Organização “indignada” com convite a ministro brasileiro para conferência em Lisboa

23 de Outubro 2021

O Coletivo Andorinha, que representa brasileiros em Portugal, manifestou hoje "indignação" com o convite ao ministro da Saúde do Brasil para uma conferência sobre covid-19 na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), na próxima semana

O ministro brasileiro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi convidado para uma conferência na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, escolhendo abordar o combate à covid-19 no Brasil, numa altura em que é pedida a sua indiciação pela prática de crimes na gestão da pandemia.

Numa nota hoje divulgada, o Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira em Lisboa questiona a decisão do diretor da FMUL, Fausto Pinto, sobre o convite, considerando que o anúncio da conferência, “após a divulgação do relatório final da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a pandemia da covid-19]” causou “estarrecimento”.

A CPI da covid-19, que ao longo de seis meses investigou alegadas falhas e omissões do Governo brasileiro na gestão da pandemia, apresentou na quarta-feira o seu relatório final, no qual pediu o indiciamento de 66 pessoas por crimes durante a pandemia, incluindo Queiroga e o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Dirigindo-se ao diretor da FMUL, o Coletivo Andorinha disse que os seus membros, “como grande parte da comunidade internacional” estão “preocupados, para não dizer indignados”, com a divulgação da visita e da conferência intitulada “As ações do Brasil no enfrentamento da covid-19”, marcada para a próxima terça-feira, na Aula Magna da Universidade de Lisboa.

Em comunicado publicado na página oficial da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), na qual se citam esclarecimentos do diretor da instituição, o professor Fausto Pinto, a faculdade justifica o convite ao ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Queiroga, como sendo de âmbito académico a “um médico cardiologista, ministro da Saúde dum país amigo”.

“Vem visitar a nossa Faculdade, pelo que foi convidado, como académico, a proferir uma conferência, tendo escolhido o tema que entendeu. A Universidade será sempre um espaço aberto, sem tabus ou preconceitos”, lê-se no comunicado, publicado no ‘site’ da FMUL na sequência de vários contactos da comunicação social a questionar a confirmação da presença do ministro brasileiro.

Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19, havendo a recomendação para que seja indiciado por dois crimes – prevaricação e epidemia com resultado de morte, sendo que neste último a moldura penal varia entre os quatro e os 15 anos de prisão, consoante se prove ou não a intenção de provocar a morte.

A visita do ministro brasileiro a Portugal – mas também ao Reino Unido, onde se desloca para visitas às universidades de Cambridge e Oxford e outras instituições, prevendo-se também a assinatura de protocolos – foi notícia na imprensa brasileira, com o jornal O Globo a questionar a Universidade de Lisboa sobre a manutenção do convite depois de terem sido conhecidas as conclusões da investigação da comissão parlamentar de inquérito (CPI).

O jornal brasileiro recorda que o governante brasileiro por diversas vezes se manifestou contra o uso obrigatório de máscara.

Refere também que a CPI concluiu que o ministro praticou os crimes referidos por ações como omissão e comportamento dúbio sobre a recomendação do uso da cloroquina, contribuindo para a desinformação da população brasileira.

Ao Presidente Bolsonaro foram atribuídos os crimes de prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade.

Na véspera da apresentação do texto, foram retiradas as acusações relativas aos crimes de homicídio qualificado e genocídio contra indígenas. As propostas não receberam apoio de outros membros do comando da comissão e havia dúvidas quanto à caracterização das condutas.

O documento apresentado pela CPI deverá ser votado na próxima semana.

Face às acusações, Bolsonaro afirmou que ele e o seu Governo não têm culpa de “absolutamente nada” em relação ao agravamento da pandemia no país, que já matou mais de 603.855 mil brasileiros e infetou outros 21,6 milhões.

NR/HN/LUSA

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

30.º CNMI destaca a importância do rastreio nutricional hospitalar

Ricardo Marinho foi palestrante da sessão intitulada “Risco nutricional a nível hospitalar: como reconhecer e orientar”, e moderada por Aníbal Marinho. Nesta sessão, o especialista destacou a importância crucial do rastreio nutricional em ambiente hospitalar, especialmente no contexto da Medicina Interna, e delineou estratégias para identificar e orientar adequadamente os doentes em risco.

Medicina de precisão VS Medicina Baseada na Evidência

No 30.º CNMI, José Delgado Alves destacou-se como palestrante na sessão “Medicina de precisão VS Medicina baseada na evidência”, moderada por Carlos Carneiro. A sessão teve como objetivo explorar a integração de diversas abordagens médicas, ressaltando que a prática da Medicina não se pode basear numa única perspetiva.

Quais os desafios e soluções em Geriatria?

Mariana Alves teve a oportunidade de apresentar uma sessão dedicada aos princípios básicos das unidades de Ortogeriatria, dentro do tema mais amplo “Desafios e soluções em Geriatria: da urgência ao ambulatório”.

Atualizações em Doenças das Vias Aéreas

Na sessão dedicada à atualização em doenças das vias aéreas, Adelina Amorim proporcionou uma análise abrangente e detalhada sobre as bronquiectasias, destacando os últimos avanços na compreensão e tratamento desta condição pulmonar crónica.

Diabetes e Obesidade no 30.º CNMI

Na sessão dedicada à diabetes e obesidade, Elisa Tomé ofereceu uma visão abrangente e atualizada sobre o tratamento do diabético tipo 2 com obesidade, destacando a importância de abordagens integradas para lidar com ambas as condições.

Análise sobre acesso ao Serviço de Urgência em Portugal

No 30.º CNMI, Frederico Guanais, diretor adjunto da divisão de saúde da OCDE, trouxe a debate o acesso aos serviços de urgência em Portugal. Durante a sua apresentação, Frederico Guanais partilhou os principais resultados da publicação “Health at a Glance 2023” da OCDE, oferecendo uma visão comparativa do desempenho do sistema de saúde português.

Como gerir a doença crónica durante a gravidez?

Na sessão intitulada “Doença crónica grave e gravidez: como gerir” do 30.º CNMI, Inês Palma dos Reis abordou questões cruciais relacionadas com a saúde materna e fetal. Com um enfoque na prevenção e mitigação de riscos, a palestra procurou fornecer orientações essenciais para médicos de mulheres com doença crónica.

Quem são os 17 cabeças de lista às eleições europeias de 09 de junho?

No próximo dia 9 de junho, com exceção dos representantes do PTP e do MAS, todos os cabeças-de-lista às eleições europeias apresentam-se pela primeira vez.  Dos 17 cabeças-de-lista apresentados, apenas dois  têm formações e carreiras diretamente ligadas ao setor da saúde, é o caso de Marta Temido com formação e experiência diretamente ligada ao setor da saúde, foi Ministra da Saúde e é doutorada em Saúde Internacional pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, além de ter um mestrado em Gestão e Economia da Saúde pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Manuel Carreira, psicoterapeuta e psicólogo forense e trabalha como psicólogo no Centro Hospitalar de Leiria. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights