HealthNews (HN) – Como surgiu o Projeto São Martinho de Lima, anteriormente denominado Associação de Apoio a Doentes de SIDA?
Amílcar Soares (AS) – O Projeto São Martinho de Lima foi criado pelo Padre Elias com o apoio da Segurança Social, com o objetivo de ajudar no pagamento de medicamentos das comorbilidades das pessoas portadoras de SIDA e também na alimentação, através da criação de um Banco Alimentar.
HN – Como se processou a transferência da gestão do Projeto São Martinho de Lima para a Associação Positivo?
AS – Como as pessoas que faziam parte da direção do Projeto São Martinho de Lima já tinham alguma idade e os dominicanos, a quem o Padre Elias estava ligado, não estavam interessados na sua gestão, quando o Padre Elias ficou doente, em 2013, o Instituto da Segurança Social propôs-nos continuar com o projeto. Aceitámos, estando prevista a realização de um protocolo sobre essa transferência de responsabilidade.
Na altura, a Associação Positivo funcionava no Cais de Sodré mas as condições daquele espaço não eram as melhores. Durante o confinamento, a Associação Positivo mudou-se para novas instalações na Rua David de Sousa e conseguimos um pequeno espaço no número 9 do Largo Machado de Assis, destinado ao Projeto São Martinho de Lima, atualmente coordenado pelo André Santos.
Os utentes ficaram muito surpreendidos e satisfeitos porque, apesar de ser pequeno, o novo espaço é moderno e muito agradável. Aqui, podem estar à vontade e receber um atendimento de qualidade.
HN – Portanto, desde 2013 que a Associação Positivo está a gerir o projeto iniciado pelo Padre Elias com fundos da Segurança Social?
AS – Esses fundos eram entregues ao Projeto São Martinho de Lima. A ligação com a Associação Positivo era realizada pelo assistente social da Associação, o Dr. Paulo Renato, que nos entregava o dinheiro em mão.
Com a pandemia de Covid-19, o número de pessoas apoiadas pelo Projeto São Martinho de Lima aumentou. No início eram cerca de 40 e agora são 62.
Trabalhamos em duas frentes: pessoas portadoras de SIDA e más condições económicas. Por vezes, recebem reformas de duzentos euros, o que não dá para nada.
HN – Até quando a Associação Positivo recebeu essas verbas?
AS – Até setembro do ano passado embora, nesse mês, somente tenhamos recebido parte da verba.
HN – Como é que conseguiram manter o apoio aos utentes desde setembro de 2022 até agora?
AS – Com uma gestão muito fina do budget de que dispúnhamos, como fazemos em nossa casa. Dessa forma, conseguimos melhorar a qualidade do cabaz alimentar, com a incorporação de mais proteína, fruta e vegetais e, simultaneamente, dispor de um pequeno plafond para fazer face a alguma aflição, como a que vivemos desde setembro. Não há milagres: é uma questão de gestão.
Muitas das pessoas apoiadas pelo Projeto São Martinho de Lima têm família. Sabendo isso, tentamos dar-lhes sempre um pouco mais. Claro que não alimentamos a casa toda. É um apêndice àquilo que já têm no seu dia-a-dia, mas faz muita diferença.
Vêm buscar o Banco Alimentar uma vez por mês e o “Cabaz Saudável”, à base de legumes e fruta, cada quinze dias. Por sua vez, os medicamentos são entregues na sede da Associação Positivo.
HN- Entretanto, o que é que aconteceu ao Dr. Paulo Renato?
AS – Sabemos que adoeceu e, depois disso, nunca mais o conseguimos contactar. Nem através de telefone, nem do e-mail. Não voltámos a saber nada dele.
HN – Neste momento, quem é que tem nas mãos o poder para continuar a assegurar a continuidade do trabalho desenvolvido pelo Projeto São Martinho de Lima?
AS – O Instituto da Segurança Social. Aquilo que nos dizem é que, como não conseguiram contactar ninguém do Projeto São Martinho de Lima e, por outro lado, nunca ninguém lhes deu resposta em todos estes anos, nem lhes prestou contas, deixaram de lhes fazer a transferência de verbas.
HN – Contudo, foi a Segurança Social que pediu à Positivo para tomar conta do Projeto São Martinho de Lima…
AS – Sim, quando mudámos para as novas instalações, esteve cá uma funcionária da Segurança Social que programou tudo para que o Projeto São Martinho de Lima seja integrado nas verbas que vêm para a Associação Positivo. Contudo, a informação que recebemos ultimamente é que o assunto ainda está a ser objeto de discussão pela Administração do Instituto da Segurança Social.
HN – E a Associação Positivo só tem dinheiro para apoiar os utentes do Projeto São Martinho de Lima até janeiro?
AS – Sim, em fevereiro já não vamos conseguir. Precisamos de uma decisão rápida do Instituto da Segurança Social. Não nos interessa saber se o problema é quem paga o quê, ou seja, se os medicamentos devem ser pagos pelo Ministério da Saúde e os alimentos pela Segurança Social… O que queremos é manter o projeto e continuar a apoiar as pessoas. Da nossa parte, estamos inteiramente disponíveis para prestar contas porque temos as faturas de tudo o que adquirimos.
Temos falado com as pessoas que cá estiveram quando a Associação Positivo e o Projeto São Martinho de Lima mudaram para as novas instalações, ou seja, pessoas do terreno. Mas continua sem haver uma decisão por parte da Administração.
HN – Já avisaram as pessoas que, em fevereiro, provavelmente vão deixar de receber este apoio?
AS – Sim. Entretanto, não baixámos os braços e estamos a tentar encontrar alguma solução mas as probabilidades que existem, sem a verba da Segurança Social, são muito reduzidas. Entre não dar medicamentos ou não dar comida, “venha o diabo e escolha”, como se costuma dizer.
Entrevista de Adelaide Oliveira
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