Comida vegana quer sair de um nicho e tornar-se normal na gastronomia portuguesa

17 de Março 2023

Jantares exclusivamente veganos vão percorrer o país até outubro para mostrar que a comida vegetal é saborosa e nutritiva e pode tornar-se "normal" na gastronomia em Portugal, um desafio lançado pelo ‘Dirty Vegan Show’, anunciou a organização.

Entre abril e outubro, cinco restaurantes portugueses vão receber jantares ‘pop-up’ exclusivamente veganos, uma iniciativa que pretende ser uma “declaração de que é preciso normalizar, de que não há locais especiais ou inacessíveis para o que quer que seja na gastronomia”, disse à Lusa Paulo Amado, da Edições do Gosto, que organiza o ‘Dirty Vegan Show’.

“O que queremos com o ‘show’ é normalizar a ideia de comida vegetal. Queremos que seja disponível, acessível”, prosseguiu.

A gastronomia vegetariana tem conquistado um papel de destaque, nos últimos meses, em Portugal: o restaurante ‘Encanto’, de José Avillez, foi o primeiro vegetariano da Península Ibérica a receber uma estrela, na edição de 2023 do Guia Michelin Espanha e Portugal, enquanto o chef David Jesus (‘Seiva’, Leça da Palmeira) conquistou o prémio Destaque do Ano atribuído pelo blogue de gastronomia Mesa Marcada.

Para Paulo Amado, abrem-se atualmente duas possibilidades.

Por um lado, “está a valorizar-se aqueles que fazem uma afirmação exclusivamente vegetal, que é um caminho frutífero, mas mais longo”, e, por outro, há esta aposta “numa normalização, o que quer dizer que é preciso valorizar o que já se faça só de vegano”.

O nome do festival, adiantou, tem também “algo de provocativo”.

“Comida vegetariana, macrobiótica, vegana parecem segmentos como algo esotérico, isolado, não disponível. O que nós queremos, dentro desta lógica de normalização, é comer com as mãos comida muito saborosa, divertida, só que só tem proteína vegetal”, explicou.

O pontapé de saída do ‘Dirty Vegan Show’ foi dado hoje, em Lisboa, com um almoço preparado por seis chefs: David Jesus, Pedro Abril (‘Musa’, Lisboa), Diogo Pereira (‘Raya’, Alandroal), Natália Finger (‘Planto’, Lisboa), Juliana Penteado (‘Juliana Penteado Pastry’) e Bruno Rocha (‘Bairro Alto Hotel’).

David Jesus considerou que o crescimento da comida vegetal decorre da maior preocupação com a sustentabilidade, quer a nível ambiental quer nutritiva.

“A nossa base de sabor é vegetal e isso tem sido uma tendência também impulsionada pelo mercado estrangeiro”, comentou à Lusa.

No ‘Seiva’, exemplificou, serve em média 70 pessoas por dia e 90% do público é omnívoro, mas os clientes regressam ao restaurante porque “é muito bom”.

“A comida vegetal cria apetite, cria gula e é muito competente e isso é que é importante”, sustentou.

Bruno Rocha, do Bairro Alto Hotel, tem apostado nos pratos vegetarianos na sua cozinha, porque acredita que “é preciso não ceder a todos os caprichos dos clientes, é preciso também educá-los”, nomeadamente respeitando a sazonalidade dos produtos.

Se os clientes estrangeiros estão “mais familiarizados” com estas opções, já o público português tem “um caminho longo a percorrer”, porque “ainda há esse estigma de que não vão ficar saciados”, considerou.

O ‘Dirty Vegan Show’ vai decorrer nos restaurantes ‘Fava Tonka’ (20 de abril), ‘O Marmorista’ (18 de maio), ‘Seiva’ (06 de junho), ‘Musa Marvila’ (12 de julho) e ‘D’NX Gastronomic Lab’ (19 de outubro).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

IGAS processa Eurico Castro Alves

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) anunciou hoje ter instaurado em novembro de 2024 um processo ao diretor do departamento de cirurgia do Hospital Santo António, no Porto.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights