Investigadores de Coimbra desenvolvem produtos para controlo do mosquito que transmite doenças

24 de Janeiro 2022

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu um conjunto de produtos para controlar a proliferação das espécies de mosquito responsáveis por transmitirem doenças como Dengue, Zika, Chikungunya, febre amarela e febre do Nilo Ocidental.

Em nota de imprensa esta segunda-feira enviada à agência Lusa, a UC especificou que o projeto contou com a participação da Universidade Federal da Bahia e da Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, e que os produtos são “inovadores de origem natural, seguros e de baixo impacto ecológico”.

“Os produtos desenvolvidos – distribuídos por duas gamas, uma para eliminar as larvas em água e outra para ser utilizada em armadilhas de captura de insetos – têm na sua base óleos naturais, extraídos de plantas nativas do Brasil e da Ásia, combinados com polímeros biodegradáveis, e recorrem a técnicas e solventes ‘verdes’ e de baixo impacto ambiental. Têm ainda a particularidade de permitirem a libertação controlada dos princípios ativos de forma eficiente”, referiu a Universidade.

Citado na nota, o coordenador do projeto, Hermínio Sousa, investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) da UC, explicou que as fórmulas desenvolvidas se distinguem por serem “biodegradáveis, sem propriedades tóxicas ou perigosas para humanos, animais e meio ambiente”, tendo sido pensadas para “serem usadas, de uma forma generalizada, no controlo de mosquitos do género Aedes (Aedes aegypti, Aedes albopictus e Aedes japonicus), insetos vetores de doenças como a Dengue, Zika, febre Chikungunya, febre amarela e febre do Nilo Ocidental”.

Segundo a informação, os testes já realizados em laboratório revelaram que estes produtos são uma alternativa eficaz aos larvicidas e inseticidas sintéticos.

“De facto, as formulações já desenvolvidas demonstraram ser eficientes em termos das suas atividades larvicidas para o A. aegypti, seguras e de baixo impacto ecológico. Foram ainda desenvolvidas estratégias que permitiram obter produtos e formulações que podem manter a sua eficiência por períodos bastante longos de tempo”, descreveu o docente.

A nota ressalvou ainda que, apesar de os testes terem apresentado resultados francamente promissores, ainda são necessários mais estudos para estes produtos chegarem ao mercado.

“No caso das larvas, é necessário, por exemplo, otimizar a dose, isto é, verificar se é possível obter a mesma eficácia com uma dose menor. Atualmente, estamos a desenvolver mais estudos para verificar a eficiência e a segurança das formulações em termos das atividades atrativas para os mosquitos da espécie A. aegypti, para a sua captura em armadilhas”, detalhou Hermínio Sousa.

Lembrando que, no contexto das alterações climáticas, estes mosquitos podem disseminar-se e estabelecer-se em todo o mundo, de forma muito rápida, e que a Dengue, Zika, Chikungunya, febre amarela e febre do Nilo Ocidental já constituem um problema muito grave de saúde pública em vários países do mundo, Hermínio Sousa sublinhou que é urgente “desenvolver múltiplos meios para o controlo eficiente e seguro destes insetos nos meios rurais e urbanos, tanto nas regiões tropicais como nas regiões subtropicais e de clima temperado, e particularmente nos países ibero-americanos e mediterrânicos, como Portugal”.

O passo seguinte da investigação, adiantou o coordenador do projeto, será explorar novas abordagens e desenvolver novos estudos, de modo a “expandir o conhecimento já adquirido, quer no combate aos outros dois insetos vetores (A. albopictus e A. japonicus) associados a estas doenças, quer no uso de outros compostos naturais com atividade biológica para o seu controlo e de novas formulações e produtos que possam ser comercializados e utilizados pela população em geral”.

Este projeto, designado “Formulações inovadoras de base natural para o controle do Aedes aegypti nas regiões ibero-americanas”, envolve ainda a participação de outros investigadores do CIEPQPF-UC (Mara Braga, Marisa Gaspar, Ana Dias e Carla Maleita) e foi realizado ao longo dos últimos quatro anos no âmbito de uma cooperação bilateral entre Portugal e o Brasil, tendo sido financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Ministério da Educação do Brasil).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This