Dia Mundial da Alergia. Asma em tempo de pandemia e a relevância do desporto

6 de Julho 2020

Professor Pedro Carreiro Martins

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Dia Mundial da Alergia. Asma em tempo de pandemia e a relevância do desporto

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06/07/2020 | Alergologia

“A asma é uma doença inflamatória crónica das vias aéreas, que se carateriza clinicamente por episódios recorrentes de tosse, pieira e falta de ar, e que tem como caraterística uma limitação do débito aéreo”. Quem o explica é o Dr. Pedro Carreiro Martins, médico imunoalergista no Hospital da Luz, em Lisboa.

Com origem alergénica ou genética, esta doença obstrói as vias aéreas de forma intermitente. Ou seja, “as crises de asma variam ao longo do tempo, e a alteração pode ser da manhã para a tarde”, de um dia para o outro, ou mesmo sazonal, sobretudo no caso da asma alérgica – tipicamente mais intensa na primavera e outono. 

Os sintomas são a tosse seca e arrastada, ou pieira, quando a pessoa se ri, um cansaço incomum com os esforços… São coisas que as pessoas começam por não ligar mas, há medida que se vão tornando mais incómodos e recorrentes, as pessoas consideram ser uma constipação […]. Geralmente as pessoas só se preocupam com a falta de ar”, elabora o Dr.Carreiro Martins

Hoje, apesar de crónica, a asma é algo com que a maioria dos pacientes aprende a viver, e que pode ser facilmente controlada através de medicação. A estes casos, os médicos chamam de asma controlada (por oposição à asma descontrolada). Mas nem sempre foi assim, “durante muitos anos olhou-se para a asma como um chapéu para várias situações. Tratavam-se os doentes como se houvesse só uma forma de asma, enquanto hoje nós sabemos que a asma é muito mais complexa, que há vários subgrupos de várias características clínicas”, disse o Dr.  Carreiro Martins.

Estes subgrupos, que variam sobretudo em função do paciente, tratam-se dos fenótipos da doença. “Há vários fenótipos descritos, o primeiro foi por volta de 1960, quando foi descoberto o fenótipo da asma alérgica e da asma não alérgica. Mas há também a asma em doentes com obesidade, em doentes fumadores. Isto é importante porque nós selecionamos os doentes para ensaio clínico com base no diagnóstico de asma, mas sabemos que há  doentes com asma que respondem melhor a um tipo de tratamento do que a outro”. Para Pedro Martins Carreiro, a definição exata do fenótipo de asma apresentado é essencial, pois é sobretudo o fenótipo que determina o processo terapêutico a seguir.

Na maior parte dos casos, essa terapia passa pela administração de broncodilatadores – algo que distingue desde já a asma da maioria das outras doenças pulmonares obstrutivas. Ainda assim, a eficácia do broncodilatador está limitada pelo fenótipo apresentado no paciente. “O asmático melhora espontaneamente e de uma forma muito rápida e marcada, […] mas um fumador, por exemplo, nunca vai conseguir uma melhoria perto da resposta dada por um não fumador. Essa característica deixa-nos dizer que há uma broncomotricidade das vias aérea, uma característica da asma”, explica o Dr. Carreiro Martins. 

Asma Grave

Existem essencialmente três dimensões da doença: se tem origem alérgica ou não alérgica, se é controlada ou descontrolada, e o fenótipo. Mas existe ainda a asma grave.” A asma tem uma classificação por degraus e, conforme a gravidade da asma, vamos posicionando medicação de acordo com a sintomatologia do doente, mas há doentes que para terem a sua asma controlada precisam de uma dose elevada de corticoides inaláveis associada a mais medicação controladora”. Segundo o Dr.  Carreiro Martins, a estes doentes, que se encontrem nos degraus quatro e cinco (a gravidade da asma mede-se numa escala de 1 a 5), é diagnosticada asma grave.

 “Há doentes que precisam de doses mais altas [de corticoides]. É aqui que entramos na situação da asma grave. É uma questão complexa, mas basicamente é a condição atribuída aos doentes que se encontram nos degraus 4 e 5 da Iniciativa Global para a Asma (GINA) e que precisam dessa medicação para controlar a asma, ou então não chega, e por isso temos que recorrer aos anticorpos monoclonais ou biológicos”, explica o Dr. Carreiro Martins .

Durante anos os pacientes com asma enfrentaram altas taxas de mortalidade. Algo que, segundo o Dr.  Carreiro Martins, só começou a mudar por volta de 1950, “quando surgiram as primeiras provas da eficácia dos corticoides nos doentes com asma e alergias”. O verdadeiro avanço, contudo, veio mais tarde, com a introdução dos corticoides inaláveis. Este é o método mais seguro e estável para controlar a asma, e elimina a maioria dos efeitos secundários próprios dos corticoides orais ou musculares ejetáveis usados antigamente. É esta a base dos dispositivos inalatórios. 

Mais recentemente, foi também anunciada a introdução no mercado do Mepolizumab para auto-administração. À semelhança dos dispositivos inalatórios, este medicamento  pode ser administrado pelo próprio paciente no conforto da sua casa. Como explica a Dra. Joana Caiado, o Mepolizumab “administra-se pela via subcutânea uma vez por mês no hospital”, um método que será transportado para a nova versão do medicamento.

Há sempre uma interação entre a genética e a exposição

“Assumindo que a asma tem uma componente genética muito forte, haver um ascendente no pai, ou, sobretudo na mãe, aumento muito o risco de uma pessoa vir a desenvolver asma. Não é uma certeza de que ter um pai ou mãe asmática originem asma no filho, mas a probabilidade é bastante significativa. De 50% ou mais. Depois, o contexto do tabagismo, mesmo através dos pais, também desencadeia a asma, embora aqui os dados não sejam consensuais mas tudo aponte para que sim”, explica o Dr. Carreiro Martins .

Mas o tabagismo não é o único fator potenciador de asma e, até mesmo problemas aparentemente desligados do sistema respiratório podem ajudar a contrair asma. “Existem também alguns trabalhos que apontam para a obesidade como potenciador do risco de contrair asma. Muitas vezes os hábitos alimentares destas pessoas potenciam um metaboloma ou uma microbiota intestinal que seja propícia a gerar produtos que desencadeiem asma. No fundo, há sempre uma interação entre a genética e a exposição”, 

A asma e o Covid-19

Quanto à situação da presente pandemia de COVID-19, a Dra. Joana Caiado, assistente hospitalar graduada de Imunoalergia no Hospital Santa Maria, em Lisboa, refere que estes pacientes “não são mais propícios a contrair o vírus, mas estão sobre risco acrescido de agravamento dos sintomas”. Sobretudo porque ambas a doenças implicam um débito aéreo, derivado de dificuldades respiratórias.

Nesse sentido, o os cuidados dos hospitais e também dos próprios pacientes têm incidido sobretudo na prevenção. A medida mais recomendada? A não interrupção da medicação durante o Verão – altura em que os pacientes que padecem de asma alérgica tendem a por de lado a medicação por estarem mais seguros.

Ainda assim, o efeito da pandemia faz-se sentir indiretamente nos pacientes através do cancelamento de consultas e, em alguns casos, das dificuldades acrescidas no seguimento. Um efeito que abrange de maneira indiscriminada todas as áreas do atendimento hospitalar.

Desporto com “conta peso e medida” faz bem a qualquer pessoa

A asma alérgica corresponde a cerca de 70 a 80% de todas as asmas e tem, habitualmente, início precoce. Os restantes casos, de início tardio, tendem a ser de origem genética. Por isso mesmo, parte da terapêutica para as crianças é não farmacêutica e inclui o desporto para além de certas medidas educativas. 

“A natação é um bom exemplo. Temos a noção de que a natação é o desporto de excelência para os asmáticos. De facto, é um desporto que exercita os músculos respiratórios, está no meio húmido, e isso é bastante bom. Agora, metade dos atletas olímpicos têm asma. Ou seja, este benefício do desporto desaparece”, diz o imunoalergologista que justifica a afirmação com a “curva em J” do benefício do desporto.

“O desporto deve ser praticado por qualquer individuo, seja asmático ou não. Quem tem uma doença crónica deve preservar mais a sua saúde, e, no caso dos doentes asmáticos, deve-se praticar algum desporto que estimule os músculos respiratórios. Mas sempre com conta peso e medida, e com atenção ao ambiente em que se pratica o desporto. Isto porque se for asmático e for correr para a segunda circular ou para a Avenida da Liberdade vai inalar mais poluentes”, conclui.

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