Lúcio Meneses de Almeida
Presidente do Conselho Nacional de Promoção da Saúde e Sustentabilidade Ambiental da Ordem dos Médicos

A segurança energética e a Saúde Pública

04/30/2025

Portugal experienciou, no dia 28 de abril, aquele que terá sido o pior “apagão” da sua história elétrica recente. Durante dez horas, milhões de portugueses estiveram sem acesso a bens e serviços essenciais ao dia-a-dia contemporâneo.

Foram horas que paralisaram o País, atentando contra a segurança e o bem-estar de indivíduos e comunidades. A energia elétrica deixou de ser fornecida – implicando, nalgumas situações, o abastecimento de água.

A conservação dos alimentos perecíveis viu-se ameaçada num contexto de elevadas temperaturas; e o acesso aos bens e serviços disponíveis foi condicionado pelo não funcionamento de caixas multibanco e terminais correlatos.

No respeitante à rede de serviços de saúde, os hospitais continuaram a funcionar com geradores alimentados a combustível. Convirá não esquecer que as vacinas e o sangue e seus componentes e derivados, por exemplo, são conservados pelo frio…

Não obstante a pronta e muito efetiva resposta por parte das entidades envolvidas, lideradas pelo Governo, o “apagão” de 28 de abril alertou-nos para a vulnerabilidade energética do nosso País.

Além de sermos um dos países mais envelhecidos do Mundo, sendo que o envelhecimento demográfico implica uma maior morbilidade, a crise energética vivida obrigou ao adiamento de cirurgias e outros procedimentos diagnóstico-terapêuticos não urgentes. O que foram algumas horas podiam ter sido muitos dias…

Se os hospitais dispõem de geradores, o mesmo não se passa com os domicílios. Por outro lado, habituámo-nos, há demasiado tempo, a gozar os benefícios – aparentemente inesgotáveis – da eletricidade.

A pandemia de COVID-19 foi um acontecimento sentinela que nos devia ter obrigado a retirar os devidos ensinamentos. E, mesmo durante aquela epidemia global, os serviços continuaram a funcionar, sem perturbações de maior…

Planear a incerteza é o caminho. Perante acontecimentos incertos, em termos de ocorrência e impacte, mas passíveis de ser mitigados, temos o dever cívico de nos preparar, planeando a resposta.

Não há saúde pública, enquanto resultado pretendido (proteção e promoção da saúde), sem segurança energética. Por consequência, devemo-nos “preparar para o pior e esperar o melhor”, neste e noutros âmbitos vitais à sociedade, em consistência com o lema do planeamento de contingência.

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