O livro, com 357 páginas, numa edição da Oxalá, é a segunda obra da autora e vai ser apresentado na próxima segunda-feira, na Assembleia Legislativa da Madeira.
Falando sobre o romance, a escritora disse à agência Lusa que o palco é a aldeia de Água Formosa, uma das Aldeias de Xisto da serra da Lousã, no Geodésico de Portugal, considerada “a mais envelhecida de toda a Europa”, onde residem cerca de 10 pessoas, mas uma aldeia que se “recusa a desaparecer” como outras povoações vizinhas.
Esta localidade “decide lutar contra o esquecimento, a solidão e a morte social, um dos piores flagelos do século XXI”, apontou.
“A pandemia foi o motor que pôs em andamento um plano traçado pelos últimos habitantes daquele povoado”, os quais decidem ir “às cidades procurar os filhos que há muito haviam partido”, acrescentou.
Luz Marina Kratt destacou que o “Já para casa” é assim “uma história escrita por este punhado de gente, que fez do isolamento uma mais-valia, da originalidade e genuinidade um nicho no mercado turístico, cravando no xisto o seu selo de garantia”, realçou.
Numa aposta na valorização do “seu património cultural e na riqueza da sua história, do seu artesanato e gastronomia e na simpatia e autenticidade das suas gentes”, e numa atitude de abertura ao mundo exterior, “Agua Formosa se revitaliza e planta orgulhosa uma bandeira na rota das aldeias do Xisto”, destacou.
“E os filhos da terra ouvem o apelo dos mais velhos. Vão regressando aos poucos, primeiro para ficar uns dias, percebendo depois que já não querem a vida que deixaram para trás”, mencionou.
Depois, acrescentou, “com uma alegria quase infantil, descobrem que afinal é possível construir um futuro mesmo à porta de casa” e “nesta aldeia de contos de fadas, eles criam uma aldeia de verdade, com gente feliz a viver lá dentro”.
“O romance tem também um lado muito humano, com amores desencontrados, tabus, que foi preciso quebrar, famílias que se reencontram, mulheres que têm a coragem de deixar tudo para trás para seguir os seus sonhos”, mencionou, enunciando que aborda igualmente “a importância de se criarem centros para a terceira idade, em contacto com a terra”.
Luz Marina Kratt argumentou que o romance “é uma obra que faz repensar o futuro que queremos construir a partir daqui”, após uma pandemia que “chegou sem aviso, roubando a paz e o sossego, fechando as pessoas em casa, impotentes perante a brutalidade da nova realidade que chocou o mundo”.
“Como nunca, sentimos necessidade de repensar os nossos objetivos e valores”, opinou, considerando que “fez muita gente descobrir, que afinal há coisas muito mais importantes do que o lucro, o sucesso e a acumulação de bens a qualquer custo”.
No seu entender, muitos andaram a “correr atrás de fantasias” e acabaram por concluir que “a família e os amigos passaram a ser mais importantes do que nunca, um abraço apertado passou a valer tanto” e “estar mais em contacto com a natureza foi outra das descobertas mais preciosas que fizemos em conjunto”.
Nascida na Madeira, filha de pai emigrante, Marina declara que tornar-se também uma emigrante “foi quase um acidente de percurso”.
Está a residir na Alemanha depois de se ter casado com um alemão, interrompendo a carreira de jornalista, com passagem pela RTP-Madeira.
“Eu tenho como herança de família a emigração. Foi uma realidade que me marcou desde sempre”, declarou, considerando que ter vivido em vários países, como o Reino Unido e Austrália, a ajudou a ter “um conceito alargado do que é ser cidadão da Europa e do mundo”.
Mas, realça que, nestes últimos anos, foi “saindo e voltando, com a família e a ilha a chamarem sempre de regresso a casa”.
“Não tenho a menor dúvida de que este é o meu porto de abrigo. É aqui que quero morrer”, concluiu.
LUSA/HN
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