Relatório aponta falhas à segurança informática do Hospital de Ponta Delgada

15 de Dezembro 2021

O relatório da Microsoft ao ciberataque no Hospital de Ponta Delgada, Açores, aponta falhas à segurança do sistema informático daquela unidade do Serviço Regional de Saúde, como palavras-chave partilhadas e não encriptadas ou ausência de atualizações de proteção.

No documento, a que a Lusa teve hoje acesso, os peritos informáticos referem que faltava ao sistema do Hospital Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, o pacote de segurança disponibilizado desde 20217 pelo sistema operativo para responder ao tipo de ataque a que a unidade de saúde foi sujeita.

“A Microsoft lançou, na altura [em 2017], ‘patchs’ de segurança para essa vulnerabilidade e medidas de mitigação. Não estavam aplicadas no HDES”, lê-se no relatório da Microsoft sobre o ciberataque à unidade hospitalar da maior ilha açoriana.

Os peritos da empresa referem que o ciberataque ao HDES, com início a 16 de junho, é denominado ‘WannaCry’, um tipo de ciberataque difundido em 2017 após afetar várias instituições em todo o mundo, como o Serviço Nacional de Saúde Britânico.

O documento refere ainda que, no sistema do HDES, existiam várias contas de administrador “usadas em contexto não restrito”.

A Microsoft lembra que as contas de administrador costumam estar limitadas a poucos utilizadores, porque são a “primeira etapa na elevação de privilégios” nos sistemas informáticos.

O relatório refere que existiam senhas “comuns” em várias contas, o que facilita o acesso de um pirata informático a vários computadores.

Esse tipo de “vulnerabilidade”, segundo o documento, pode ser “mitigada” através de um programa para a administração de palavras-chave, mas esse sistema só estava instalado “numa amostra residual dos computadores”.

O relatório alerta ainda para a falta de segurança de várias palavras-passe, uma vez que havia senhas não encriptadas [cifradas ou codificadas] em 11 computadores, relativas a 14 utilizadores.

Os especialistas destacam que a utilização de palavras-passe em “texto não criptografado são arriscadas não apenas para a entidade exposta em questão, mas para toda a organização”.

Nas recomendações, a Microsoft apela à “sensibilização dos utilizadores”, avançando que “foram observadas atividades que colocam o meio ambiente em risco, especificamente o uso de torrents”, uma extensão para transferir arquivos, vulgarmente utilizada para instalar programas, filmes ou jogos.

Os peritos sugerem também “reduzir o nível de privilégio para contas de serviço” e “alterar as senhas periodicamente”.

“Embora o comprometimento tenha ocorrido no domínio HDES, recomendamos que as recomendações e ativações discutidas ao longo do nosso trabalho sejam abordadas em todos os domínios da SRSA [Secretaria Regional da Saúde]”, aponta o relatório.

A Microsoft diz ainda não ser possível identificar o autor do ataque, devido aos “baixos limites de retenção” das cópias de segurança e à ausência de um programa para monitorizar e detetar ataques informáticos.

O BE/Açores, que requereu na Assembleia Regional o relatório da Microsoft, considerou na quinta-feira que o Conselho de Administração do hospital de Ponta Delgada foi “irresponsável” na gestão do ataque informático, por ter revelado publicamente o ciberataque.

A 29 de novembro, a presidente do Conselho de Administração do Hospital de Ponta Delgada afirmou que a decisão de “isolar informaticamente” a unidade de saúde “foi correta e eficaz”, considerando que o ex-diretor de informática “desvalorizou” a suspeita de ataque informático.

Nesse dia, o ex-diretor de informática do Hospital de Ponta Delgada, Ricardo Cabral, rejeitou, no parlamento dos Açores, responsabilidades nos problemas informáticos ocorridos na unidade de saúde, criticando “o caminho errado” e “perda de raciocínio lógico” da administração.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This