SIM diz que situação dos serviços de obstetrícia “vai piorar” devido à “exaustão” dos médicos

4 de Julho 2023

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) garantiu que os constrangimentos nas urgências de obstetrícia e nos blocos de partos verificam-se em vários hospitais do país, alertando que a situação “irá piorar” nos próximos meses.

“O SIM desde há mais de um ano que tem vindo a alertar para a gravíssima situação que se vive nos serviços de obstetrícia na área metropolitana de Lisboa, bem como em outros pontos do país”, adiantou à Lusa o secretário-geral do sindicato.

Em vários hospitais do país registam-se “carências de escalas há muitos meses” na área da obstetrícia e da ginecologia, salientou Jorge Roque da Cunha, ao apontar os exemplos da área metropolitana de Lisboa, do Algarve e de Leiria.

“Este fim de semana no Algarve, na véspera de sábado, foram dois médicos deslocados de Portimão para garantir a urgência em Faro” e esta segunda-feira o SIM recebeu uma “carta de colegas de Leiria, em que manifestam mais uma vez essa insuficiência” de médicos para assegurar as escalas completas, avançou o dirigente sindical.

Segundo Roque da Cunha, essa situação deve-se à “exaustão” dos médicos especialistas dos hospitais públicos, que em 2022 realizaram “cerca de 10 milhões de horas extraordinárias”.

“Em relação ao Hospital de Santa Maria e a muitos desses locais, a situação irá piorar” nos próximos meses, depois de muitos dos especialistas terem efetuado “300 ou 400 horas extra” cada um durante vários anos, alertou.

“Estamos a assistir este ano a uma atitude perfeitamente correta e justificável de médicos que não fazem mais do que as 150 horas [anuais] que são obrigatórias, daí que o Hospital de Santa Maria recorra aos privados” para os partos de baixo risco, referiu Roque da Cunha.

De acordo com o sindicalista, isto está a acontecer porque o Ministério da Saúde “não investe no reforço de médicos no Serviço Nacional de Saúde”.

“A questão de fundo tem a ver com essa incapacidade do Governo que não se irá resolver com propostas de aumentos salariais que nos foram apresentadas de cerca de 1,7% para os vários regimes de trabalho”, lamentou Roque da Cunha.

As grávidas de baixo risco referenciadas para o Hospital de Santa Maria estão a ser reencaminhadas para hospitais privados de Lisboa devido a “constrangimentos na escala clínica” da sala de partos, anunciou no domingo o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN).

O centro explicou que esta decisão surge na sequência da “indisponibilidade de prestação de trabalho extraordinário acima das 150 horas anuais assumida por médicos do departamento e da [recente] demissão de chefes de equipa da Urgência de Obstetrícia e Ginecologia”.

De acordo com o CHULN, as equipas do Hospital de Santa Maria continuarão a assegurar os partos de alto risco, mas “por uma questão de previsibilidade para as famílias acompanhadas no CHULN, foi acionado o mecanismo extraordinário de colaboração com instituições privadas, previsto no plano sazonal de verão ‘Nascer em segurança no SNS’”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Consórcio português quer produzir terapias inovadoras com células CAR-T

Um consórcio português que junta clínicos, investigadores e académicos quer desenvolver capacidade nacional para produzir terapias inovadoras com células CAR-T, uma forma avançada de imunoterapia que tem demonstrado taxas de sucesso em certos cancros do sangue, foi hoje divulgado.

Consumo de droga em Lisboa aumentou e de forma desorganizada

Uma técnica de uma organização não-governamental (ONG), que presta assistência a toxicodependentes, considerou hoje que o consumo na cidade de Lisboa está a aumentar e de forma desorganizada, com situações de recaída de pessoas que já tinham alguma estabilidade.

Moçambique regista cerca de 25 mil casos de cancro anualmente

Moçambique regista anualmente cerca de 25 mil casos de diferentes tipos de cancro, dos quais 17 mil resultam em óbitos, estimaram hoje as autoridades de saúde, apontando a falta de profissionais qualificados como principal dificuldade.

Ana Povo e Francisco Nuno Rocha Gonçalves: secretários de estados da saúde

O XXV Governo Constitucional de Portugal, liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro, anunciou a recondução de Ana Margarida Pinheiro Povo como Secretária de Estado da Saúde. Esta decisão reflete uma aposta na continuidade das políticas de saúde implementadas no mandato anterior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights