Câmara de Gaia quer incluir no programa de cuidadores informais o “internamento de alívio”

12 de Outubro 2021

Com 246 beneficiários a integrar o programa municipal de apoio a cuidadores informais, a Câmara de Gaia pretende, a partir de novembro e em articulação com instituições sociais e hotéis, incluir no programa a valência de “internamento de alívio”.

“Este mês de novembro vamos lançar um programa, em articulação com as IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social] locais e hotéis da região, que visa, durante um curto espaço de tempo, ter uma IPSS que receba a pessoa cuidada para permitir que o cuidador possa usufruir de um hotel da região”, afirmou ontem o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia.

Eduardo Vítor Rodrigues, que falava à agência Lusa a propósito do programa de apoio a cuidadores informais, salientou que o objetivo deste “internamento de alívio” é permitir que o cuidador que está 365 dias afeto à pessoa cuidada “possa ter um momento para si, seja de repouso, descanso ou mudança de ares”.

Lançado em janeiro, o Programa Municipal de Apoio aos Cuidadores Informais de Gaia – “GaiaCuidador” – visa garantir que as pessoas que necessitam de cuidados permanentes, com baixos rendimentos, possam permanecer no seu domicílio sob os cuidados de familiares, evitando-se ou retardando-se a sua institucionalização.

O programa envolve a atribuição de um apoio económico aos cuidadores informais, pagos trimestralmente, nomeadamente, uma verba de 220 euros no caso dos cuidadores informais “principais” e 120 euros no caso dos cuidadores informais “não principais”. O programa integra ainda sessões de informação e esclarecimento para o desenvolvimento dos cuidados a prestar.

A nova valência do programa, que será oficialmente apresentada hoje, dia da tomada de posse dos novos órgãos autárquicos, resulta do trabalho e diagnóstico feito pelas equipas que estão no terreno e envolvidas no “GaiaCuidador”.

“Isto não é apenas um programa administrativo. Há uma equipa da área que está a trabalhar. Isto não são ideias do presidente, nem ideias pessoalistas. Isto é o trabalho da equipa que está no terreno a fazer o diagnóstico e estas propostas decorrem desse diagnóstico”, afirmou o autarca.

Considerando que no seu arranque, a valência de “internamento de alivio” não será “muito bem-sucedida”, dado o estigma e preconceito associado ao internamento da pessoa cuidada, Eduardo Vítor Rodrigues disse acreditar que a mesma vai “contribuir” para o futuro programa nacional de apoio aos cuidadores informais.

“Vamos ter de fazer um trabalho mais de âmbito psicológico porque os técnicos que estão a acompanhar o processo vão percebendo que não há muito esta predisposição. Há uma espécie de estigma no internamento num lar, mas a verdade é que todos os dados mostram que os cuidadores informais vivem normalmente um duplo problema, o da pessoa cuidada, mas também o seu próprio problema”, acrescentou.

O “GaiaCuidador” – que surgiu com o intuito de “suprir uma lacuna” – abrange, neste momento, 246 beneficiários, na sua maioria mulheres, que cuidam tanto de filhos, como de pais ou sogros com doenças crónicas ou deficiências que os tornam dependentes.

Em maio, eram 360 os beneficiários neste concelho do distrito do Porto e cerca de 800 as candidaturas em análise, sendo que muitas das candidaturas “não preencheram os requisitos da lei” e que, desde então, algumas das pessoas cuidadas morreram.

“Houve um momento de pico de inscrições, mas depois, nós próprios também travamos o processo de divulgação. A partir de julho paramos porque tudo poderia ser mal-entendido com a proximidade das eleições”, afirmou o autarca, após a última reunião do executivo camarário.

Questionado se o aumento de candidaturas ao programa municipal ilustrava a necessidade de Vila Nova de Gaia pertencer à lista de 30 municípios nos quais decorre, em experimentação, o programa nacional de apoio aos cuidadores informais, Eduardo Vítor Rodrigues recusou comentar as escolhas do Governo, mas salientou a necessidade de ser feito um balanço.

“Acho que é chegado o momento de fazermos este balanço e talvez uma das formas que a Segurança Social pode ter de agilizar tudo isto e até de arranjar novas respostas através de parcerias locais que não consegue fazer e que os municípios conseguem é descentralizar alguns destes recursos, fazendo com que eles sejam mais facilmente operacionalizados no território”, afirmou.

Segundo dados da autarquia divulgados em janeiro, em Vila Nova de Gaia estima-se que existem cerca de 1.200 cuidadores informais.

LUSA/HN

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