No dia 02 de agosto, os 37 enfermeiros desta unidade pediram escusa de responsabilidade, alegando não estarem em condições de assegurar “a vida e a segurança dos recém-nascidos, bem como a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados ao neonato e família”, apesar de desenvolverem “todos os esforços para evitar qualquer incidente ou acidente”.
Perante esta situação, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, visitou esta quinta-feira a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN), uma das mais diferenciadas do país, e reuniu-se com a enfermeira coordenadora do serviço.
“Havendo esta situação, o hospital não tem outra alternativa senão encerrar algumas vagas [incubadoras] e de uma forma temporária até conseguir estabilizar a equipa, integrar os novos elementos e procurar que venham mais elementos”, defendeu a bastonária em declarações à Lusa.
Segundo Ana Rita Cavaco, chegou-se à conclusão que, à semelhança do que a OE já propôs em vários serviços do país, inclusive no Hospital Santa Maria, “é necessário encerrar vagas”, sublinhou, no final da visita.
Adiantou que a equipa “está incompleta” por saídas, por vários motivos, e que os três enfermeiros que estão previstos ir para a UCIN “não resolvem o problema de imediato”, porque precisam de ter três meses de integração e, entretanto, dois enfermeiros meteram baixa.
“As pessoas continuam a meter baixa por exaustão porque durante muito tempo, em vez de fazer as 35 horas de trabalho, fazem 50, 60 e 70 horas”, salientou.
Por estas razões, os enfermeiros enviaram há seis dias uma proposta de encerramento de vagas ao conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente.
“O serviço não é um serviço amplo, está dividido com várias áreas, nomeadamente cuidados intermédios, e portanto, há vagas que podem temporariamente ser encerradas e foi isso que falámos com a senhora enfermeira diretora no final da visita”, contou, adiantando que, a seu pedido, a proposta foi enviada ontem à OE que vai apresentá-la formalmente na sexta-feira ao CHULN.
A UCIN admite recém-nascidos a partir das 24 semanas de idade gestacional, a maioria classificados de alto risco e que carecem de cuidados altamente diferenciados e distintos, tendo capacidade para 19 recém-nascidos, distribuídos por quatro salas.
“Os rácios têm sido dois bebés por cada enfermeiro em cuidados intensivos e até quatro bebés em cuidados intermédios, rácios que, por si só, já não cumprem o determinado para as designadas dotações seguras”, afirmam os enfermeiros na declaração de escusa de responsabilidade.
Citando estudos internacionais sobre a segurança do doente, a bastonária disse que, por cada doente a mais que o enfermeiro tem a seu cargo, a taxa de mortalidade dentro dos hospitais sobe 7%.
“Portanto, quando nos perguntam porque é que falam da salvaguarda da vida das pessoas, não somos nós que falamos, são os estudos internacionais que dizem isto”, sublinhou.
LUSA/HN
0 Comments