O estudo tem por base um trabalho de investigação coordenado por Ana Magalhães no grupo de investigação em Biologia da Adição do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto em colaboração com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), que avaliou o impacto da separação materna nas duas primeiras semanas de vida em ratos com diferentes vulnerabilidades para a depressão.
O estudo teve como objetivo investigar o impacto da combinação de fatores genéticos (suscetibilidade para a depressão) e stress social precoce, induzido pela separação maternal (modelo animal bem caracterizado na indução de stress precoce), na vulnerabilidade para o desenvolvimento de problemas de adição em ratos adolescentes.
A equipa de investigação utilizou duas estirpes de ratos (com e sem propensão genética para a depressão) que foram sujeitas a separação maternal nos primeiros 14 dias de vida, durante 3 horas por dia. Posteriormente, avaliaram o estado emocional e a vulnerabilidade à toxicodependência durante o período da adolescência.
“Os resultados deste estudo revelaram que a separação maternal alterou o comportamento quer dos ratos adolescentes com características depressivas, que passaram a apresentar comportamentos mais do tipo ansioso, quer dos ratos adolescentes não depressivos, que passaram a demonstrar comportamentos mais exploratórios. Apesar destas respostas tão diferentes, quer num caso quer noutro, em ambas as estirpes verificou-se que a separação maternal potenciava a vulnerabilidade ao condicionamento por substâncias psicoativas como a cocaína, evidenciando que a separação maternal parece ser um fator mais determinante que a suscetibilidade para estados depressivos.”
“Este estudo é importante porque nos permite perceber qual o fator com maior risco para a vulnerabilidade ao abuso de drogas e dar pistas para estratégias preventivas durante o desenvolvimento, de forma a tornar os indivíduos mais resistentes à adição. Este conhecimento pode ser útil em futuros estudos em humanos”, adianta a investigadora Renata Alves.
“Hoje, é já bem aceite que a vulnerabilidade face ao uso, e posterior abuso, de substâncias psicoativas, é determinada pela exposição aumentada a fatores de risco durante o desenvolvimento, conjugada com a ausência de fatores protetores. Sabe-se que entre estes fatores de risco, a depressão e o stress em idades precoces têm um impacto importante no desenvolvimento, mas pouco se sabe sobre o efeito da combinação destes dois fatores na vulnerabilidade às substâncias psicoativas na adolescência. Este é um período de aumento da independência e de mudanças nas relações parentais e com os seus pares. Tal como em humanos adolescentes, também os ratos submetidos a esta transição de desenvolvimento revelam um aumento significativo na interação com os seus pares, assim como a execução de comportamentos de risco.“
Renata Lopes Alves, natural de Gondomar, antiga estudante do Mestrado em Psicobiologia do Ispa, tem um Doutoramento em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), e encontra-se atualmente a trabalhar como investigadora no ALBORADA Drug Discovery Institute – da Universidade de Cambridge, juntamente com uma equipa multidisciplinar de químicos e biólogos, cujo o foco é descobrir novos fármacos para o tratamento de doenças neurodegenerativas. O seu papel nesta equipa centra-se principalmente no planeamento e condução de estudos neurocomportamentais, em diferentes estirpes de murganhos (pequenos ratos), que mimetizam doenças neurodegenerativas que afetam uma parte significativa da população mundial.
A cerimónia de entrega do prémio terá lugar no dia 16 de maio às 18h, e será transmitida em direto no Facebook do Ispa.
O Prémio Ispa de Investigação em Psicologia e Ciências do Comportamento tem como objetivo estimular a investigação e inovação, o método, a criatividade e o rigor científico, desenvolvidos por jovens investigadores em Portugal no domínio da Psicologia e das Ciências do Comportamento. O prémio visa distinguir cientistas com menos de 35 anos que tenham obtido o último grau há menos de 5 anos, cujos trabalhos de investigação tenham sidos realizados numa instituição de I&D nacional e publicados em revistas internacionais nos últimos 3 anos.
NR/PR/HN
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