Numa carta aberta, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Rebeca Grynspan, escrevem que as negociações que decorrem esta semana em Genebra devem conduzir a um acordo que possa melhorar a escassez de alimentos que milhões de pessoas enfrentam nos países mais pobres, nomeadamente africanos.
Citada pela agência Efe, a carta aberta defende que deve ser acordado o fim das restrições à exportação de alimentos para os países menos desenvolvidos e aos importadores líquidos da cesta básica, e reclamam também apoio financeiro e técnico para que esses países possam tomar medidas de proteção social para evitar um agravamento da crise alimentar.
O objetivo, defendem, é “abrir caminho para o fortalecimento do sistema multilateral da agricultura”.
No texto, também se mostram esperançadas que a OMC garanta a obrigação de não impor restrições às exportações com fins humanitários para o Programa Alimentar Mundial, algo a que 80 países se comprometeram em 2021 mas que se tornou uma questão urgente este ano devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, que cortou o fornecimento de cereais a vários países africanos dependentes, o que causou ou agravou uma crise alimentar.
A guerra “aumentou a escassez de alimentos e a fome para dezenas de milhões de pessoas”, lê-se na carta aberta de Grynspan e Bachelet, que recordam que os países africanos são obrigados a importar cerca de 80% dos seus alimentos e 92% dos cereais a economias de outros continentes.
A Rússia e a Ucrânia concentram cerca de 25% das exportações de trigo e uns 15% das exportações de cevada, entre outros produtos básicos, pelo que a guerra entre os dois países, em conjunto com as sanções e o bloqueio marítimo russo no Mar Negro, agravou a crise alimentar mundial que começou durante a pandemia de Covid-19.
A organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) calcula que os preços do trigo tenham aumentado cerca de 56% num ano, com os óleos vegetais a subirem 45% e os fertilizantes, outro produto muito exportado por estes dois países e fundamental para os países africanos, aumentaram 128%.
LUSA/HN
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