Em declarações hoje à agência Lusa, a diretora clínica para a área hospitalar da Unidade Local de Saúde (USL) Amadora/Sintra, Diana Sousa Mendes, afirmou que, dos 15 cirurgiões que vão reforçar o serviço, dez provêm dos que apresentaram demissão em 2024, na sequência do regresso ao serviço de dois especialistas que denunciaram más práticas, que depois de investigadas não se confirmaram.
Relativamente aos dois cirurgiões que estiveram no centro da polémica, a diretora clínica avançou que vão integrar o novo hospital de Sintra, que integra a ULS, não estando previsto que integrem a escala de urgência do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF).
A instituição espera uma consolidação da operacionalidade plena do Serviço de Cirurgia Geral até ao final de maio, com a integração de mais um especialista este mês e de outros dez até ao final de maio.
“O regresso desta equipa de especialistas é fundamental para a estabilização e otimização” deste serviço, sendo a prioridade nos próximos meses “restabelecer plenamente a atividade cirúrgica, garantindo uma resposta eficaz e em tempo útil às necessidades de saúde dos utentes da Amadora e de Sintra”.
Sobre as condições contratuais oferecidas aos cirurgiões que regressaram ou vão regressar, Diana Sousa Mendes esclareceu que “são semelhantes às praticadas para outros profissionais com a mesma categoria profissional, nomeadamente contratos individuais de trabalho e em alguns casos contratos de prestação de serviços”.
Questionada sobre o impacto da saída de profissionais na atividade cirúrgica, indicou que, no primeiro trimestre de 2025, o hospital fez menos 642 cirurgias do que no mesmo período de 2024, sendo a queda mais acentuada na especialidade de Cirurgia Geral.
Apesar desta redução, observaram-se aumentos em especialidades como Cirurgia Maxilo-Facial, Otorrinolaringologia, Urologia e Dermatologia, esta última com um aumento de 3 para 89 cirurgias realizadas.
Quanto à necessidade de ativar o plano contingência, a diretora clínica referiu que só pode falar sobre março, quando a atual Direção Clínica iniciou funções.
Nesse mês, o hospital solicitou ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM o desvio de doentes críticos em sete ocasiões, no âmbito da gestão da resposta hospitalar face a picos de procura do Serviço de Urgência.
“Estas situações ocorreram em contextos de grande pressão assistencial, com elevada afluência de doentes e aumento significativo do grau de complexidade e severidade dos mesmos, visível no aumento dos utentes urgentes e muito urgentes”, sublinhou.
Em janeiro, a Ordem dos Médicos (OM), com base num parecer do Colégio de Cirurgia Geral, retirou a idoneidade formativa à Cirurgia Geral do HFF, alegando que não existiam condições adequadas para assegurar formação dos internos, obrigando à saída de 10 internos em formação específica, além dos de formação geral.
Hoje, Diana Sousa Mendes afirmou que a instituição está em conversações com a OM e que os internos permanecem no hospital.
Contactado pela Lusa, o bastonário da OM, Carlos Cortes, afirmou que irá reavaliar a situação, tendo em conta que houve “uma alteração substancial do cenário”.
“Era um cenário absolutamente desastroso, não só do ponto de vista formativo, mas sobretudo do ponto de vista assistencial, na resposta à urgência, na resposta às consultas, na resposta ao trabalho da enfermaria, na resposta ao bloco, às cirurgias do bloco operatório”, salientou.
Por isso, Carlos Cortes admitiu que a Ordem dos Médicos, à luz dos novos dados, possa reavaliar a situação e, consoante os resultados desta reavaliação, tomar posição, “sempre na defesa da qualidade dos cuidados de saúde e na qualidade da formação médica”.
lusa/HN
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