A propósito do quinto aniversário da eleição de António Guterres como secretário-geral da ONU, data que se marca hoje, Francisco Duarte Lopes considerou à agência Lusa que “os focos de atrito de natureza geoestratégica e os conflitos em várias áreas do mundo têm vindo a subir”.
“Julgo que este mandato é marcado pela ação do secretário-geral como ação lúcida, de contactos permanentes com todas as partes, e também pelo seu envolvimento pessoal especialmente na área da prevenção, procurando evitar a deflagração de mais conflitos, alguns conflitos que estão iminentes”, disse o representante permanente de Portugal junto da ONU.
A 05 de outubro de 2016, o Conselho de Segurança chegou a acordo sobre o nome a recomendar à Assembleia Geral da ONU para secretário-geral, com 13 votos a favor de António Guterres e duas abstenções.
No dia seguinte, a recomendação do Conselho de Segurança seguiu para a Assembleia dos 193 Estados-membros, que a 13 de outubro anunciou António Guterres como próximo secretário-geral.
António Guterres realizou o seu primeiro mandato de 01 de janeiro de 2017 até junho último, altura em que foi reeleito, reconduzido ao cargo e iniciou o segundo mandato como chefe máximo da organização.
Para Portugal, a eleição foi “muito importante”, sublinhou Francisco Duarte Lopes, porque foi o reconhecimento oficial por parte do Conselho de Segurança “de que o engenheiro Guterres era um ótimo candidato”.
Como alguns dos pontos mais importantes dos últimos quatro anos e meio, Francisco Duarte Lopes referiu as propostas de reformas apresentadas por Guterres nas áreas de gestão, paz e segurança e de desenvolvimento, que “em traços gerais, mereceram a aceitação de todos os Estados-membros” e que possibilitaram às Nações Unidas resultados de “maior eficiência” em cada país.
Segundo o embaixador português, Guterres incitou e defendeu que “toda a ação do universo das Nações Unidas”, incluindo de todos os programas, agências e fundos da ONU, “possa incluir transversalmente o cumprimento dos direitos humanos e avanços claros na área de direitos humanos”, com um “Call to Action” (Apelo à Ação), no ano passado.
No contexto da pandemia de covid-19, o secretário-geral apelou a um cessar-fogo global e defendeu a distribuição equitativa das vacinas “como um bem público global” em todo o mundo, afirmando, nas palavras de Francisco Duarte Lopes, “a liderança e a rapidez de respostas”.
A “centralidade” da agenda climática no mandato de António Guterres é também de destaque, visivelmente na aplicação do Acordo de Paris sobre o clima e no envolvimento pessoal nas conferências relacionadas, incluindo na Conferência COP26 que se realiza em Glasgow de 31 de outubro a 12 de novembro.
“Especialmente em termos de equilíbrio de género”, acrescentou o representante permanente, “os avanços foram conseguidos em todo o secretariado das Nações Unidas”, levando a um equilíbrio “muito visível” dos funcionários de sexo masculino e feminino “no conjunto dos lugares mais seniores” no sistema da ONU.
Questionado sobre a possibilidade de ter o português como língua oficial da ONU, Francisco Duarte Lopes respondeu que se trata de um objetivo de “longo prazo”.
“De facto, o secretário-geral ser português dá naturalmente uma maior visibilidade” à língua, como acontece também quando há oficiais de países lusófonos a ocupar lugares de relevo, defendeu o representante permanente.
“O que nós temos feito é dar passos para que um dia, surgindo essa oportunidade, a possamos aproveitar”, disse.
“É de facto um objetivo no longo prazo e nós, neste momento, o que podemos fazer é ir colocando o português nas várias organizações regionais, ir colocando o português em várias agências das Nações Unidas, para que um dia a importância global do português justifique que também se torne numa das línguas oficiais da Organização”, declarou Francisco Duarte Lopes.
LUSA/HN
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