Enfermeiros alertam para problemas nos serviços de urgência do Hospital de Vila Franca de Xira

11 de Fevereiro 2022

O Sindicato dos Enfermeiros (SE) alertou hoje para o facto de vários serviços de urgência do Hospital de Vila Franca de Xira, no distrito de Lisboa, estarem comprometidos, devido à “escassez e má gestão dos recursos humanos”.

O alerta foi dado na sequência de uma reunião que decorreu, ao início da tarde de hoje, entre o SE e os enfermeiros do Serviço de Urgência do Bloco Operatório do Hospital de Vila Franca de Xira.

O encontro ocorreu depois de 31 enfermeiros deste serviço terem apresentado à administração do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX) uma declaração de escusa de responsabilidades, uma vez que têm estado a ser desviados para outros serviços, nomeadamente para a Urgência Geral e Obstetrícia.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, que já tinha denunciado anteriormente esta situação, alertou para o facto de enfermeiros de outros serviços do hospital poderem também avançar para um pedido de escusa de responsabilidades.

“O que os colegas nos transmitem é que a situação poderá, tendencialmente, agravar-se porque neste momento, com o problema da covid, eles estão ainda mais desfalcados. Há outros serviços que se preparam para fazer escusa de responsabilidades”, apontou.

Segundo o sindicalista, os próximos serviços a avançar com pedido de escusa de responsabilidade serão o de urgência de obstetrícia e o serviço de cirurgia.

“No bloco estamos a falar de 44 enfermeiros e na urgência de obstetrícia, que engloba consulta, internamento, estamos a falar de cerca de 30 enfermeiros”, apontou.

Relativamente à urgência de obstetrícia, Pedro Costa deu conta que a falta de recursos humanos está a ter como consequência o aumento de partos através de cesariana.

“Neste momento cifra-se em 48% o número de cesarianas que existe no hospital. Praticamente metade das parturientes que entram na urgência de obstetrícia para terem os filhos são cesarianas”, apontou, indicando que o HVFX realiza cerca de dois mil partos por ano.

Nesse sentido, o SE defende o reforço das equipas de obstetrícia e da urgência para evitar que haja serviços que possam “ser desfalcados para dar resposta a outros”.

“Verificamos ainda que o Hospital, apesar da parceria público privada ter terminado em maio, mantém contratos de 40 horas. Isto vem mostrar que se nós colocarmos os contratos em 35 horas, que é o que fazem todos os profissionais que prestam assistência no Serviço Nacional de Saúde, nós ainda vamos ter uma falta mais gritante de enfermeiros nestes locais”, argumentou.

Questionada pela Lusa sobre estes alertas do SE, fonte oficial do HVFX respondeu apenas que “o conselho de administração tem consciência que o facto do hospital ter passado a ser gerido diretamente pelo Estado abre um novo caminho a alguns sindicatos que anteriormente nunca tiveram qualquer relação significativa com esta Unidade Hospitalar”.

Relativamente à mobilização de enfermeiros para outros serviços do hospital, a mesma fonte ressalvou que a situação só ocorre quando se verifica “um aumento muito significativo de afluxo de doentes ao serviço de urgência”.

“Sempre que tal aconteceu, não estava a ocorrer atividade cirúrgica de urgência. O espaço do Bloco de Urgência e do Serviço de Urgência distam de um piso entre si, razão pela qual não se colocam constrangimentos no eventual e esporádico apoio dos enfermeiros afetos à cirurgia urgente no apoio aos seus colegas no Serviço de Urgência”, esclarece o HVFX.

A administração do HVFX sublinha ainda que “está e sempre esteve disponível para uma gestão concertada do esforço dos profissionais” e salvaguardará “as equipas mais expostas à pressão”, nomeadamente as que prestam os cuidados em urgência.

O Governo aprovou no final de abril de 2021 um decreto-lei que contemplava a passagem do hospital que serve cerca de 250 mil habitantes de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira para o modelo de entidade pública empresarial.

Este equipamento, inaugurado em março de 2013, foi gerido até maio de 2021 em regime de parceria público privada pelo grupo Mello Saúde.

Dados divulgados na terça-feira pela Ordem dos Enfermeiros (OE) indicam que, até à presente data, 4.475 enfermeiros pediram escusa de responsabilidade, quando no final de dezembro havia o registo de 3.013 declarações apresentadas.

Esta declaração foi disponibilizada pela OE a todos os enfermeiros para acautelar a eventual responsabilidade disciplinar, civil ou criminal desses profissionais, “face ao elevado número de doentes a seu cargo, uma vez que está demonstrado por estudos internacionais que, por cada doente a mais a cargo de um enfermeiro, a mortalidade sobe 7% nos hospitais”.

No final de 2021, o Governo assegurou que, desde o início da pandemia de Covid-19, “registou-se um aumento recorde dos profissionais de saúde”, com a contratação de mais 1.400 médicos e mais 4.800 enfermeiros para o Serviço Nacional de Saúde.

LUSA/HN

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