Nuno Jacinto: Reflexões sobre o futuro dos cuidados de saúde primários

27 de Março 2025

Nuno Jacinto, Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, destacou hoje a importância dos cuidados de saúde primários e a necessidade de um rumo claro no sistema de saúde, durante o 42 Encontro Nacional de Medicina Familiar que decorre em Tróia

Hoje, no 42 Encontro Nacional de Medicina Familiar, que decorre em Tróia, o Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, destacou a importância dos cuidados de saúde primários como base fundamental do sistema de saúde. A cerimónia contou com a presença de várias personalidades, incluindo a Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.

Durante a sua intervenção, Nuno Jacinto destacou dois momentos marcantes do encontro: a conferência de abertura, que foi conduzida pelo Professor David Marçal, e o clube de leitura, que este ano escolheu o livro “Revolução” de Hugo Gonçalves. Este livro, publicado em 2018, é uma obra de ficção que se passa no contexto da Revolução dos Cravos, explorando temas como memória coletiva, resistência e transformação política. A escolha do livro reflete o período de grandes mudanças que Portugal viveu e que se assemelha ao atual contexto de constantes alterações no sistema de saúde.

Nuno Jacinto ressaltou que, assim como na época da Revolução dos Cravos, vivemos um tempo de grandes mudanças, mas com a dificuldade de garantir que essas mudanças se traduzam em melhorias significativas. Ele lembrou que, nas últimas duas décadas, o sistema de saúde passou por várias reformas, desde o lançamento dos cuidados de saúde primários até a criação de novas estruturas e modelos de gestão. No entanto, essas mudanças frequentes têm gerado instabilidade e dificuldade em perceber o impacto real nas vidas das pessoas.

Entre as mudanças recentes, destacou a criação do índice de desempenho das equipas, o índice de complexidade dos utentes, a generalização do modelo B das Unidades de Saúde Familiar (USF), a extinção das Administrações Regionais de Saúde (ARSS), e a implementação de Parcerias Público/Privadas (PPP) em centros de saúde. Salientou ainda as mudanças na liderança da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o plano de emergência que incluiu a medicina familiar como um dos eixos estratégicos, embora as suas sugestões não tenham sido integralmente consideradas.

Nuno Jacinto expressou preocupação com a falta de estabilidade no sistema de saúde, que leva a uma sensação de desgoverno e desorientação. Isso tem consequências graves, como a diminuição do interesse dos jovens médicos em seguir carreiras em medicina geral e familiar. Muitos não escolhem vagas de internato ou de especialização em medicina familiar, e aqueles que o fazem não permanecem no SNS após a formação. Além disso, os concursos para essas vagas têm sido marcados por constantes alterações, o que dificulta a previsibilidade e a estabilidade necessárias para atrair e reter talentos.

Para reverter essa situação, Nuno Jacinto defendeu a necessidade de um rumo claro e constante que valorize os méritos da medicina geral e familiar, enfatizando  que os cuidados de saúde primários não são uma nota de rodapé, mas sim a base do sistema de saúde. Mas que para assim seja de facto, defendeu,  é crucial que os médicos de família sejam ouvidos e envolvidos nas decisões que afetam o setor.

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar tem trabalhado para apontar soluções para os problemas dos cuidados de saúde primários, respeitando os pilares fundamentais da especialidade, como formação, continuidade de cuidados, rigor e solidez na atuação, investigação e compromisso com a comunidade. Nuno Jacinto concluiu que é hora de regressar ao deslumbramento com a medicina geral e familiar, sonhando com um futuro onde os médicos possam ser completos e fazer a diferença nas comunidades que servem.

A mensagem final foi de esperança e compromisso, lembrando que cada pequena ação pode ter um impacto significativo. Nuno Jacinto encorajou os presentes a serem aqueles que fazem a diferença, recordando que ajudar uma pessoa é ajudar uma família, uma comunidade e, eventualmente, o mundo.

RT/HN/MM/AL

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Mário André Macedo
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