“Em vez de investirmos recursos e dividirmos a nossa atenção com várias medidas que podem não ter um impacto muito grande, e eu não creio que vacinar com a terceira dose abaixo dos 50 anos tenha um grande impacto, nós devemos investir em algo que seja mais efetivo”, afirmou o investigador do Instituto de Medicina Molecular.
Por exemplo, disse, “eu creio que é muito mais importante insistir com a vacinação dos poucos que ainda não se vacinaram do que propriamente na terceira dose dos já vacinados”.
O professor catedrático de Bioquímica realçou a eficácia das vacinas, explicando que, apesar da produção de anticorpos ir caindo ao longo do tempo, não se perde rapidamente a imunidade.
“O receio que as pessoas têm de estar a perder a imunidade da vacina por completo não faz sentido, porque vão permanecer células que voltam a produzir anticorpos se essas pessoas estiverem em contacto com o vírus”, explicou.
Mas, relativamente às pessoas mais vulneráveis, pode ter-se “um pensamento de cautela e de medida extra”, fazendo o reforço com a terceira dose para manterem os anticorpos elevados para a eventualidade de serem infetadas.
“É um pensamento que é adequado para esta época, porque as pessoas mais idosas, de facto, são muito mais suscetíveis às consequências da doença e porque estamos no inverno e porque há muita gente infetada e há muitos vírus em circulação”, salientou.
Para explicar como as vacinas funcionam, Miguel Castanho deu o exemplo da vacina de gripe que perde a validade ao fim de um ano, parecendo fugir à lógica das vacinas e que faz as pessoas questionarem-se sobre a sua efetividade.
“É importante dizer às pessoas que são vacinadas todos os anos contra a gripe porque a vacina deixa de fazer efeito porque o vírus muda de um ano para o outro”, o que não acontece com o SARS-CoV-2.
“Enquanto a vacina da gripe é de eficiência relativamente baixa (…) neste caso o vírus [SARS-CoV-2] tem mudado, mas nós partimos de uma eficiência muito elevada na proteção contra a doença grave e suas as consequências”, elucidou.
Apesar de ter havido “pequenas quebras de eficácia da vacina” quando apareceu a variante associada ao Reino Unido, depois a Delta e agora a Ómicron, “mesmo assim a ação da vacina mantém uma eficiência elevada”.
Para o investigador, irá perceber-se agora “o grande valor da vacinação”: “É claro que podem dizer que há países com 80% de vacinados que é um número bastante elevado e que estão a passar por problemas”.
“Só que nós vemos a questão do ponto de vista do vírus. E do ponto de vista do vírus o que interessa é na verdade a fração dos não vacinados porque é aí que o vírus se espalha melhor e ataca melhor”, realçou.
Ressalvando que não se deve “subestimar o vírus”, Miguel Castanho afirmou que o país está numa situação “muito diferente” do que quando apareceu a variante Delta, cuja ascensão foi muito rápida tal como está a acontecer com a Ómicron.
Agora há três fatores fundamentais que fazem toda a diferença: a vacinação, a melhor capacidade de testagem e aprendizagem que deve servir para “encontrar um ponto de equilíbrio entre não perder a vida social e afetiva e manter um ambiente seguro”.
LUSA/HN
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