Portugal deve traçar estratégia para erradicar hepatites virais até 2030

28 de Julho 2022

Portugal deve traçar uma estratégia para eliminar as hepatites virais até 2030, cumprindo os objetivos internacionais de reduzir a incidência em 90% e a mortalidade associada em 65%, defende um relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A meta consta do relatório de 2022 do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV), um dos programas de saúde prioritários da DGS, que caracteriza a situação do país e que traça o plano de ação até 2024, identificando as prioridades e as metas a alcançar, enquadradas nos objetivos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Portugal deve traçar orientações programáticas que visem orientar a ação para os próximos anos, com vista à eliminação das hepatites virais até 2030, enquanto ameaça de saúde pública”, refere o documento, ao assinalar que as “ferramentas atualmente disponíveis permitem apontar objetivos ambiciosos”.

Entre esses meios disponíveis, o relatório salienta a disponibilização da vacina contra a hepatite B, com elevadas taxas de cobertura, assim como o facto de a hepatite C ser a primeira infeção crónica viral e oncogénica com cura possível, estando o tratamento disponível em Portugal desde 2015 com taxas de cura superiores a 95%.

A OMS definiu como metas para resolver este problema de saúde pública a redução em 90% do número de novos casos de infeção por hepatite B e C e da mortalidade associada em 65% até 2030.

Para cumprir de forma global esses objetivos, a programa criado pela DGS em 2016 e liderado pelo médico gastrenterologista e hepatologista Rui Tato Marinho definiu orientações programáticas para o triénio 2022–2024.

“A prossecução desta missão exige uma ação concertada e multidisciplinar entre diversos setores e intervenientes, nomeadamente do governo, profissionais de saúde e respetivas ordens profissionais, investigadores, academia, organizações da sociedade civil e comunidades de pessoas que vivem com hepatites coordenada pela estrutura responsável pelo programa nacional”, alerta o relatório.

Até 2024, o PNHV pretende, entre outros objetivos, aumentar anualmente em 33% o número de rastreios dos vírus das hepatites B e C e reduzir em 50% a mortalidade associada, assim como eliminar a transmissão vertical da hepatite B e tratar mais de 90% das pessoas com hepatite B e C elegíveis.

Apesar de serem conhecidas cinco hepatites (A, B, C, D e E), as mais relevantes são as hepatites B e C, sendo os seus agentes causadores classificados como vírus que podem evoluir para casos crónicos e para cirrose hepática com elevado risco de carcinoma hepatocelular.

No que se refere à vigilância, o relatório indica que o número total de casos confirmados de hepatite A manteve-se estável entre 2015 e 2020, mas com um elevado número em 2017 (641) devido a um surto. Com exceção desse ano, o número anual de casos variou entre 20 (2020) e 82 (2018) neste período.

Quanto à hepatite B, o número total de casos notificados manteve-se estável em 2017 (175) e 2018 (176), com um aumento em 2019 (220) e diminuição em 2020 (129).

Já o número de casos confirmados de hepatite C entre 2017 e 2020 são, em dados absolutos, superiores aos da hepatite B, verificando-se um padrão semelhante por sexo.

“Os dados disponíveis mostram que a prevalência da hepatite B é muito reduzida entre utentes ativos consumidores de substâncias ilícitas (injetáveis ou não), mas muito elevada para a hepatite C, aumentando significativamente no grupo de pessoas consumidoras de drogas por via injetável”, alerta o documento.

Relativamente à população reclusa, em 31 de dezembro de 2021, encontravam-se nessa situação 11.167 pessoas, com prevalências de hepatite B e C de 1,9% e 7,3%, respetivamente.

“A análise comparativa com os dados de 2016 evidencia a diminuição das prevalências na população reclusa para a hepatite B (2,38%) e C (12,26%), provavelmente fruto da implementação do modelo de abordagem destas hepatites em contexto prisional desde 2018”, salienta o documento.

O relatório analisa ainda o surto de hepatite aguda de causa desconhecida em idade pediátrica, adiantando que, de 28 de abril até 3 de julho, foram reportados em Portugal 23 casos suspeitos e, após investigação, foram descartados quatro casos por apresentarem uma causa alternativa que justificava a hepatite.

“Os resultados obtidos na investigação epidemiológica dos casos em Portugal enquadram-se nos principais resultados encontrados a nível internacional, relativamente à identificação de adenovírus, SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios”, refere o documento.

Ao nível do transplante hepático, “Portugal é um dos países do mundo com uma das mais elevadas taxas”, refere o relatório, que atribui isso à eficiência do sistema de colheita de órgãos.

“Em 2021, nota-se já uma tendência para retoma dos índices prévios à pandemia covid-19, com 211 casos em comparação com 193 em 2020. No entanto, parece existir uma tendência para redução do número de casos de transplante hepático associado à hepatite C, decorrente do uso generalizado dos antivíricos de ação direta”, indica.

As hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes por ano (cerca de 4.000 por dia), ultrapassando a causada por outras doenças infecciosas, incluindo a infeção pelo VIH (680.000), a malária (627.000) e em paralelo com a tuberculose (1,4 milhões).

LUSA/HN

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