Várias medidas para o SNS dependem apenas da vontade política

15 de Fevereiro 2023

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) afirmou que várias recomendações previstas no relatório da carreira médica, hoje entregue ao ministro da Saúde, não têm impacto financeiro, dependendo a sua concretização da vontade política do Governo.

“Há aspetos que não implicam investimento, mas uma forma diferente de organizar e gerir as coisas”, adiantou Miguel Guimarães à agência Lusa, depois de uma reunião com Manuel Pizarro, que serviu para entregar o documento que resulta do trabalho desenvolvido pela OM nos últimos anos.

O relatório inclui os “grandes desafios” que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta, em áreas como o custo dos cuidados, o acesso dos utentes, a inovação da medicina e a evolução demográfica do país, e apresenta medidas em várias áreas para modernizar e agilizar o sistema de saúde nacional.

“Pelo menos as medidas que não implicam investimento não dependem do Ministério das Finanças e podem avançar rapidamente. O Ministério das Finanças tem de pensar que a saúde é a maior fonte de retorno económico para o Estado”, salientou Miguel Guimarães.

Segundo o bastonário, o relatório agora apresentado resulta de “quatro grandes estudos” realizados sobre matérias como a carreira médica e o setor social e privado, mas também da audição de “milhares de médicos”, num processo que serviu para a elaboração das recomendações formuladas.

“Pareceu-me que, na quase totalidade daquilo que lhe falei, o senhor ministro está de acordo e até ficou particularmente interessado em algumas medidas apresentadas”, disse o bastonário, ao salientar que o Ministério da Saúde ficou com um “documento de trabalho para os próximos tempos”.

Entre as medidas que não têm impacto financeiro, Miguel Guimarães exemplificou com a necessidade de o SNS adotar um “novo modelo de gestão com características mais próximas do que se faz no setor privado”, para permitir uma maior agilização e decisão dos processos.

“Não podemos estar seis ou sete meses à espera de contratar um médico ou um enfermeiro ou renovar um equipamento que até é relativamente barato”, disse o bastonário, ao alertar, porém, que a gestão das unidades de saúde “é apenas uma das partes” que tem de ser alterada.

Segundo disse, outra componente é o “capital humano” do SNS, uma vez que “todos os dias saem médicos experientes do SNS”, não apenas de regiões mais periféricas, mas também dos principais hospitais centrais do país.

O SNS está a “ficar descapitalizado. Temos mais médicos, mas menos força de trabalho”, alertou o responsável da ordem, que considerou “muito elevado” o número de clínicos que trabalha nas unidades públicas com um horário de 20 horas semanais.

“Se eu tiver 5.000 médicos a 40 horas é a mesma coisa que se tiver 10.000 mil médicos a 20 horas, em termos de força de trabalho”, sublinhou.

“Todas as medidas que estão definidas neste relatório, e muitas delas são verdadeiramente inovadoras, são importantes para reforçar a capacidade de resposta do SNS, fazer com que mais médicos optem por ficar a trabalhar no SNS, e para a organização dos processos de gestão das proporias unidades”, disse.

Dados de um inquérito de 2021 da OM indicam que a maioria dos inquiridos (6.755) desenvolve a sua prática clínica no SNS (63%), mas, desse universo total, 57% opta por acumular uma carreira nos setores privado e social, enquanto apenas 43% exerce exclusivamente nas unidades de saúde públicas.

“De entre os médicos que exercem exclusivamente no SNS, 32% pretendem vir a trabalhar no privado, em média dentro de dois anos e meio. Na sua maioria (38%), os médicos têm como objetivo manter as suas funções no SNS e acrescentar a prática no privado, contudo 23% pretende deixar de trabalhar no SNS e dedicar-se exclusivamente ao privado”, refere o estudo da ordem.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This