Diabetes: Controlo global dos fatores de risco é essencial para evitar a principal causa de morte em Portugal

07/25/2022
O risco de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) – a principal causa de morte em Portugal – é duas a quatro vezes superior nos doentes com diabetes. Em entrevista exclusiva ao HealthNews, Luís Andrade, assistente hospitalar de Medicina Interna e diretor de serviço do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, explicou a relação entre a diabetes e o AVC e sublinhou a importância de envolver todos os doentes e seus médicos na prevenção, através do controlo global dos fatores de risco.

HealthNews (HM)- Existe alguma ligação entre a diabetes e o acidente vascular cerebral?

Luís Andrade (LA)- O acidente vascular cerebral é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Os doentes com diabetes apresentam um risco duas a quatro vezes maior de poderem ter um acidente vascular cerebral, normalmente denominado por AVC, sendo o prognóstico ainda pior do que num doente não diabético. Ou seja, não só o risco de ter um AVC aumenta de forma exponencial, como também a probabilidade de morte ou de incapacidade com pior prognóstico é claramente superior nos doentes com diabetes.

Além das alterações características da diabetes, nomeadamente o aumento da glicemia, existem outros fatores de risco que são frequentes nos doentes com diabetes: hipertensão arterial, obesidade e dislipidemia. A presença destes fatores de risco aumenta de forma proporcional e exponencial o risco de eventos cardio-cerebro-vasculares na pessoa com diabetes.

HN- Porque é que tantos diabéticos morrem vítimas de AVC?

LA- Os estudos populacionais indicam que o doente com diabetes tem um risco duas a quatro vezes superior de poder sofrer um evento cardiovascular, incluindo um acidente vascular cerebral. A presença de outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, dislipidemia e a obesidade (presentes na grande maioria dos diabéticos), aumenta de forma exponencial a probabilidade de um evento cardiovascular, pelo que, neste grupo de doentes, o acidente vascular cerebral é claramente superior.

HN- O que é que se pode fazer para minorar esse risco?

LA- De forma a diminuir o risco de um doente diabético vir a ter um AVC, é fundamental a otimização do estilo de vida e o controlo global dos fatores de risco cardiovasculares.

Uma dieta variada e equilibrada, associada a um aumento da atividade física (pelo menos 30 minutos de caminhada por dia), e, se possível, um exercício físico programado são pontos essenciais no controlo da diabetes e de outros fatores de risco cardiovasculares.

O controlo dos fatores de risco cardiovasculares de forma global permite as maiores reduções de risco e de eventos cardiovasculares. Tal foi demonstrado num estudo científico onde os doentes diabéticos foram submetidos a um controlo global dos fatores de risco cardiovasculares, permitindo as maiores diminuições de eventos cardiovasculares e microvasculares e, principalmente, um aumento dos anos médios de vida.

A evolução científica permitiu que, nesta fase, tenhamos terapêuticas orais e injetáveis inovadoras que, para além do controle de glicemia, podem verdadeiramente modificar prognósticos, diminuindo o risco de complicações, aumentando a qualidade de vida e reduzindo o risco de hipoglicemias.

Realça-se ainda a necessidade da autovigilância, cumprir os cuidados e a toma frequente da medicação por parte dos doentes. Apenas com uma compliance adequada o doente irá conseguir os benefícios dos fármacos que usa.

HN- Qual a especialidade responsável pela avaliação deste risco?

LA- O doente com diabetes apresenta múltiplos fatores de risco, devendo ter uma avaliação global e multidisciplinar.

Todos são necessários na luta contra a diabetes. A avaliação multidisciplinar por médicos, enfermeiros e nutricionistas, entre outros profissionais, permitirá uma análise global do doente e da doença, conseguindo os melhores resultados. A colocação do doente verdadeiramente “no centro” da atenção de equipas multidisciplinares, nos cuidados de saúde primários e/ou hospitalares, permitirá alcançar o melhor controle metabólico, a redução dos fatores de risco cardiovasculares, a deteção precoce do atingimento cardiovascular e microvascular e, acima de tudo, aumentar de forma significativa a qualidade de vida dos diabéticos.

HN- Quais as recomendações no tratamento?

LA- Depois do AVC, existem terapêuticas inovadoras ao nível da fase aguda com técnicas de trombólise, equipas de revascularização invasivas e unidades de AVC com alta diferenciação, permitindo uma redução das consequências deste evento vascular.

Na fase crónica, a recuperação funcional permite uma melhoria significativa da qualidade de vida, com redução progressiva e sustentada das consequências de um AVC.

Apesar da evolução na área do AVC, o principal empenho deve ser a prevenção e a diminuição, de forma drástica, da possibilidade deste evento vascular. O controle da diabetes e da hipertensão arterial, a diminuição das alterações do colesterol/triglicerídeos e a redução significativa do peso são prioritários na prevenção do AVC na pessoa com diabetes.

Entrevista de Rita Antunes

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

OMS alcança acordo de princípio sobre tratado pandémico

Os delegados dos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram este sábado, em Genebra, a um acordo de princípio sobre um texto destinado a reforçar a preparação e a resposta global a futuras pandemias.

Prémio Inovação em Saúde: IA na Sustentabilidade

Já estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. Com foco na Inteligência Artificial aplicada à saúde, o concurso decorre até 30 de junho e inclui uma novidade: a participação de estudantes do ensino superior.

Torres Novas recebe IV Jornadas de Ortopedia no SNS

O Centro de Responsabilidade Integrado de Ortopedia da ULS Médio Tejo organiza as IV Jornadas dos Centros de Responsabilidade Integrados na área da Ortopedia este sábado, 12 de abril, no Teatro Virgínia, em Torres Novas. O evento reúne especialistas nacionais e internacionais.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights