O estudo, que avaliou o impacto da Programa abem: Rede Solidária do Medicamento, promovido pela Associação Dignitude, conclui também que, sem o contributo deste projeto, mais de 6.220 pessoas teriam de pedir dinheiro emprestado ou pedir ajuda a familiares.
O trabalho, que abrangeu o período entre maio de 2016 (quando arrancou o projeto) e junho de 2021, aponta para a melhoria da condição de saúde dos beneficiários do projeto devido ao cumprimento da terapêutica garantido pelo acesso aos medicamentos prescritos.
“O que suspeitávamos e que se concretizou foi que, ao nível dos beneficiários, o programa tem um impacto relevante na melhoria das condições de saúde nos mais de 22.000 beneficiários apoiados, pois conseguem, através do cartão abem, adquirir a sua medicação, cumprindo a sua terapêutica e, desta forma, melhorar a sua condição de saúde”, explicou à Lusa Maria João Toscano, diretora executiva da Associação Dignitude.
Exemplificando em números a mudança que o Programa abem: trouxe para estas pessoas, a responsável adianta: “A percentagem de beneficiários que nem sempre compra os medicamentos prescritos passa de 61% para 5% depois de terem o cartão abem, o que é, de facto, muito relevante”.
“Isto leva também a um impacto ao nível da sua qualidade de vida, pois evita cortes em despesas que são essenciais”, explica, acrescentando: “Aí, a percentagem de beneficiários que deixavam de pagar outras despesas para comprar medicamentos antes de terem o cartão passou de 85% para 14%”.
De acordo com o estudo, 10.902 beneficiários consideraram ter melhorado o seu estado de saúde desde que têm o cartão abem e 15.796 passaram a conseguir pagar outras despesas desde que são beneficiários deste programa.
“Cinquenta e três por cento dos beneficiários destaca o sentimento de inclusão, o tratamento digno, como sendo uma das coisas mais importantes associadas ao cartão, para além do acesso ao medicamento”, apontou Maria João Toscano, frisando: “Isto foi uma situação que nos agradou imenso pois nós sempre tivemos uma preocupação muito grande em manter o anonimato e a dignidade das pessoas”.
Com este programa – acrescentou – o que se está a tentar “é resolver um dos problemas que mais contribui para a não adesão à terapêutica, que é a falta de capacidade económica para a aquisição de medicamentos prescritos”.
“Há vários estudos publicados em Portugal que mostram que se verifica esta situação [não adesão à terapêutica por falta de recursos financeiros para comprar os medicamentos] em cerca de 22,8% dos doentes”, afirmou.
“Contribuindo para o cumprimento da terapêutica vai reduzir o risco de complicações, como sejam os episódios de urgência e internamentos”, explicou ainda a responsável, adiantando que as estimativas do estudo indicam que, entre maio de 2016 e dezembro de 2021, “apenas em episódios de urgência e internamentos evitados pelo cumprimento da terapêutica, foram poupados mais de 15 milhões de euros”.
Estes dados tiveram por base cerca de 22.000 beneficiários do cartão abem. Contudo, segundo o estudo, se o programa chegasse às cerca de 864 mil pessoas que todos os anos em Portugal deixam de comprar os medicamentos de que precisam por não os conseguirem pagar, “com um investimento de 147 milhões de euros seria possível uma poupança potencial superior a 600 milhões de euros em internamentos e episódios de urgência”.
A Associação Dignitude foi constituída em 2015, juntando entidades do setor social – Cáritas Portuguesa e Plataforma Saúde em Diálogo – e do setor da Saúde – através da Apifarma e da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Mais tarde juntaram-se também a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a União das Misericórdias Portuguesas a Associação das Farmácias de Portugal e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses.
O Programa abem: Rede Solidária do Medicamento arrancou em maio de 2016 e o financiamento é garantido pelas doações feitas para o fundo solidário constituído pelo programa, que recebe donativos da sociedade civil, de parceiros e de empresas. A verba desse fundo é usada na íntegra para cocomparticipar os medicamentos [paga a parte do utente].
Está presente em 175 concelhos a nível nacional, nos Açores e na Madeira e é através de uma rede de organizações locais (IPSS, Caritas, misericórdias, câmaras municipais e juntas de freguesia) que é feita a identificação das famílias a integrar no programa.
Esta rede social cruza-se com uma rede de mais de 1.000 farmácias onde os beneficiários do cartão abem podem ter acesso aos medicamentos de forma anónima.
LUSA/HN
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