Presidente da Comissão da União Africana defende parcerias em cinco áreas prioritárias

6 de Fevereiro 2022

O presidente da Comissão da União Africana (UA) defendeu este sábado que é "um imperativo" as parcerias com África traduzirem-se em projetos concretos em cinco áreas prioritárias, entre as quais paz e segurança, infraestruturas, energia e alterações climáticas.

No seu discurso, após a eleição do Chefe de Estado do Senegal para presidente rotativo da organização, em 2022, no âmbito da 35.ª cimeira da UA, que está a decorrer de forma presencial em Adis Abeba, na Etiópia, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, Moussa Faki Mahamat, disse que a multiplicação de parcerias, “sinal de interesse em África e do dinamismo do continente e da sua organização, já “não permite” ao continente participar nelas “sem um verdadeiro exame” das suas abordagens.

“É imperativo concentrarmo-nos em projetos concretos, transformadores e integradores nas cinco áreas prioritárias de paz e segurança, infraestruturas e energia, alterações climáticas, financiamento inovador para o desenvolvimento, formação de jovens e empoderamento das mulheres”, defendeu Moussa Faki Mahamat.

“Os projetos, que estão atualmente a ser implementados, requerem a mobilização de recursos financeiros substanciais a fim de se conseguir a transformação estrutural dos nossos países”, acrescentou.

Para o chefe da diplomacia do Chade, “esta é a única forma” da África “alcançar um crescimento inclusivo e sustentável que pode amortecer o impacto de choques como crises financeiras, os efeitos das alterações climáticas e pandemias”.

“Espero que as cimeiras que prevemos com os nossos parceiros este ano sejam momentos decisivos na implementação da nossa visão para a parceria internacional da África com o resto do mundo. Uma tal redefinição das nossas parcerias estratégicas constitui, a meu ver, uma alavanca decisiva para o papel da África na conceção de uma nova ordem mundial em harmonia com as nossas esperanças”, afirmou.

Uma das cimeiras que irá decorrer este ano é entre a União Europeia e a União Africana.

Segundo Moussa Faki Mahamat, “o impacto da Covid-19 foi reduzir o crescimento em 2,1% em 2020 e aumentar o rácio da dívida em 10 pontos percentuais do PIB”.

Neste cenário, “África, devido à insuficiência de financiamento externo para compensar a sua baixa taxa de poupança, não será capaz de recuperar a sua dinâmica de crescimento pré-Covid-19”, concluiu.

Ativa na mobilização de recursos financeiros para o continente, tanto através da redução, ou mesmo, do cancelamento da dívida, bem como da mobilização de direitos de saque especiais, a estratégia deverá agora “centrar-se-á na identificação, ou mesmo na invenção, de outras fontes inovadoras de financiamento e na redução dos efeitos nocivos da pandemia” nossas economias africanas, “que têm fragilidades estruturais bem conhecidas”, realçou.

Por isso, para o presidente da comissão da UA, o “maior desafio” da organização nesta área “é e continua a ser a aquisição de autonomia no financiamento” do seu próprio desenvolvimento, “combatendo energicamente os fluxos ilícitos de capital, reformando as políticas fiscais e acelerando a implementação das instituições financeiras africanas”.

Quanto à expansão do terrorismo, o chefe da diplomacia do Chade considerou: “Estamos todos conscientes de que este flagelo está a assumir uma escala sem precedentes no continente. Anteriormente localizado em duas pequenas áreas, o norte do Sahel e o Corno de África, estende agora os seus tentáculos a sul do Sahel até ao centro, e mesmo às partes setentrionais do continente”.

Pelo que “a situação de segurança no continente é hoje profundamente marcada pela metástase do terrorismo e pelo perigoso ressurgimento de mudanças inconstitucionais. Além disso, os dois fenómenos estabelecem ligações causais, que são conhecidas de todos. Um encontra frequentemente os seus pretextos na prevalência e expansão do outro, e a luta necessária contra este último produz a ilusão de que este último é a resposta aos fracassos comprovados na luta contra o primeiro”.

Neste contexto, para aquele responsável “a situação de segurança no continente exige agora uma nova abordagem real, que deve questionar a arquitetura de paz e segurança e a sua correlação com os novos fatores de desestabilização em África”.

“Na ausência desta explosão de inteligência e tomada de decisões, tenho sérias dúvidas sobre o futuro do nosso projeto emblemático de silenciar as armas dentro de um prazo estabelecido”, realçou.

“A perigosa propagação do mal exige uma mobilização internacional mais forte e uma solidariedade interafricana mais frutuosa, mais concreta e mais ativa. É particularmente desconcertante ver, aqui e ali, vagos compromissos não africanos de apoio aos países africanos sob ataque, enquanto o ténue raio de solidariedade africana apenas nos permite ver a imensidão da paralisia africana em relação aos países vizinhos que estão em chamas”, acusou.

Mahamat concluiu, alertando: “A verdade profunda e irrefutável, porém, é que nenhuma parte da sociedade internacional pode ser tranquilizada quanto ao seu destino quando todas as outras partes não o são. A crise do multilateralismo é real e presente”.

LUSA/HN

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