“Desde cedo percebemos que estamos e viemos todos para o mesmo, e isso é muito importante, que estejamos todos com a mesma mentalidade e com o mesmo espírito missionário e tem sido um trabalho muito bom”, começou por afirmar à Lusa Mafalda Martinho, chefe geral do Projeto + em Cabo Verde.
Com início em 2015 em Portugal, ligado à pastoral universitária da Diocese de Lisboa, o projeto tem uma natureza cristã, para durante o verão proporcionar aos jovens católicos momentos de aprofundamento da sua espiritualidade, formação humana, e ao mesmo tempo prestar serviço.
Iniciativa de uma universitária, o projeto começou com 10 pessoas, mas já conta com cerca de 150 voluntários e quatro missões em Portugal, envolvendo estudantes em Lisboa, mas naturais de vários outros sítios de Portugal.
Desde 2018 – com interrupção em 2020 por causa da pandemia de covid-19 – os grupos aterram em Cabo Verde, para durante cerca de um mês realizarem missão no concelho do Paul, no extremo nordeste da ilha de Santo Antão, com 5.570 habitantes (1,2% do país), segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) cabo-verdiano.
Mafalda Martinho, estudante de Farmácia, 22 anos, tem a tarefa de entre dezembro e janeiro começar a organizar toda a logística para quando chegarem ao arquipélago africano estar tudo pronto para iniciar, o que aconteceu este ano em 13 de julho.
E desde então que nunca mais pararam, organizando atividades com crianças desde os 02 anos, mas também jovens até os 18 anos, destacando-se um campo de férias na cidade das Pombas, mas as brincadeiras chegam a várias outras comunidades do município, onde 75,4% da população vive no meio rural, essencialmente da agricultura, pecuária, pesca e comércio.
Cada atividade pode envolver no mínimo de 15 a 20 crianças, mas em dias mais propícios a brincadeiras ao ar livre – tem chovido nos últimos dias no concelho – pode chegar aos 100 participantes, segundo a “projetista” da missão à ilha mais a norte de Cabo Verde.
Mafalda Martinho faz um balanço “muito positivo” nesta que é a segunda vez que participa na missão e disse que regressa a Loures, arredores de Lisboa, com o “coração cheio” e com “novos horizontes”.
“Vimos para dar, mas acabamos por receber muito mais e aquilo que nós levamos é mesmo este novo olhar perante as coisas e o olhar que nós damos às pessoas que se cruzam connosco”, afirmou a voluntária no meio do torneio relâmpago no principal polidesportivo do Paul, onde também entra em campo para dar uns toques na bola com a criançada.
Outro dos missionários é Francisco Costal, 23 anos, estudante de Medicina, que é igualmente chefe do Projeto +, que organiza semanas de atividades em Portugal, em missões em Arruda dos Vinhos, Óbidos, Silveira e no Bombarral.
No Paul, além da pobreza material e financeira – é considerado um dos concelhos mais pobres de Cabo Verde – o chefe do projeto constatou uma “grande pobreza espiritual”, pelo que o objetivo é levar “um pouco de alegria” e liberdade de espírito cristão às crianças e jovens.
“Dá-lhes horizontes novos, mais largos, sonhos grandes, que elas, às vezes aqui, no meio desta pobreza espiritual, parecem não ter”, lamentou, dizendo que a preocupação é entreter os miúdos, mas estimular outras capacidades sobre profissões, respeito pelo ambiente e pelos animais, mas também virtudes humanas.
“Da minha parte, sinto-me em casa”, garantiu o responsável, que nasceu em Algés, mas o avô é natural dos Lajedos, no concelho do Porto Novo, também na ilha de Santo Antão, e para quem a experiência também não podia ser melhor.
“É um projeto que mudou a minha vida, abriu os meus horizontes, deu-me a conhecer formas diferentes de viver a vida e a minha fé católica”, descreveu Francisco Costal, nesta que é a sua terceira missão ao Paul, mas que, como todos os missionários, vai fechar a participação no projeto no próximo ano, assim que terminar o curso.
Mas prometeu voltar mais vezes a Cabo Verde, de férias ou em serviço, e garantiu que o projeto voltará ao concelho mais pequeno do Paul enquanto continuar a haver necessidade.
“Tem valido muito a pena, e acho que todas as comunidades que já foram missionadas cresceram muito, mas, sobretudo, fizeram-nos crescer com elas, o que acaba por ser mais importante”, sustentou o chefe do projeto em Portugal, vestindo uma camisola azul da seleção cabo-verdiana de futebol e ainda a transpirar no final de um dos jogos com os miúdos.
A par das atividades lúdicas, há também a parte espiritual, que é dirigida pelo padre Nuno Amador, o mais velho do grupo, com 42 anos, que partiu de Lisboa pela terceira vez não só para acompanhar os voluntários, como também a paróquia de Santo António das Pombas, que tem 225 anos.
“É uma comunidade viva, bastante disponível, muito acolhedora, preocupada com questões humanas, sociais e também espiritualmente em crescimento”, constatou o padre, que em Portugal trabalha com a pastoral universitária de Lisboa e no Seminário dos Olivais.
O regresso do grupo a Lisboa está marcado para 17 de agosto, e o padre Nuno disse que leva para casa o “empenho” dos paulenses, que vivem com o “essencial”, fazendo muito com pouco e assim superar as dificuldades.
LUSA/HN
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