Rui Cernadas Assistente Graduado MGF

Explicando aos Portugueses… Médicos e Factos

02/07/2022

É mais difícil esquecer os disparates do que os sucessos.

É o que penso sobre as afirmações do Ministro Manuel Heitor, então Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (?) em finais de 2021, em entrevista a um jornal de Lisboa.

Especialmente graves por ser membro do Governo e responsável pelo acesso às Universidades.
Refiro-me ao que disse sobre o processo formativo dos especialistas em medicina geral e familiar (conhecidos por médicos de família) e à falta, para ele, de médicos em Portugal.

Desde logo, ignorando que Portugal é o terceiro país com mais médicos no rácio por habitantes. Os dados são da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

E ao contrário do que vários interesses e governantes têm defendido, designadamente quanto à intenção continuada de alargar o numerus clausus no acesso às escolas médicas, o que sabemos é simples:

– O país forma novos médicos acima da média da OCDE, isto é, mais de 16 por cada 100 000 habitantes;
– Concluídos os seis anos da fase pré-graduada, os jovens médicos precisam de aceder à pós-graduação, a especialidade, a qual depende do quadro de vagas determinado pelo Ministério da Saúde;
– E o que se constata? Centenas de médicos não conseguem ingressar para a sua especialização, engrossando um caudal de médicos não diferenciados que o País desperdiça e que o Governo teima em fazer crescer!

E os políticos e decisores mentem ao País quando invocam a falta de médicos no interior do País, novamente, como se a heterogeneidade da distribuição de profissionais diferenciados e capazes fosse um problema exclusivo dos médicos. E pior que isso veja-se o exemplo dos médicos de família – os tais que o Ministro Manuel Heitor sugere que possam beneficiar até duma formação abreviada – que faltam de forma marcadíssima, tornando a ARS de Lisboa e Vale do Tejo em região carenciada, ao lado da mega capital Lisboa!

Mas deixemos de lado as questões da quantidade, demonstrado que o problema não está do lado das escolas médicas existentes, nem dos jovens médicos formados.

Passemos à qualidade.
O SNS tão louvado e esquecido, tão lembrado e tão maltratado, tão elogiado e tão desprovido de estratégia de longo prazo, deveria ter como desígnio reforçar e estimular a sua primeira linha, os Cuidados Primários de Saúde e a sua rede de médicos e enfermeiros de família!
Mas não e viu-se como o número de cidadãos, de utentes sem médico de família atribuído, cresceu nestes últimos 3 ou 4 anos.
E ouve-se e lê-se as queixas dos mesmos cidadãos sobre as questões que reduzem, limitam ou impedem o funcionamento desejável dos Cuidados Primários.

Não venham com o estafado argumento da Pandemia e muito menos com o das responsabilidades dos governos anteriores.
Ao invés do que dizia o tal Ministro, os médicos de família deveriam merecer uma aposta renovada na qualidade da sua formação, tendo por objectivo a garantia de um padrão elevado de dispensa de cuidados assistenciais. E isso significa investimento numa maior abrangência científica e clínica em quem, precisamente por não ser especialista em uma única área do conhecimento médico, justifica que apreenda para além dos horizontes limitados de quem ignora o que deve ser a Medicina Geral de Familiar!

E para um Governo, qualquer Governo, seria bom que a Formação fosse igualmente um desígnio capaz de nos abrigar das fraquezas, das ignorâncias e do primitivismo das suas ideias e conceções.
Não é preciso inventar nada, porque em muitos outros países estão à vista as soluções e os projetos testados, comprovados e em funcionamento.
Ficou provado, também com a Pandemia, que não foram os profissionais de saúde e menos ainda os médicos, que falharam as suas obrigações, responsabilidades e respeito pelos concidadãos!

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

SPAIC certifica unidades de asma grave em Portugal

A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) lançou o “Guia para a Certificação de Unidades de Asma Grave”, visando reconhecer oficialmente centros especializados na abordagem da asma grave. Em Portugal, 5% dos adultos com asma enfrentam esta condição debilitante.

O que a escola sabe, a saúde precisa de conhecer

Sérgio Bruno dos Santos Sousa
Mestre em Saúde Pública
Enfermeiro Especialista de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública na ULSM
Gestor Local do Programa de Saúde Escolar na ULSM
ORCID

Cristo Rei ilumina-se de azul no Dia Mundial da Doença de Parkinson

No próximo dia 11 de abril, o Cristo Rei será iluminado de azul em Almada como parte da iniciativa global Spark the Night, que visa aumentar a consciencialização sobre a Doença de Parkinson. Este movimento simboliza apoio aos milhões de pessoas afetadas pela condição neurodegenerativa.

Conferência Sustentabilidade em Saúde regressa ao CCB

No dia 1 de julho, entre as 09h00 e as 13h00, o Centro Cultural de Belém acolhe a 13ª Conferência Sustentabilidade em Saúde. Organizada pela AbbVie e o Expresso, o evento apresentará o Índice Saúde Sustentável e discutirá o impacto da inteligência artificial na saúde.

Update em Medicina 2025: Inscrições Encerram a 18 de Abril

As inscrições para o Update em Medicina 2025 terminam a 18 de abril. O evento decorre de 30 de abril a 2 de maio no Convento de São Francisco, em Coimbra, com um formato híbrido que combina sessões presenciais e online, abrangendo temas essenciais da prática clínica.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights