer pausas regulares durante atividades de visão próxima, como ler ou usar ecrãs; e, realizar exames oftalmológicos periódicos para detetar problemas visuais precocemente.

Num momento em que se estima que a miopia possa afetar 50% da população mundial até 2050, este estudo oferece informações valiosas para ajudar a reduzir essa tendência, a começar na infância. Proteger a saúde visual das crianças é uma tarefa conjunta de famílias, educadores e profissionais de saúde, e pequenos ajustes no dia a dia podem fazer uma grande diferença no futuro.

 

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