De acordo com a equipa da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), “as barreiras linguísticas e culturais podem condicionar o acesso da população chinesa imigrante ao sistema de saúde” português.
“E cerca de um terço dos imigrantes chineses consideram que o horário de atendimento é uma condicionante no acesso aos serviços de saúde públicos, o que estará relacionado com as suas longas jornadas de trabalho”, referem as conclusões de um estudo coordenado pelo professor da FMUP e investigador do CINTESIS Rui Nunes.
Os investigadores analisaram o acesso aos serviços de saúde portugueses por parte de 304 cidadãos de nacionalidade chinesa.
Foram estudados os hábitos de pessoas com mais de 18 anos que residam em Portugal há pelo menos um ano.
O trabalho, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health em 30 de janeiro, envolveu a realização de um questionário em português e em mandarim.
Com mais de 26 mil pessoas, a comunidade chinesa em Portugal representa a sétima maior comunidade estrangeira em território nacional.
Os autores do estudo da FMUP e do CINTESIS concluíram que 93% dos imigrantes chineses já tinham procurado cuidados de saúde em Portugal, mas mais de metade (54%) admitiu ter viajado até ao seu país de origem para monitorizar ou tratar problemas de saúde.
Os principais problemas monitorizados fora de Portugal foram as doenças musculoesqueléticas e de estômago.
“E foram sobretudo pessoas mais velhas, com menor escolaridade e que residiam há mais tempo em Portugal” que se deslocaram à China para tratar problemas de saúde, lê-se no resumo remetido pela FMUP.
Os investigadores concluíram que entre as principais razões para essa opção estavam a confiança nos cuidados de saúde prestados na China, a nacionalidade dos profissionais de saúde, o facto de estes entenderem os seus hábitos e o apoio da família.
Paralelamente, a quase totalidade dos inquiridos já tinha recorrido à chamada “medicina ocidental”, mas cerca de 74% admitiram ter pedido à família e amigos a residir na China que lhe enviassem produtos da medicina tradicional chinesa para combater principalmente gripes e constipações.
“Em conclusão, esta investigação indica que os imigrantes chineses acedem aos serviços de saúde portugueses, mas que existe ainda necessidade de adotar políticas de saúde que aumentem a equidade de acesso aos cuidados por parte desta comunidade”, acrescenta.
Citado na informação remetida à Lusa, Rui Nunes considera que “estes resultados demonstram a importância da modernização do sistema de saúde, em especial do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de modo que o direito à proteção da saúde, previsto na Constituição, seja um direito efetivo e usufruído por todos, e não apenas por alguns”.
“Mais ainda quando Portugal acolhe cada vez mais imigrantes de diferentes proveniências, que devem olhar para o sistema de saúde como um fator decisivo na escolha do nosso país para residir”, defende o professor.
A oferta de cursos de mandarim e ações de sensibilização dedicadas a profissionais de saúde nacionais sobre os hábitos culturais da população chinesa a residir em Portugal são algumas das recomendações dos investigadores.
Somam-se a criação de um grupo de apoio composto por profissionais com conhecimentos de mandarim e da cultura chinesa e a criação de guias e de dossiês destinados aos profissionais.
A equipa de investigadores juntou Rui Nunes, Sandra Lopes Aparício, Ivone Duarte e Luísa Castro.
LUSA/HN
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