Médica do Serviço Nacional de Saúde britânico vence a segunda edição do Women’s Prize

13 de Junho 2025

A médica de cuidados paliativos do Serviço Nacional de Saúde britânico Rachel Clarke venceu a segunda edição do Women's Prize para não ficção com "The Story of a Heart", que confronta a história de duas crianças ligadas por um transplante de coração, numa obra que alia os detalhes de procedimentos médicos ao impacto humano.

A história decorre em 2017, quando uma menina de nove anos de Devon, chamada Keira, esteve envolvida num acidente de carro que lhe causou uma lesão cerebral catastrófica. Simultaneamente, um rapaz de nome Max, da mesma idade, estava internado há oito meses com uma patologia cardíaca, mantido vivo por um coração mecânico. Esta é a história do transplante de coração de Keira para Max.

Durante o discurso de aceitação do prémio, a autora lamentou os tempos negros que o mundo atravessa, e evocou as guerras na Ucrãncia e em Gaza, assim como os conflitos vividos nas ruas de Los Angeles, para dizer que apesar disso acredita na bondade humana e que esse foi um dos motores da história que quis contar.

“Porque neste mundo feio e fraturado é fácil esquecer que a maior parte das pessoas tentam fazer o máximo para ser boas”, acrescentou.

Também a escritora holandesa-israelita Yael van der Wouden conquistou o prémio com o romance “A Guardiã” (publicado em Portugal pelas Edições Asa), uma história passada em 1961, na zona rural dos Países Baixos, numa casa de família onde uma rapariga, Isabel, vive isolada e marcada por rotinas rígidas, até ver o seu frágil equilíbrio abalado pela presença da namorada do irmão.

O que começa como desconfiança transforma-se em desejo, enquanto segredos enterrados — incluindo a origem da casa, adquirida após a deportação de judeus durante a guerra — emergem lentamente.

No discurso de agradecimento do prémio, a autora, que se identifica como ‘queer’, destacou a importância da aceitação da identidade e sexualidade de todas as pessoas, afirmando que quando escreveu o livro, em 2021, criou duas personagens sem esperança para lhes dar o que não deu a si própria, essa mesma esperança.

Yael van der Wouden alertou que todas as pessoas são “testemunhas e cúmplices” da violência e podem “mudar”, especificando de seguida a violência em Gaza e na Cisjordânia, mas também a violência praticada contra as pessoas trans.

As escritoras Yael van der Wouden e Rachel Clarke venceram o prémio literário Women’s Prize, nas categorias de ficção e não-ficção, respetivamente e vão receber, cada uma, 30 mil libras (35,6 mil euros), anunciou hoje a organização do galardão.

Este ano, o Women’s Prize para ficção celebra a sua 30.ª edição, tendo distinguido a escritora britânica Bernardine Evaristo, autora de “Rapariga, Mulher, Outra”, com o Prémio de Contribuição Excepcional do Women’s Prize, uma “edição única” para assinalar este aniversário.

Na categoria de ficção, ficaram para trás os romances “Linda menina”, de Aria Aber, “De quatro”, de Miranda July, “Conta-me tudo”, de Elizabeth Strout, “Fundamentally”, de Nussaibah Younis, e “The persians”, de Sanam Mahloudji, estes dois últimos não publicados em Portugal.

Na área da não ficção, eram também finalistas a cantora e compositora sueca Neneh Cherry, com “A Thousand Threads”, a deputada britânica Yuan Yang, com “Private Revolutions: Coming of Age in a New China”, a conselheira política e especialista em política externa Chloe Dalton, com “Raising Hare”, a bióloga marinha Helen Scales, com “What the Wild Sea Can Be”, e a historiadora e biógrafa Clare Mulley com “Agent Zo: The Untold Story of Fearless WW2 Resistance Fighter Elżbieta Zawacka”.

Criado em 1996, o Women’s Prize distingue anualmente a autora de um livro publicado no Reino Unido, tendo lançado no ano passado uma categoria de não-ficção.

lusa/HN

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