Estudo revela abertura e lacunas na formação sobre cetamina na depressão resistente

2 de Maio 2025

A maioria dos profissionais de saúde mental em Portugal mostra-se recetiva à utilização clínica da cetamina para depressão resistente, mas aponta lacunas significativas na formação e defende mais investigação e regulamentação clara.

Um estudo pioneiro realizado pelo Centro Interdisciplinar de Estudo da Performance Humana da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Aplicação Clínica de Enteógenos (SPACE), avaliou as perceções e atitudes de psiquiatras, médicos internos de Psiquiatria e psicólogos clínicos portugueses sobre o uso da cetamina no tratamento da depressão resistente ao tratamento (DRT). A investigação, baseada num inquérito online anónimo a 156 profissionais, revela que apenas 35,9% dos participantes consideram ter boa compreensão do potencial terapêutico da cetamina, e cerca de um terço reconhece ter conhecimentos adequados sobre riscos e efeitos adversos.

Apesar destas lacunas, 59,6% dos inquiridos mostram abertura à integração da cetamina na prática clínica, com 78,9% a manifestarem interesse em formação específica e 79,4% a defenderem mais investigação nesta área. Entre as principais preocupações destacam-se a falta de formação especializada (73%), o risco de uso indevido por parte dos pacientes e a administração a pessoas com contraindicações clínicas (cerca de 50%). Os profissionais confiam sobretudo em centros de investigação (84,2%), organizações profissionais (79,7%) e colegas experientes (74,7%) como fontes de formação, mostrando menor confiança em instituições privadas e empresas farmacêuticas.

O estudo identifica diferenças geracionais e profissionais: os psiquiatras demonstram maior conhecimento e abertura à utilização da cetamina do que os psicólogos, enquanto os profissionais mais jovens (≤35 anos) revelam mais interesse em formação e maior recetividade à terapêutica, ao contrário do grupo etário intermédio (36-49 anos), mais cauteloso quanto aos efeitos adversos.

Os autores sublinham a necessidade de regulamentação clara, protocolos bem definidos e promoção de práticas clínicas éticas e seguras, alertando para a inexistência, em Portugal, de uma estrutura de formação amplamente acessível e reconhecida sobre cetamina. O artigo, a publicar na edição de maio de 2025 da Revista Acta Médica Portuguesa, destaca ainda a importância de mais investigação sobre os efeitos a longo prazo da cetamina em contexto clínico real, para garantir a eficácia, segurança e confiança de profissionais e pacientes.

PR/HN/MM

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