Rafaela L. Miranda: Medical Doctor, MD: Medicina Geral e Familiar; Medicina Estética; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

O que preciso de saber sobre a dermatite atópica?

11/23/2023

A dermatite atópica ou eczema atópico é o tipo mais comum de dermatite. É uma condição inflamatória crónica e recorrente da pele, que se manifesta entre fases ativas e fases de remissão. Tem um impacto físico e psicossocial muito significativo, afetando de modo muito negativo a qualidade de vida e a autoestima dos seus portadores. Estima-se, inclusive, que um em cada quatro indivíduos com a doença sofra de sintomas depressivos relacionados com a mesma. Por outro lado, estes indivíduos têm um risco aumentado para o desenvolvimento de outras patologias alérgicas, como a asma, a rinite alérgica e alergias alimentares.

Carateriza-se por uma interação entre atopia (hipersensibilidade ao ambiente, de origem genética) e desregulação imunológica mediada pela IgE, com predisposição genética e fatores ambientais que levam à disfunção da barreira cutânea e desregulação do sistema imune. Com a disfunção da barreira cutânea, existe uma facilitação na perda de água transepidérmica e a epiderme lesada está mais permeável a agentes irritantes, alergénios e existe uma maior suscetibilidade à ocorrência de infeções

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A dermatite atópica pode afetar todos os grupos etários, embora seja mais frequente na infância (entre os três meses e os dois anos de idade), atingindo, em média, uma em cada cinco crianças, embora ocorra também nos adultos, atingindo, em média, um em cada dez adultos. Cerca de 30% das crianças afetadas continuam a sofrer com a doença em adultos.

O prurido (comichão) é o sintoma que carateriza a doença e pode surgir em qualquer área do corpo. O prurido pode ser acompanhado de outras manifestações cutâneas como vermelhidão, edema (inchaço), xerose (secura de pele), fissuras e lesões descamativas. Até aos dois anos de idade, a dermatite atópica afeta mais a face, couro cabeludo, face anterior dos membros superiores e inferiores. Dos dois até aos doze anos de idade afeta mais o pescoço, face anterior dos membros superiores e posterior dos membros inferiores. A partir dos doze anos e na fase adulta, afeta o rosto, superfícies extensoras dos membros superiores (cotovelos), mãos, superfícies flexoras dos joelhos (face interna do joelho) e face dorsal dos pés.

O que acontece nesta doença é que se gera um ciclo vicioso em que a epiderme está lesada, consequentemente a barreira lipídica da pele está alterada, com xerose e descamação, que provoca prurido, com necessidade de coçar e lesões de coceira, provocando maior inflamação e permitindo a penetração de mais alergénios e patogéneos. Cada indivíduo tem fatores desencadeantes próprios que podem induzir mais frequentemente fases ativas. Contudo, os desencadeantes mais comuns são o stress, determinados tecidos da roupa e de tecidos, tipos de comida, detergentes da roupa, produtos de limpeza ou fatores ambientais.

Apesar de ser uma doença crónica e, portanto, sem cura, pode ser controlada. Em primeiro lugar, os banhos devem ser curtos (idealmente uma vez por dia no máximo), com água morna. Os produtos de higiene devem ser suaves, específicos para pele atópica, sem perfumes. Secar a pele com toalha sem esfregar. E muito importante, aplicar sempre creme emoliente e hidratante. O creme até pode ser aplicado ainda com a pele húmida para favorecer a absorção. Durante a fase aguda, se muito severa, pode ser necessário consultar o seu Médico de Família ou Dermatologista porque podem ser necessários tratamentos adicionais. O objetivo do controlo da doença será interromper o ciclo vicioso que mencionei acima, hidratar a pele diariamente, fornecendo lípidos e hidratação de modo a repor a integridade da barreira epidérmica e prolongar a fase remissiva da dermatite.

Por tudo isto, sabemos que a dermatite atópica não afeta apenas a pele. Diminui a qualidade de vida, afetando as mais diversas áreas como o sono, alimentação e vida social. Contribui para aumentar os níveis de isolamento social, ansiedade e até depressão.

Apesar de ser uma condição crónica, existem vários cuidados que podemos e devemos adotar para diminuir as fases ativas da doença. Fale com o seu Médico/a.

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