OM diz que formação de especialistas é “absolutamente fundamental” para SNS

27 de Novembro 2023

 O bastonário da Ordem dos Médicos manifestou-se hoje preocupado com o número de vagas por preencher no concurso para formação de médicos especialistas, sublinhando que esta é “absolutamente fundamental” para o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde.

Depois de uma reunião no Hospital de Santa Maria, Carlos Cortes deu o exemplo da especialidade de Medicina Interna, que neste hospital apenas viu ocupadas três das 16 vagas que tinha aberto.

“A Ordem dos Médicos está preocupada com a formação médica e fez o seu trabalho”, designadamente identificando um conjunto de vagas a nível nacional (mais de 2.250), disse Carlos Cortes, considerando que, a este nível, o Ministério da Saúde “não fez o seu trabalho”.

Para o bastonário, o Ministério da Saúde “não desenvolveu aquilo que tinha que desenvolver para que mais médicos, em primeiro lugar, ocupassem essas vagas de especialidade e, em segundo lugar, aderissem ao Serviço Nacional de Saúde”.

De acordo com os dados divulgados no fim de semana relativamente ao concurso para a formação de médicos especialistas, apenas 1.836 das 2.242 vagas foram preenchidas.

Os dados do Sindicato Independente dos Médicos indicam que em 2021 tinham ficado por preencher 51 vagas para o internato médico, um número que aumentou para as 161 em 2022 e que este ano mais do que duplicou.

Questionado pelos jornalistas sobre o que acontece a estes jovens médicos que optaram por não escolher a especialidade, Carlos Cortes afirmou que ou emigram ou acabam por exercer como tarefeiros, tanto no SNS como no privado.

“Mas o SNS não precisa de médicos indiferenciados. Precisa de médicos especialistas”, considerou.

Para atrair estes médicos, Carlos Cortes apontou a necessidade de dignificar a carreira médica, melhorar as condições de formação médica e as de investigação.

Reconheceu que é um problema que “não nasceu hoje, nem no último ano”: “É um acumular durante anos e décadas, mas que este Ministério da Saúde não soube resolver”.

A diretora do internato médico de Santa Maria, Filipa Lança, também se mostrou preocupada com o não preenchimento das vagas de especialidade, sobretudo as de Medicina Interna.

“Fico preocupada com o que se está a passar ao nível do país. Se olharmos para a Medicina Interna, foram 58% das vagas que não foram ocupadas, sendo que a Medicina Interna é base da medicina hospitalar”, afirmou.

Sobre o que fez com que se perdesse o interesse por esta especialidade, respondeu: “É uma especialidade com uma grande sobrecarga laboral, sem condições. As urgências, por inúmeras razões, têm uma afluência muito grande, nomeadamente por situações que não deveriam estar direcionadas para as urgências hospitalares, e a medicina interna está sobrecarregada com esta situação”.

Questionada sobre se a abertura de privados acabou por contribuir para a atual situação, reconheceu que sim: “Há melhores condições remuneratórias, melhores condições de trabalho e os formadores vão para esses e outros hospitais ou vão para o estrangeiro”.

Filipa Lança lembrou ainda que estes médicos que agora optaram por não escolher ocupar nenhuma das vagas disponíveis “não deixam de ser licenciados em medicina” e aludiu aos médicos tarefeiros que o sistema contrata para colmatar as falhas nas urgências.

No limite, admitiu, alguns destes médicos que agora recusaram ocupar vagas de Medicina Interna no Santa Maria podem acabar a trabalhar nas urgências deste hospital, como tarefeiros, a ganhar mais do que os internos que escolheram ocupar as vagas.

“Tem de se encontrar maneira de reconhecer o trabalho das pessoas que optam por tirar uma especialização e que essas sejam sempre mais bem remuneradas” do que as que têm menos diferenciação.

Os médicos devem ganhar de acordo com o nível de responsabilidade e de competência que têm e “enquanto não se quebrar esse ciclo não é possível”, concluiu.

LUSA/HN

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