Perceção da importância de vacinas para crianças diminui durante a pandemia

20 de Abril 2023

A Unicef alertou hoje que a perceção pública da importância das vacinas infantis diminuiu durante a pandemia em 52 de 55 países analisados, incluindo Portugal, que registou uma queda de 6,5%.

“Em Portugal, a perceção da importância (da vacinação) para as crianças pré-covid-19 era de 98,2% e pós-covid-19 de 91,7%, uma diferença de 6,5%”, lê-se na síntese do relatório “Situação Mundial da Infância” hoje divulgado.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância especificou que a opinião sobre a relevância das vacinas para as crianças baixou mais de um terço na Coreia do Sul, Papua Nova Guiné, Gana, Senegal e Japão.

De acordo com os dados recolhidos pelo Vaccine Confidence Project (VCP) e publicados hoje pela Unicef, a China, a Índia e o México foram os únicos países em que a perceção da importância das vacinas se manteve estável ou melhorou.

“Na maioria dos países, pessoas com menos de 35 anos e mulheres foram mais suscetíveis a relatar menos confiança em relação às vacinas para crianças após o início da pandemia”, conclui a Unicef.

No entanto, segundo o relatório, apesar das quedas, o apoio geral às vacinas infantis “permanece relativamente forte”, sendo que mais de 80% dos países inquiridos reconheceram a sua importância.

“Estes dados são um sinal preocupante. Não podemos permitir que a confiança na imunização de rotina se torne outra vítima da pandemia. Caso contrário, a próxima onda de mortes poderá ser de mais crianças com sarampo, difteria ou outras doenças preveníveis”, disse a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, citada em comunicado.

O relatório atenta que a conjugação de vários fatores “sugere que a ameaça da hesitação em relação às vacinas pode estar a aumentar”, como a incerteza sobre a resposta à pandemia, o acesso a informações fraudulentas, a diminuição da confiança nos peritos e a polarização política.

“De forma preocupante, a diminuição da confiança nas vacinas surge durante o maior retrocesso contínuo na imunização infantil em 30 anos, impulsionado pela pandemia de covid-19”, sublinhou a Unicef, recordando que “a pandemia interrompeu a vacinação infantil em quase todo o mundo”.

O relatório conclui ainda que um total de 67 milhões de crianças não foram vacinadas entre 2019 e 2021, com a cobertura vacinal a diminuir em 112 países.

Dos 67 milhões de crianças que não tiveram acesso à vacinação de rotina entre 2019 e 2021, 48 milhões não receberam uma única vacina de rotina – estas crianças são referidas como “zero doses”.

Em 2022, segundo a Unicef, o número de casos de sarampo foi mais que o dobro contabilizado no ano anterior e o número de crianças paralisadas pela poliomielite aumentou 16%.

“Ao comparar (o período de) 2019 a 2021 com o período de três anos anterior, houve um aumento de oito vezes no número de crianças paralisadas pela poliomielite, reforçando a necessidade de garantir os esforços de vacinação”, indicou.

No final de 2021, a Índia e a Nigéria – países que verificaram quebras na natalidade – registavam o maior número de crianças que não receberam nenhuma dose, mas o aumento no número de “zero doses” foi especialmente notável no Myanmar (antiga Birmânia) e nas Filipinas.

“As imunizações salvaram milhões de vidas e protegeram comunidades de surtos de doenças mortais. Sabemos bem que as doenças não respeitam fronteiras. Para prevenir futuras pandemias, é fundamental manter os sistemas de saúde fortes e as campanhas de vacinação em dia”, afirmou Catherine Russell.

A diretora executiva da Unicef sustentou que, com os recursos que ainda estão disponíveis da campanha de vacinação da covid-19, “é o momento de redirecionar esses fundos para fortalecer os serviços de imunização e investir em sistemas sustentáveis para todas as crianças”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

México apreende mais de 400 mil doses de fentanil em Jalisco

O México apreendeu hoje mais de 400.000 comprimidos de fentanil e seis toneladas de material químico para produzir esta droga sintética, a escassas semanas de Donald Trump tomar posse como Presidente dos Estados Unidos.

ONU alerta para aumento da fome no Sudão

A fome instalou-se em cinco novas regiões do Sudão devastado pela guerra, segundo um relatório publicado hoje pelo sistema de Classificação das Fases da Segurança Alimentar (IPC) utilizado pelas agências das Nações Unidas.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights