Na ação de formação da Academia da OMS, esta semana, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, participaram igualmente profissionais dos hospitais São Francisco Xavier (Lisboa), do Centro Hospitalar Tondela-Viseu e do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Em declarações à Lusa, o coordenador da formação, Nelson Olim, médico com experiência de cenários de guerra e da Academia da OMS, explicou que o objetivo é “harmonizar procedimentos para que todos hospitais, independentemente do seu nível recursos, respondam a uma situação de catástrofe da mesma forma”.
O cirurgião especialista em medicina de catástrofe explicou que esta formação é a primeira promovida pela Academia da OMS, que arrancou este ano e visa dar aos trabalhadores da saúde de todo o mundo acesso a conteúdos de treino relevantes para o seu dia a dia.
“Percebemos que esta área da gestão multivítimas era uma das que tinha de ser abordada (…). Começámos a dar esta formação na Somália, depois na Etiópia, já fizemos no Afeganistão e, na Europa, estivemos na Grécia e em França. Portugal é o terceiro país europeu”, contou.
Olim sublinha a importância de harmonizar a linguagem na gestão multivítimas para situações de catástrofe, frisando que o objetivo é “criar uma linguagem comum para que todos os hospitais possam comunicar entre si usando o mesmo vocabulário”.
Nelson Olim diz que seria importante a adoção deste programa a nível governamental, passando a ser incorporado nos programas do Ministério da Saúde e das administrações regionais de saúde. “A partir dai seria mais fácil criar escala e disseminar”, disse.
“Estas formações piloto servem igualmente para identificar possíveis formadores que depois podem, em português, fazer a formação nos restantes hospitais do país”, afirma.
O médico sublinhou igualmente a importância de se perceber que a resposta a situações de catástrofe não é um problema apenas do serviço de urgência, mas sim de todo um hospital.
“O serviço de urgência precisa de suporte dos restantes departamentos do hospital para conseguir responder adequadamente”, defendeu Nelson Olim, exemplificando: “Os serviços de urgência já estão habitualmente sobrelotados no seu dia-a-dia. Se um serviço sobrelotado vai receber mais 40 ou 50 vítimas não tem forma de gerir.”
“Estamos a falar de um curso de abordar o que é que acontece na primeira meia hora ou na primeira hora após um evento crítico. Se os outros departamentos suportarem o serviço de urgência criamos uma situação onde este serviço pode responder de forma adequada”, afirma.
À volta da mesa que mostra a planta do hospital onde trabalha, Ana Camões, adjunta da direção do serviço de urgência no Hospital São Francisco Xavier, distribui com os colegas as rodinhas de cor que representam os médicos, enfermeiros, as camas e outros meios necessários para responder a uma situação de catástrofe.
Em declarações à Lusa, a responsável sublinha a importância de olhar para a resposta a uma catástrofe como um problema de todo o hospital, frisando que o resultado depende muito da entreajuda entre serviços.
“Aqui [na formação] conseguimos fazer a gestão não só de recursos humanos como dos recursos materiais e avaliar todo o processo”, explicou a especialista da equipa de S. Francisco Xavier, que além desta profissional do serviço de urgência levou duas outras dos serviços de medicina e quatro enfermeiras do serviço de urgência.
“O serviço de urgência é sempre a porta do hospital, é normalmente quem recebe os doentes, mas no fundo este não é um problema do serviço de urgência, mas um problema de todo o hospital. Nós lidamos primeiramente com os doentes, mas depois os doentes têm que ser encaminhados”, afirmou a responsável, sublinhando a importância de os serviços fazerem periodicamente simulacros para treinar procedimentos.
Anabela Oliveira, diretora do serviço de urgência central do Hospital Santa Maria, que acolheu a formação, reconhece a importância deste curso e diz que permite refletir sobre os planos já existentes e rever alguns aspetos.
“Permite refletir sobre os planos que já temos, à luz deste curso, e rever circuitos e alguns aspetos não previstos no plano, como por exemplo a instalação de um alarme e a criação de áreas de transferência de doentes”, afirma a responsável, lembrado: “Todo o ‘mindset’ da urgência perante uma situação de emergência multivítimas tem de ser alterado”.
A responsável sublinha a partilha de experiências de realidades diferentes que o curso permitiu, uma vez que cada hospital reproduziu a sua urgência e treinou a sua resposta a uma situação de catástrofe, em que tem de acolher dezenas de vítimas em pouco espaço de tempo.
“Vamos planear nos próximos tempos rever o nosso plano, à luz do que aprendemos, fazer sessões de formação e divulgação para os outros profissionais e simulacros”, afirmou Anabela Oliveira, acrescentando que o trabalho de resposta a uma catástrofe é como o dos pilotos: “rever planos e fazer a ‘check-list‘ antes de levantar voo”’.
“Tem de haver treino e muita disciplina nestes processos porque temos de salvar o maior número possível de vítimas”, concluiu.
LUSA/HN
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