Estudo indica que tempo para planear cuidados foi escasso para enfermeiros

7 de Dezembro 2021

Um estudo desenvolvido por investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), que envolveu 2.394 enfermeiros, mostra que para 76% destes profissionais o tempo para planear e reformular cuidados foi escasso durante a pandemia.

Em declarações à agência Lusa, Olga Ribeiro, investigadora do centro do Porto, revelou hoje que o estudo visava perceber o impacto da Covid-19 na prática profissional de enfermagem em contexto hospitalar, mas também contribuir para que as instituições melhorassem os seus ambientes.

“Quisemos identificar alguns fatores que podiam estar a tornar mais negativa a prática de enfermagem no contexto da pandemia da Covid-19 e contribuir para os órgãos de gestão das instituições”, disse Olga Ribeiro, também docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP).

Na investigação, desenvolvida também por investigadores da ESEP, participaram 16 instituições hospitalares e 2.394 enfermeiros, sendo que 63% destes prestaram assistência a doentes com Covid-19 nos últimos 20 meses.

Dos mais de dois mil profissionais de saúde, 76% assumiram que o tempo para planear e reformular cuidados foi escasso.

“Apesar do empenho e profissionalismo, os enfermeiros sentem que os ambientes não permitem na plenitude uma prática centrada na pessoa”, referiu, acrescentando que os inquiridos apontam como fator a falta de enfermeiros, a elevada carga de trabalho e complexidade dos cuidados.

Paralelamente, 60% dos enfermeiros assumiram que, nos últimos meses, a prática esteve centrada sempre, ou muitas vezes, na gestão de sintomas da doença, “o que, comparativamente a um contexto anterior à pandemia, pode parecer um retrocesso”.

Apesar disso, “nem tudo foi negativo”, salientou Olga Ribeiro, destacando existirem aspetos onde o impacto da pandemia foi positivo, nomeadamente, na “disponibilização de materiais, em termos de equipamentos disponíveis e tecnologias de informação e comunicação”.

A colaboração e o trabalho em equipa foram avaliados positivamente por 83% dos participantes.

À Lusa, a investigadora afirmou que, face aos resultados, urge “um importante reforço” do número de enfermeiros e enfermeiros especialistas, uma vez que, 75% dos participantes disse estar em número suficiente face ao número de doentes e às suas necessidades.

“Os próprios profissionais revelam preocupação com a segurança dos cuidados”, disse, salientando que outro aspeto a considerar é o “envolvimento e sentido de pertença dos enfermeiros às instituições”.

 “A criação de condições para a qualificação profissional, o reconhecimento e valorização de competências e do papel que desempenham também era importante. Depois destes 20 meses, ficam com a sensação de dever cumprido, mas sentem que não foram retribuídos pelo esforço”, salientou.

Os investigadores pretendem agora comunicar os resultados obtidos a cada uma das instituições envolvidas para que estas possam “melhorar” as suas práticas.

“Temos previsto o desenvolvimento de uma estratégia mais robusta baseada nesta onde podemos sugerir estratégias para melhorar os aspetos que estão piores, fazendo algumas sugestões que podem contribuir para melhorar”, acrescentou.

A Covid-19 provocou pelo menos 5.253.726 mortes em todo o mundo, entre mais de 265,13 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.551 pessoas e foram contabilizados 1.169.003 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This