Artigo em causa: “A Especialidade em Medicina de Urgência”
Exma. Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina interna (SPMI), cara colega:
Como Presidente e em nome da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE) e internista que também sou, quero expressar-lhe uma mensagem de tranquilidade: a Medicina Interna nada tem a recear com a implementação da Especialidade de Medicina de Urgência (MU) em Portugal.
Permita-me apresentar de forma transparente e pela positiva aquilo que defendemos. A Especialidade de Medicina de Urgência está implementada em 82 países e continua a crescer exponencialmente com uma motivação: “criar um mundo onde todas as pessoas, em todos os países, tenham acesso a cuidados médicos de emergência de alta qualidade” (International Federation for Emergency Medicine (IFEM). Também a União Europeia na sua Diretiva 2005/36/CE, define que todos os países europeus devem adotar a Medicina de Urgência como Especialidade. Atualmente 32 países na Europa seguiram este caminho.
Há 20 anos que em Portugal lutamos para seguir as boas práticas em medicina de urgência, á semelhança do que se faz no resto do mundo.
Através do Colégio da Competência em Emergência Médica (CCEM) e da SPMUE fomos discutindo este tema com outros Colégios e Sociedades e recebemos apoios inequívocos da grande maioria (Cirurgia, Ortopedia, Anestesiologia, Cuidados Intensivos, etc).
Se o primeiro foco desta nova “velha” especialidade é o doente, subjacente a este estão outros muito relevantes: o contributo que trás para a gestão de serviços de urgência de norte a sul do pais e regiões autónomas, permitindo a constituição de quadros médicos próprios, com formação de excelência, que irão exercer lado a lado com as demais especialidades já existentes.
Tendo lido com atenção o artigo que vossa excelência publicou permita-me uma reflexão sobre o mesmo.
A Medicina Interna (MI) é nos dias de hoje uma especialidade sobrecarregada e cansada.
O desafio dos últimos anos com a diversificação dos seus campos de ação, levou á dispersão dos nossos especialistas por outras áreas. Os 2 anos de pandemia foram arrasadores. O trabalho nos serviços de urgência (SU) em turnos de 12 e 24 horas e a necessidade de horas extraordinárias de forma recorrente leva á exaustão dos profissionais. Nós somos manifestamente insuficientes para responder a todas as solicitações. Os serviços de MI estão despovoados e esta situação vai piorar tal como o reconhece no seu artigo. Este ano, agravando a tendência dos anos anteriores um número muito preocupante de vagas para a especialidade de MI não foi preenchido. O número de Internistas teima em diminuir de forma dramática comprometendo a muita curto prazo a capacidade de resposta da MI no SU.
A Medicina Interna será uma das grandes beneficiadas com a criação desta especialidade de MU. Esta é uma certeza não uma impressão.
Cara Presidente da SPMI, cara colega, eu sei que sabe que muitos, senão a maioria, dos internistas que exercem nos SU são claramente a favor da Especialidade de MU, e não se revêm de todo nesta posição da SPMI.
Em nenhum momento a criação da especialidade de MU é tão oportuna para a MI como agora. A MI não consegue sozinha, dar resposta aos SU, sendo que na vasta maioria dos serviços de urgência básica nem sequer está presente.
Não é vergonha a MI assumir que precisa de ajuda, antes um sinal de humildade e preocupação com os doentes. A Medicina de urgência pode fazer parte dessa solução.
Reforço a notícia de destaque desta semana da posição tomada, por 56 médicos, diretores e ex-diretores de urgência, colegas nossos, a maioria internistas, exigindo a implementação da Especialidade de MU.
É claro o posicionamento que a Sociedade Civil, o Parlamento e o Governo têm tomado nesta matéria no alinhamento de apoio à criação desta especialidade.
A SPMUE está convicta que este caminho que propomos para Portugal vai trazer fortes benefícios para os doentes e ajudar a salvar mais vidas.
Adelina Pereira
Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Interna
Sócia da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Urgência e Emergência
0 Comments