África subsaariana e sul da Ásia registam maioria das mortes infantis por falta de cuidados de saúde

10 de Janeiro 2023

Três em cada quatro crianças com menos de cinco anos que morreram em 2021 por falta de cuidados de saúde de qualidade viviam na África subsaariana e no sul da Ásia, anunciou esta terça-feira a ONU.

Os dados, hoje divulgados em relatórios apresentados pelo Grupo Institucional das Nações Unidas para a Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME, na sigla em inglês), indicam que o risco de morte infantil nessas duas regiões do mundo é 15 vezes superior ao registado na Europa e na América do Norte.

De acordo com os documentos, mais de metade (56%) das crianças que morreram com menos de cinco anos por “causas evitáveis” eram dos 48 países que fazem parte da região da África subsaariana, da qual fazem parte Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

No sul da Ásia – zona que integra Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka e onde vive um quarto de toda a população mundial – a taxa de mortalidade na faixa etária até aos cinco anos foi de 26%.

“Por trás destes números estão milhões de crianças e famílias que não têm direito a cuidados básicos de saúde”, avisa o diretor global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial e do Mecanismo de Financiamento Global, Juan Pablo Uribe.

“Temos de ter vontade política para [criar] um financiamento sustentado dos cuidados de saúde primários, que é um dos melhores investimentos que os países e os parceiros de desenvolvimento podem fazer”, defende o representante, lembrando que o acesso e a disponibilidade destes cuidados continuam a constituir uma questão de vida ou morte para as crianças de todo o mundo.

As mães que vivem nestas duas regiões do mundo também vivenciaram a maior taxa de bebés que nasceram mortos em 2021, ano em que foram registados 1,9 milhões nados mortos por falta de cuidados primários.

Também o risco de uma mulher dar à luz um bebé morto é sete vezes maior na África subsaariana do que na Europa ou na América do Norte, apontam os documentos.

A maioria das mortes de crianças acontece nos primeiros cinco anos de vida, sendo que metade é registada no primeiro mês de vida devido a partos prematuros e complicações durante o trabalho de parto.

Mais de 40% dos nados mortos acontecem durante o trabalho de parto, a maioria dos quais seria evitável se as mulheres tivessem acesso a cuidados de saúde com qualidade durante a gravidez e o parto, alerta o grupo da ONU.

Para as crianças que sobrevivem após os primeiros 28 dias, a maior ameaça são doenças infecciosas como pneumonias, diarreia e malária.

O UN IGME adianta ainda que, embora a covid-19 não tenha aumentado diretamente a mortalidade infantil – já que as crianças têm uma menor probabilidade de morrer da doença do que os adultos –, a pandemia pode ter feito crescer os riscos futuros para a sua sobrevivência.

Os relatórios destacam, em particular, as preocupações com as interrupções nas campanhas de vacinação, nos serviços de nutrição e no acesso aos cuidados primários de saúde, que podem comprometer a saúde e o bem-estar durante muitos anos.

“A pandemia provocou o maior retrocesso contínuo nas vacinações das últimas três décadas, colocando os recém-nascidos e as crianças mais vulneráveis em maior risco de morrer de doenças evitáveis”, avisa o grupo interinstitucional das Nações Unidas.

“As estimativas destacam um notável progresso global desde 2000 na redução da mortalidade entre crianças menores de 5 anos”, mas “é preciso mais trabalho para ultrapassar as grandes diferenças na sobrevivência infantil entre países e regiões, especialmente na África subsaariana”, defende o diretor da Divisão de População do UN IGME, John Wilmoth, citado nos relatórios.

“Só melhorando o acesso a cuidados de saúde de qualidade, especialmente na altura do parto, seremos capazes de reduzir essas desigualdades e acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças em todo o mundo”, conclui.

O UN IGME foi criado em 2004 para partilhar dados sobre mortalidade infantil, melhorar os métodos de estimativas, relatar a evolução das metas de sobrevivência infantil e aumentar as capacidades dos países.

O grupo é liderado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e inclui a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Grupo do Banco Mundial e a Divisão de População das Nações Unidas do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais.

LUSA/HN

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