Carlos Cortes: “a ciência é fundamental para a saúde”

27 de Março 2025

O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, discursou hoje na abertura do 42º Encontro Nacional de Medicina Familiar em Tróia, elogiando a especialidade e apelando à sua valorização no sistema de saúde português.

O 42º Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar arrancou hoje em Tróia, com a cerimónia de abertura a contar com a presença do Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes. Na sua intervenção, o Bastonário destacou a importância da medicina geral e familiar no panorama da saúde em Portugal, tecendo rasgados elogios à especialidade e aos profissionais que a exercem.

Carlos Cortes iniciou o seu discurso sublinhando a relevância da ciência como pilar fundamental dos cuidados de saúde de qualidade. “Num mundo em constante instabilidade, onde surgem dúvidas sobre a ciência e a medicina baseada na evidência”, o Bastonário reforçou o papel crucial dos médicos como portadores da mensagem da verdade, da transparência e da ciência.

O Bastonário expressou a sua admiração pelo trajeto único que a medicina geral e familiar traçou nas últimas décadas em Portugal. Descreveu-a como a “herança direta” da medicina hipocrática, destacando a sua abordagem holística ao paciente e a sua ligação com a comunidade. Carlos Cortes afirmou que a medicina geral e familiar tem uma ligação única com os pacientes que nenhuma outra especialidade possui, representando não apenas uma especialidade médica, mas toda uma comunidade.

Na sua intervenção, o Bastonário recordou o papel fundamental dos médicos de família na criação e desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Prestou homenagem aos profissionais que, nas décadas de 1970 e 1980, construíram os alicerces dos cuidados de saúde primários em Portugal, permitindo que o país tenha hoje um sistema que considera ser dos melhores da Europa.

Carlos Cortes manifestou preocupação com o que chamou de “hospitalocentrismoque está a acontecer neste momento no sistema de saúde português. Alertou para o risco de se destruir o trabalho construído ao longo de décadas nos cuidados de saúde primários, sublinhando que poucos países podem orgulhar-se de ter cuidados primários tão bem estruturados como Portugal.

O Bastonário apelou à Ministra da Saúde, presente na cerimónia, para que o Ministério da Saúde invista mais na prevenção da doença e na promoção da saúde. Reconheceu que, politicamente, estas áreas podem não ser tão atrativas por não produzirem resultados imediatos, mas insistiu que são fundamentais para o desenvolvimento de políticas de saúde orientadas para o bem-estar das pessoas.

Um dos pontos mais enfatizados por Carlos Cortes foi a necessidade de combater a burocracia excessiva que sobrecarrega os médicos de família. O Bastonário considerou “absolutamente incomportável” o peso das tarefas administrativas sobre estes profissionais, defendendo que outras categorias profissionais, mais habilitadas para essas funções, poderiam assumir essas responsabilidades, libertando os médicos para se concentrarem no cuidado aos pacientes.

O Bastonário expressou a sua preocupação com o que considera ser uma desvalorização da medicina geral e familiar nos últimos anos. Apontou como evidência desta tendência o número de vagas que ficam por preencher na especialidade. Carlos Cortes apelou ao Ministério da Saúde para que reverta este processo de desvalorização e implemente medidas para tornar a especialidade mais atrativa.

Na sua intervenção, o Bastonário defendeu que a medicina geral e familiar não deve estar confinada apenas aos cuidados de saúde primários, mas deve ter um papel mais abrangente em todo o sistema de saúde. Paralelamente, manifestou preocupação com outras especialidades que enfrentam desafios semelhantes, como a medicina interna na área hospitalar.

Carlos Cortes sublinhou a importância de revitalizar a carreira médica como um elemento fundamental para a estruturação das equipas e do próprio Serviço Nacional de Saúde. Revelou que a Ordem dos Médicos está a preparar-se para, em conjunto com o Ministério da Saúde, trabalhar na revitalização das carreiras médicas, considerando este aspeto crucial para a atratividade do SNS.

O Bastonário defendeu um maior investimento na formação médica e na investigação, apelando para que as Unidades Locais de Saúde (ULS) proporcionem um espaço relevante para estas atividades. Reconheceu também a importância das questões remuneratórias como fator de atratividade para o serviço público de saúde.

Na parte final do seu discurso, Carlos Cortes abordou a questão da defesa do ato médico, manifestando preocupação com o que considera ser uma diluição das funções reservadas aos médicos. Embora tenha expressado o seu respeito por todas as profissões e a importância do trabalho em equipa interdisciplinar, o Bastonário insistiu que existem atos que devem permanecer reservados aos médicos, como o diagnóstico e a prescrição.

Carlos Cortes concluiu a sua intervenção reiterando o seu orgulho pela especialidade de medicina geral e familiar e pelos profissionais que a exercem. Agradeceu o trabalho desenvolvido pelos médicos de família em prol da medicina portuguesa e dos pacientes, afirmando sentir um “imenso orgulho” em representá-los como Bastonário da Ordem dos Médicos.

O 42º Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar prossegue até amanhã em Tróia, reunindo profissionais de saúde de todo o país para debater os desafios e o futuro desta especialidade médica fundamental no sistema de saúde português.

RT/HN/MM/AL

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