Investigadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, apresentaram dados que podem mudar a nossa visão básica de como ocorre a diabetes tipo 2. A sua investigação indica que os ácidos gordos livres (Free Fat Acid – FFA) no sangue desencadeiam a libertação de insulina mesmo quando existe um nível normal de açúcar no sangue. Além disso, os investigadores demonstram a ligação com a obesidade: a quantidade de FFA depende não só dos quilos extra de tecido adiposo de uma pessoa, mas também de como o corpo se adapta ao aumento da adiposidade.
Em todo o mundo, está em curso um extenso trabalho de investigação que visa esclarecer exatamente o que acontece na diabetes tipo 2 e por que motivo a obesidade é um fator de risco tão importante para a doença. Durante quase 50 anos, os investigadores discutiram a sua versão da questão do ovo e da galinha: O que acontece primeiro? A resistência à insulina ou níveis elevados de insulina? A hipótese dominante refere que o pâncreas intensifica a produção de insulina porque as células já se tornaram resistentes à insulina e o açúcar no sangue aumenta. No entanto, os resultados agora publicados na revista “Ebio Medicine” sustentam a ideia oposta: é a insulina que aumenta primeiro.
O estudo indica que altos níveis de FFA no sangue após o jejum noturno aumentam a produção de insulina pela manhã. Há muito tempo que os FFA fazem parte da equação da investigação da diabetes tipo 2 mas agora os investigadores propõem que tenham um outro papel na progressão da doença.
No estudo, os investigadores compararam o metabolismo do tecido adiposo (armazenamento de gordura) de 27 indivíduos cuidadosamente selecionados (9 com peso normal, 9 com obesidade e açúcar no sangue normal, e 9 com obesidade e diabetes tipo 2). Durante vários dias, foram submetidos a exames exaustivos e as amostras foram reunidas em condições diversas. Os investigadores analisaram o metabolismo e a expressão genética da gordura subcutânea dos participantes, os níveis de açúcar, de insulina e de FFA no sangue
As pessoas com obesidade, mas não diabetes, mostraram que têm os mesmos níveis normais de açúcar no sangue que os indivíduos saudáveis de peso normal.
“Curiosamente, os não diabéticos obesos tinham níveis elevados de ácidos gordos livres e insulina no sangue, e esses níveis eram semelhantes ou superiores aos níveis que conseguimos medir no sangue dos participantes com obesidade e diabetes tipo 2”, referiu Emanuel Fryk, médico especializado em Medicina Geral e Familiar, aluno de doutoramento na Academia “Sahlgrenska Academy” (Universidade de Gotemburgo) e um dos autores do estudo.
Em colaboração com investigadores da Universidade de Uppsala, o investigador observou o mesmo padrão num estudo populacional baseado em amostras de sangue recolhidas de um total de 500 pessoas após o jejum da noite.
“O facto de termos visto uma ligação entre ácidos gordos livres e insulina também sugere que os ácidos gordos estão relacionados com a libertação de insulina e contribuem para o aumento da sua produção num estômago vazio, embora o açúcar no sangue não aumente”, diz o investigador que, no entanto, ressalta que esta descoberta precisa de ser confirmada com mais estudos.
Os ácidos gordos livres são encontrados naturalmente na corrente sanguínea e, como o glicerol, são um produto do metabolismo da gordura corporal.
Nos participantes no estudo, a quantidade de glicerol libertado provou ser praticamente a mesma por quilo de gordura corporal, independentemente das pessoas terem peso normal, obesidade isoladamente ou também diabetes tipo 2.
“A nossa hipótese é que os ácidos gordos livres aumentam no sangue porque o tecido adiposo já não consegue armazenar o excesso de energia. Acreditamos que, nesse caso, pode ser um sinal precoce de diabetes tipo 2 incipiente”, afirmou Emanuel Fryk. “Existem muitos fatores que contribuem para a progressão da diabetes tipo 2, mas é o nosso estilo de vida que tem, em termos absolutos, o maior impacto para a maioria das pessoas. O nosso estudo fornece outro argumento: o mais importante que as pessoas podem fazer para retardar a progressão da diabetes é mudar o seu estilo de vida no início da progressão da doença, antes que a glicose no sangue seja elevada”.
Mais informação:
“Hyperinsulinemia and insulin resistance in the obese may develop as part of a homeostatic response to elevated free fatty acids:A mechanistic case-control and a population-based cohort study”;EbioMedicine.
Link para o artigo: https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2352-3964%2821%2900057-8
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