Acesso digital ao médico de família pode aumentar consultas desnecessárias e pressão sobre profissionais

3 de Maio 2025

O aumento do acesso digital aos médicos de família, impulsionado pela pandemia, está a provocar mais consultas desnecessárias e maior pressão sobre profissionais de saúde, alerta Magnus Wanderås, investigador da Universidade de Agder.

O acesso facilitado aos médicos de família através de tecnologia digital está a transformar de forma profunda a prestação de cuidados de saúde na Noruega. Segundo Magnus Wanderås, médico e investigador na Universidade de Agder, a possibilidade de iniciar uma e-consulta com apenas alguns cliques, ou de solicitar consultas por vídeo ou telefone, tornou-se uma realidade comum, especialmente após a pandemia de Covid-19, que acelerou esta transição. Atualmente, uma em cada cinco consultas de clínica geral no país é feita por via digital, seja por telefone, vídeo ou mensagem escrita.

No âmbito do seu doutoramento, Wanderås entrevistou 24 médicos de família para perceber como a digitalização está a alterar o serviço prestado. Os profissionais relatam que as consultas remotas são, em teoria, mais rápidas e permitem atender mais pacientes. No entanto, a realidade mostra-se mais complexa: desde o início da pandemia, o número total de consultas aumentou 13%, e quase um quinto dos pacientes que recorrem a consultas digitais acabam por necessitar de uma consulta presencial para resolver o problema.

Este fenómeno, designado por Wanderås como “dupla utilização” das consultas, contraria a expectativa inicial de que a digitalização aliviaria a pressão sobre os médicos. Pelo contrário, a facilidade de contacto leva muitos utentes a procurar aconselhamento para questões menores, como a escolha de pastilhas para a garganta, sobrecarregando ainda mais profissionais já exaustos.

Os médicos relatam também dificuldades em distinguir, à distância, entre situações graves e triviais, o que os obriga a verificar mensagens digitais fora de horas para garantir que não existe nenhum caso urgente por resolver. Além disso, a componente relacional, fundamental na medicina geral, perde-se nas plataformas digitais: a ausência de exame físico, comunicação não-verbal e o chamado “momento da maçaneta” – quando o paciente revela preocupações importantes no final da consulta presencial – são exemplos de aspetos que desaparecem nas interações remotas.

Apesar de reconhecer que algumas situações podem ser resolvidas digitalmente, Wanderås alerta para a necessidade de usar a tecnologia com critério. O governo norueguês propôs recentemente tornar obrigatória a oferta de consultas por vídeo, mas o investigador defende que os médicos devem manter autonomia para decidir como melhor servir os seus pacientes, sublinhando que inovação nem sempre significa progresso e que, perante resultados insatisfatórios, pode ser necessário recuar e reavaliar a estratégia.

https://www.uia.no/english/research/research-news/health-and-sport-sciences/people-contact-their-gp-to-ask-about-lozenges.html

Referência: Wanderås, M. R. (2025). Going remote in general practice: Investigating the transformation of healthcare delivery enabled by remote consultations [Doctoral dissertation]. University of Agder.

Imagem: Colourbox

NR/HN/ALphaGalileo

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