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Olhar para além da pandemia
Iniciámos o último quadrimestre daquele que é possivelmente um dos anos mais estranhos e desafiantes das nossas vidas. E as notícias relacionadas com a pandemia não são particularmente famosas: o número de contágios tem aumentado em todo o mundo e na Europa muitos países aproximam-se do pico de contágio. Para mais, os especialistas já falam da chegada da segunda vaga. O foco noticioso continua apontado para a COVID-19, mas importa não descurar outras situações de saúde, tão ou mais preocupantes.
Em julho, com o aumento de casos do novo coronavírus, o Governo português, através de um despacho específico, suspendeu cirurgias e consultas não urgentes em Lisboa. E o Serviço Nacional de Saúde nunca mais recuperou do atraso. “Cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, mas no âmbito deste processo de proteção do utente, talvez valha a pena definir prioridades e soluções para todos aqueles que não podem prescindir de cuidados continuados.
Temos de continuar a acreditar na segurança do nosso SNS e não descurar consultas e exames tão importantes para a deteção precoce de situações mais graves de saúde. Quantos carcinomas, problemas cardiovasculares e afins, ficaram por detetar e tratar durante estes meses de confinamento? Quantas importantes cirurgias associadas a diferentes problemas, foram adiadas por causa do crescente número de infecções pela COVID-19?
Recentemente, a Europacolon Portugal reportava um gravoso adiamento de mais de um milhão de consultas em várias especialidades médicas e mais de 100 mil cirurgias paradas. O verdadeiro impacto que estas situações vão ter no aumento da incidência de cancro colorretal em Portugal provavelmente só saberemos nos próximos anos. Outras associações de doentes, muitas delas relacionadas com doenças crónicas, também têm procurado dar voz às preocupações dos seus associados, quer ao nível das consultas quer no acesso a tratamentos fundamentais.
E se a concentração de esforços por parte do SNS no combate à pandemia colocou em segundo plano outros serviços hospitalares e levou ao adiamento de exames essenciais e de cirurgias, a decisão de diminuir o tratamento de doentes “não-covid” não coube apenas às autoridades médicas – os próprios doentes afastaram-se dos hospitais, devido ao receio de contágio. Um aspeto importante que tem de ser trabalhado de forma pedagógica e útil.
Entretanto, a Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, em parceria com a Roche, preparam-se para apresentar o movimento “Saúde em Dia” com o objetivo de alertar para a importância de não se mascarar sintomas e não adiar visitas ao médico perante sinais de alerta. O mote passa por manter a saúde sob vigilância, consultar o médico quando necessário, ter atenção a sintomas, não adiar exames necessários e continuar a fazer os respetivos tratamentos. São todos gestos simples pré-pandemia, mas que hoje implicam quase a esforços sobre-humanos. E o nosso SNS deve cooperar com as diferentes entidades públicas e privadas no acesso a cuidados de saúde, unidas em prol do bem comum.
Estes doentes, principalmente aqueles que sofrem de doenças crónicas, não podem ficar para trás, abandonados no olho do furacão COVID. E, mais uma vez, a disciplina da comunicação assume um papel preponderante na descodificação e difusão de mensagens de sensibilização. Preferencialmente com o apoio de entidades como a DGS e o Ministério de Saúde para um reforço institucional da mensagem forte e inequívoco.
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