António de Sousa Uva Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP)

Ainda a propósito da COVID-19: a propagação silenciosa!

07/03/2020

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

Ainda a propósito da COVID-19: a propagação silenciosa!

03/07/2020 | Opinião

Muito alvoroço mediático e “especulação” sobre a actual situação no combate à COVID-19, com especial enfoque na Região de Lisboa e Vale do Tejo (leia-se área metropolitana de Lisboa). Muitas dúvidas, portanto:

Serão as empresas com insuficientes planos de actuação as responsáveis?

Serão as festas “clandestinas” as principais responsáveis? 

Serão as regiões mais populosas e menos abastadas o “berço” do recrudescimento?

Serão os transportes públicos (leia-se a sua insuficiência) “os maus da fita”?

Será um “desconfinamento” precoce a principal razão?

Ter-se-ão “relaxado” os comportamentos preventivos?

…………………………………………………………………….

Até …(?), será uma primeira onda da segunda vaga?

……………………………………………………………………….

O que é certo é que o número de novos casos não só não decresceu como não se manteve estável e isso determina ações mais enérgicas de gestão do risco. Nesse contexto existem, no entanto, diferenças consideráveis com o que se passou em finais de fevereiro e em março. A resposta do SNS, medida através da “pressão” sobre os hospitais, é agora diferente e as consequências da COVID-19, medidas por taxas de ocupação dos Cuidados Intensivos e por indicadores de mortalidade, são, aparentemente, bem diferentes.

Também os grupos etários dos casos de doença se transmutam e o contágio por assintomáticos ganha protagonismo em relação aos pré-sintomáticos e aos sintomáticos na disseminação da doença e o muito desconhecimento que ainda temos sobre a “história natural” da COVID-19 é, felizmente, cada vez mais evocado o que desperta e aguça a curiosidade de quem estuda e investiga a distribuição da doença na comunidade.

No entanto, insidiosamente, a grande mediatização que existe sobre a actual “virose” traz cada vez mais opiniões sobre o que está a suceder e “florescem”, entre outros, os neoespecialistas de Saúde Pública, de Epidemiologia, de Infecciologia ou de Virologia. Também “floresce” a explicação do (relativo) insucesso da luta contra a pandemia e emergem explicações que extravasam a perspectiva da “culpa” para, por exemplo, aspectos relacionados com a insuficiência de recursos, designadamente da dotação, em número, de profissionais de Saúde Pública e “improvisam-se” respostas num contexto de resposta organizada.

Os holofotes desviam-se agora dos trabalhadores da Construção Civil e Obras Públicas e das grandes empresas e, o que é preocupante, “renascem” os contextos, entre outros, dos lares de idosos e dos hospitais com, em minha opinião, insuficientes respostas num contexto do que vou chamar “propagação silenciosa”.

A teoria da “culpa” sofre um pequeno revés em relação à “teoria do risco”! Nada está perdido! A perspectiva do “milagre” dos Portugueses esmorece e investe-se mais em respostas organizadas. Por exemplo:

 A resposta de Saúde Pública não deveria centrar nos lares ou, por exemplo, nas unidades de cuidados continuados a sua atenção sendo proactivo nas suas estratégias de acção naquele formato de “propagação silenciosa”?  

Gostava de voltar a afirmar que o que caracteriza a Saúde Pública são formas organizadas de protecção da saúde das populações que exigem ANTECIPAÇÃO ou, se preferirem que se actue antecipadamente. É isso a prevenção e é bom recordar que a “carruagem ainda vai no adro”!  

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This