As doenças e as perturbações mentais tornaram-se, no seu conjunto e nos últimos anos mais ainda pela Pandemia que atravessamos (ou que nos atravessa?), na principal causa de incapacidade e numa das principais causas de morbilidade nas sociedades.
Constitui-se claramente como uma gravíssima questão de Saúde Pública e o Natal nunca é um tempo bom para nos esquecermos disso.
Sabemos todos que, na verdade, não há Saúde sem uma boa Saúde Mental…
As perturbações mentais e do comportamento representam cerca de 12% da carga global das doenças em Portugal, mais do que as doenças oncológicas e apenas “batidas” pelas doenças cérebro-cardiovasculares que, obviamente não pareceram “assustadas” pelo SARS-CoV-2 embora tragicamente possam ter sido algo esquecido.
Por outro lado, mais de um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica.
Portugal com 22,9% é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, sendo apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte (23,1%). Estes dados são os da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.
Há que reflectir sobre os determinantes de saúde mental. Estes incluem aspectos biológicos, vulnerabilidades genéticas, condições ambientais, sociais e económicas, a exposição precoce a formas de stress ou trauma, factores religiosos, culturais e profissionais.
As medidas ditas de defesa da saúde pública que foram sendo adoptadas a uma escala quase universal, desde Wuhan na China e desde finais de 2019, como as quarentenas ou cercas sanitárias impostas, os isolamentos preventivos ou terapêuticos, enfim um sentido generalizado de “confinamento” terá salvado – inquestionavelmente – muitas vidas.
Mas o levantamento das suas consequências no plano psicológico, por exemplo, entre os mais idosos e que tenham sobrevivido ao “bicho” ou entre os que saíram claramente fragilizados pelo desemprego, pelos medos, pelas perdas salariais e de rendimentos ou pelo encerramento total das actividades económicas ou escolares, está por avaliar e quantificar, no curto e longo prazo.
As dependências químicas e a problemática do jogo – de todas as formas de jogo e suas valências – são igualmente pontos a considerar e valorizar.
O exercício da medicina do trabalho, por exemplo, aponta já para a noção do crescendo de dificuldades nestas áreas e da perda de saúde global.
As insónias e as perturbações mais marcadas do sono, associados ao desfasamento dos horários ou até a novas formas de organização do trabalho e dos turnos, as crises de ansiedade aguda, as fobias ou as manifestações de sintomatologia depressiva parecem mais presentes.
O abuso de substâncias, incluindo o álcool, quer ocasional quer regularmente, é observado em muitos casos de forma espontânea pelos trabalhadores como instrumento de combate ao isolamento.
Falta portanto perceber que respostas serão encontradas ou propostas nos diferentes países e sistemas de saúde.
O futuro por melhor que seja o presente do combate à infecção Covid-19 e os resultados das medidas de prevenção e de vacinação em particular, não vai ser nem fácil, nem festivo.
As dimensões da chamada crise sanitária são assustadores:
– Os efeitos sequelares nos doentes infectados, os danos na perda de controlo de patologias crónicas, as “facturas” das interrupções e quebras nos programas de acompanhamento de quadros como os autismos ou doenças neuro degenerativas ou nos programas de rastreio organizado das doenças oncológicas, o atraso no estabelecimento de novos diagnósticos – sobretudo em doenças nas quais o diagnóstico precoce é por definição indispensável – e o impacto na correspondente referenciação hospitalar, ou as consequências nos mais idosos privados longamente de contactos com familiares, são enfim vectores para a tragédia da Saúde Mental pós-Covid.
Vamos ver como, afinal, se resolverá o tal dilema, primeiro a Crise Sanitária ou a Crise Económica?
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