A situação humanitária na Faixa de Gaza atingiu um ponto crítico, com a subnutrição infantil a aumentar drasticamente e a colocar em risco a vida e o futuro de milhares de crianças. De acordo com dados recentes da UNICEF e da Organização Mundial de Saúde, o número de crianças tratadas por desnutrição aguda quase duplicou num mês, atingindo mais de 3.600 casos em março, quando antes da guerra estes casos eram praticamente inexistentes1. A maioria das crianças com menos de cinco anos enfrenta privação extrema de alimentos, estando especialmente vulnerável devido às suas necessidades nutricionais específicas.
O bloqueio imposto por Israel, que se prolonga há mais de 11 semanas, resultou no esgotamento quase total das reservas alimentares e médicas das organizações humanitárias que operam no terreno. Apesar de uma recente flexibilização do bloqueio, que permitiu a entrada de cerca de 90 camiões de ajuda humanitária, as agências da ONU alertam que esta quantidade é largamente insuficiente para responder às necessidades de uma população de 2,1 milhões de pessoas.
As consequências da subnutrição vão muito além da fome imediata. Especialistas alertam para efeitos irreversíveis no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, incluindo atraso no crescimento, problemas motores, défices intelectuais e maior suscetibilidade a doenças infecciosas como diarreia e pneumonia. A desnutrição materna durante a gravidez e nos primeiros meses de vida dos bebés agrava ainda mais o risco de complicações, como partos prematuros e danos permanentes no desenvolvimento cerebral.
A escassez de alimentos essenciais, como farinha e leite, levou ao encerramento de padarias e cozinhas comunitárias, enquanto hospitais relatam falta de pão até para pacientes e profissionais de saúde. O Hospital Especializado do Kuwait, em Rafah, indica que 85% dos medicamentos estão esgotados e que a maioria dos doentes sofre de anemia severa.
A ONU estima que 470.000 pessoas em Gaza enfrentarão níveis “catastróficos” de fome até setembro, com 71.000 crianças e mais de 17.000 mães a necessitarem de tratamento urgente para desnutrição aguda. Só nos últimos dois meses, pelo menos 57 crianças morreram de fome, e milhares estão em risco de vida.
A comunidade internacional tem vindo a aumentar a pressão para que Israel permita a entrada de mais ajuda humanitária, mas, até ao momento, a resposta tem sido insuficiente para travar o agravamento da crise. Organizações como a UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos alertam que, sem um aumento significativo do acesso a alimentos, água potável e cuidados de saúde, as consequências para as crianças de Gaza serão sentidas durante décadas, comprometendo toda uma geração.
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NR/HN/AlphaGalileo
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